Deputados turcos agridem colegas curdos em plena sessão do parlamento

por RTP
As cenas de pancadaria no parlamento turco têm antecedentes. Aqui, um de Fevereiro de 2015 Reuters

A cena de pancadaria foi desencadeada na sequência de um discurso em que o deputado curdo Ferhat Encü homenageou os civis massacrados pelas forças de segurança. Parlamentares do partido governamental AKP interromperam-no e, na luta que se seguiu, três deputados curdos ficaram feridos.

Segundo o relato do diário turco Hurriyet, o incidente teve origem na intervenção do deputado do Partido Democrático do Povo (HDP)  Ferhat Encü, que homenageou "todos os civiso e crianças massacrados pelos serviços de segurança".

Encü afirmou nomeadamente: "Recordo os civis recentemente massacrados pelo bombardeamento em Silopi [no sudeste da Turquia]. Recordo as 34 pessoas, incluindo crianças, que há quatro anos foram brutalmente bombardeadas por aviões de combate turcos em Roboski". As 34 pessoas a que o deputado se referia eram todas da sua família. Ele acrescentou ainda: "Vocês podem não gostar, mas infelizmente tudo isto é verdade".

Deputados do partido governamental AKP interromperam-no então aos gritos: "És um assassino. Apoias assassinos. És desprezível. És um terrorista e um defensor de assassinos. Devias estar na cadeia. Vieste das montanhas [aludindo às montanhas de Kandil, conhecidas como o baluarte da guerrilha do partido independentista curdo PKK no norte do Iraque]".

Encü respondeu-lhes então: "Os que me acusam de ser um terrorista são os verdadeiros terroristas". Nesse momento, desencadeou-se uma luta física entre deputados do AKP e do HDP. Segundo o site de Der Spiegel, três deputados do HDP ficaram feridos e tiveram de receber tratamento hospitalar.

Encü comentou depois: "Eles tentaram linchar-me por homenagear os civis massacrados pelos serviços de segurança. Eles acham que os militares não matam. Será assim? Se vocês tivessem uma réstia de honradez, não diriam isso a mim, que tive 34 familiares massacrados por agentes da autoridade".

Além dos confrontos no plenário do parlamento, houve outros numa comissão de onde o AKP queria expulsar os jornalistas. O HDP opôs-se à expulsão e voltou a desencadear-se uma luta.

O parlamento era suposto discutir e votar em 29 e 30 de Abril a legislação necessária para assegurar, do lado turco, a circulação de cidadãos da Turquia sem necessidade de visto dentro do espaço de Schengen. Mas o clima de violência obrigou o vice-presidente do parlamento, Ahmet Aydın, a interromper os trabalhos a´té 2 de Maio.
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