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Denunciante afirma que entregou dinheiro ao PT em São Paulo

por Cristina Sambado - RTP
José Dirceu, que já se encontrava em prisão domiciliária pela condenação no escândalo do “Mensalão”, vai ser transferido para Curitiba Nacho Doce - Reuters

Milton Pascowittch afirmou à justiça brasileira que entregou, na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo, pelo menos 10,5 milhões de reais em dinheiro. Os depoimentos e recibos de pagamentos feitos pelo lobista, denunciante da Operação Lava Jato desde o final de junho, são os principais indícios de corrupção que envolvem José Dirceu, ex-ministro de Lula da Silva detido na segunda-feira.

O empresário, responsável pela aproximação da empresa Engevix ao PT, entregou à justiça recibos de pagamentos.

Segundo o jornal O Globo, de 2009 a 2011, “Pascowittch levou 10 milhões de reais” para pagar alegadas luvas “de um contrato que a construtura Engivex assinou com a Petrobras para construir cascos de oito plataformas de perfuração do pré-sal. Outros 532 mil foram levados à sede do partido como parte de um contrato da empreitada com o governo federal para obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte”.

Já a Folha de São Paulo revela que “entre os documentos apresentados estão comprovativos de pagamentos de despesas pessoais de José Dirceu, ex-número dois do governo de Lula da Silva, e de familiares. Um deles a compra de um apartamento no valor de 500 mil reais para a filha do ex-governante”.

Entre as provas, acrescenta a Folha de São Paulo, estão também “comprovativos de pagamentos pela Jamp Engenheiros Associados, empresa de Milton Pascowittch, no valor de um milhão de reais, entre abril e dezembro de 2011, à empresa JD Assessoria e Consultoria Lda, que pertence a José Dirceu”. No entanto, não houve prestação de serviços do ex-ministro à Jamp.
PT refuta acusações
Rui Falcão, presidente do PT, nega que o partido tenha participado em qualquer esquema de corrupção ou realizado operações financeiras ilegais.

“O Partido dos Trabalhadores refuta as acusações de que teria realizado operações financeiras ilegais ou participado de qualquer esquema de corrupção. Todas as doações feitas ao PT ocorreram estreitamente dentro da legalidade, por intermédio de transferências bancárias, e foram posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral”, afirmou o partido numa nota assinada por Rui Falcão.

O comunicado foi divulgado algumas horas depois de a polícia ter detido José Dirceu, homem forte de Lula da Silva durante o seu primeiro mandato.

O presidente do PT não quis comentar a prisão de José Dirceu afirmando não ter conhecimento do processo.
Dirceu transferido para Curitiba
O ex-ministro José Dirceu, que foi detido preventivamente na segunda-feira no âmbito da Operação Lava Jato, já se encontrava em regime de prisão domiciliária em Brasília pela condenação no escândalo do “Mensalão”. No entanto, o Supremo Tribunal Federal autorizou a sua transferência para Curitiba.

Luís Alberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, aceitou o pedido do juiz do Paraná, Sérgio Moro, responsável pelas investigações do esquema de corrupção da Petrobras, apesar do apelo feito pela defesa de José Dirceu para que o ex-governante se mantivesse em Brasília, revela o jornal Folha de São Paulo.

“Entendo que a concentração dos atos de apuração criminal no foro do juízo que supervisiona o inquérito é perfeitamente justificável, na medida em que lá decorrem as investigações em curso envolvendo as questões imputadas ao arguido”, afirmou Luís Alberto Barroso para justificar a sua decisão.
Advogado fala em decisão política
Roberto Podval, advogado de José Dirceu, considera que a detenção do seu cliente não tinha “definição jurídica” e “mais parece uma justificação política”.

“Dirceu tornou-se um bode expiatório da Operação Lava Jato”, acrescentou.

Para Roberto Podval o juiz responsável pelas investigações do esquema de corrupção na Petrobras “reagiu a uma pressão popular ao decretar a prisão”.

“Obviamente não vou culpar Sérgio Moro, não acho que ele esteja a fazer política, mas acho que como qualquer ser humano, reage à pressão popular. A justificação parece-me um pressão popular”, frisou o causídico.

Segundo o advogado, citado pela Folha de São Paulo, “a prisão de Dirceu já era esperada há meses, de acordo com boatos que corriam nos bastidores da investigação”.

“Eu confesso que já não sei o que é pior. Se é ser preso ou ficar na expetativa de uma prisão. É tão ruim, faz tão mal. Talvez o momento da prisão seja o fim de uma angústia enorme que se vivia ali”, sublinhou.
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