Dia da Inauguração, o programa da posse de Donald Trump

Donald Trump torna-se esta sexta-feira o 45.º Presidente dos Estados Unidos. Ao meio-dia, após o juramento, faz o seu primeiro discurso como líder da nação americana.

Vista da Europa, a cerimónia de posse do Presidente norte-americano remete para os livros de História, como um momento anacrónico de folclore de finais do século XIX; desde logo as decorações básicas e ao mesmo tempo sumptuosas da varanda do Capitólio, o edifício do bairro de Capitol Hill que serve como centro legislativo da Administração dos Estados Unidos e divide com a Casa Branca o protagonismo na cidade de Washington DC, a capital federal.

Desde logo a própria designação do momento – Inauguração. Mas não só. O dia da posse do novo inquilino da Casa Branca desenrola-se com a marca de água dos tempos. E tendo em mente que esta América tem uma história de 250 anos é do próprio nascimento da nação de que estamos a falar.

Podemos encontrar o juramento de presidentes noutras latitudes, celebrações, discursos para os compêndios, mas os americanos elevam o momento a outro expoente: investir o novo líder não estará completo sem a banda da Marinha tocar quatro ruffles and flourishes seguido de Hail to the Chief contra um pano de fundo da salva de 21 tiros de canhão, não sem a parada presidencial, em que Donald Trump, a nova primeira-dama, Melania Trump, e o vice-presidente Mike Pence façam a pé a Pennsylvania Avenue, um passeio até à nova morada, na Casa Branca.



Faltam depois os bailes, as dezenas de bailes que animam a noite em DC. Bailes mais ou menos exclusivos, bailes e mais bailes e nos quais se aguardará, se necessário, até altas horas da madrugada, a presença do próprio casal presidencial.No original: I… do solemnly swear (or affirm) that I will faithfully execute the Office of President of the United States, and will to the best of my ability, preserve, protect and defend the Constitution of the United States.

Na realidade, naquilo que é a sua forma mais básica, o dia de posse do líder dos Estados Unidos consiste no simples juramento do Presidente eleito, ato que levará escassos segundos mas que é imperioso cumprir antes que entre em função.

Palavras simples para uma função gigantesca: “Eu… solenemente juro que vou desempenhar fielmente o cargo de presidente dos Estados Unidos, e com o melhor das minhas capacidades preservarei, protegerei e defenderei a Constituição dos Estados Unidos”.

George Washington, primeiro dos 45 presidentes norte-americanos, acrescentou “So help me God” ao primeiro juramento e assim tem sido desde esse dia, 30 de abril de 1789. Ou não, há quem diga que foi Abraham Lincoln que, a 4 de março de 1861, iniciou essa tradição, ou mesmo outros, mais tarde.
O programa

- 6h00 de sexta-feira (hora local): os arredores do Capitólio abrem-se ao público.
- 9h30: começa a ouvir-se música;
- 11h30: arranca a cerimónia do juramento, com as várias personalidades e individualidades a reunir-se na varanda ocidental do Capitólio; o hino americano será entoado por Jackie Evancho, jovem de 16 anos revelada no America’s Got Talent. Segue-se a bênção de seis líderes religiosos;
- 12h00: John Glover Roberts, chefe de Justiça e presidente do Supremo conduz o juramento de Donald Trump; o novo Presidente é saudado pela banda da Marinha e por 21 tiros de canhão, antes de fazer o seu discurso inaugural; Trump procede à revista às Forças Armadas;
- 15h00: O presidente Donald Trump e o vice-presidente Mike Pence iniciam a parada inaugural pela Pennsylvania Avenue, com o passeio a terminar na Casa Branca;
- 19h00: é a hora marcada para o arranque dos bailes inaugurais oficiais, dois no Centro de Convenções Walter E. Washington, outro - dos militares - no National Building Museum - o casal Trump é esperado em todos eles;
- 10h00 de sábado: serviço religioso na Catedral de Washington.


De qualquer forma, o juramento poderia até ser um acontecimento privado, perante meia dúzia de pessoas, não quaisquer uns mas um grupo reduzido, como já aconteceu em momentos de crise, ou em pleno ar, num avião, como após aquele dia do assassinato de JFK em que Lyndon Johnson jurou no Air Force One com a primeira-dama, viúva, a seu lado. Mas os americanos preferem que não seja assim e, podendo, exigem pompa e circunstância.


A Velha Europa, quando é o caso de puxar dos galões da História e faz questão de recuar nas tradições, chega à Grécia Antiga, se for caso disso, ou à fundação de Roma. Talvez por isso os europeus abdiquem agora das idiossincrasias que os podem fazer demasiado velhos.

Já os americanos, jovem nação para os parâmetros de uma Humanidade em idade madura, apegam-se a essa cola que os faz um povo, tradições que uniram e continuam a unir em torno de objectivos comuns. E, fundamentalmente, desse objectivo de fazer uma nação una e sólida, esse equilíbrio fino entre o que é ser um conjunto de territórios ou uma verdadeira federação de valores, crenças e metas comuns. Esse elemento – menos material e mais do domínio das ideias – a que chamamos cultura.

Isso explica porque é que os 30 segundos do juramento presidencial são embrulhados numa agenda complexa, dispendiosa, de horas e horas, muitas das vezes dias, de celebração com pompa e circunstância. É a América a unir-se em torno do líder e a assumir-se povo. Será assim também hoje, neste 20 de janeiro de 2017? A vaga de negas que cobriu de vazios o programa inicial da posse de Trump apontam outro cenário.
Um guião

Com os senadores democratas a demolirem os nomes escolhidos por Donald Trump para a sua Administração – parecem dispostos a aceitar apenas dois deles – o programa de festas, sob a batuta do Joint Congressional Committee on Inaugural Ceremonies e do 2017 Presidential Inaugural Committee, arrancou ontem, às 16h00, com um concerto no Lincoln Memorial.

Tocaram Toby Keith e os 3 Doors Down, mas não só. Quem chegou ao local por acidente, rapidamente percebeu que se tratava do programa de investidura de Trump - o concerto teve por tema “Make America Great Again!” (Tornar a América Grande de Novo!).Fellow Citizens: I am again called upon by the voice of my country to execute the functions of its Chief Magistrate.
George Washington, 4 de março de 1793


Já esta sexta-feira, os arredores do Capitólio abrem-se ao público logo às 6h00 (11h00 em Lisboa), havendo música a partir das 9h30.

Por volta das 11h30, começa a cerimónia propriamente dita do juramento, com as várias personalidades e individualidades a reunir-se em redor da varanda ocidental do Capitólio: na lista estão os presidentes Jimmy Carter, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama, acompanhados das respectivas primeiras-damas. George H. W. Bush e Barbara Bush estarão ausentes por motivos de saúde. Hillary e Bill Clinton foram convidados e também deverão aparecer.

O hino americano vai ser entoado por Jackie Evancho, uma jovem estrela de 16 anos revelada no programa America’s Got Talent. Segue-se a intervenção de seis líderes religiosos, escolhidos por Donald Trump. John Glover Roberts, o atual chefe de justiça dos Estados Unidos e presidente do Supremo, conduzirá então o juramento de Donald Trump, que deve erguer a mão direita e colocar a esquerda sobre duas bíblias: a sua bíblia de infância e a bíblia de Abraham Lincoln, já usada por Barack Obama.

Será por volta do meio-dia. Pronunciadas as 35 palavras, o novo presidente é saudado pela banda da Marinha e pelas 21 salvas, antes de fazer o seu discurso inaugural, o primeiro enquanto 45.º Presidente dos Estados Unidos. Na segunda investidura, George Washington usou apenas 135 palavras. Quantas usará Trump? E mais importante – quais.

Barack Hussein Obama tinha milhões de pessoas ansiosas por assistir àquele que foi o momento histórico em que um negro se tornou no 44.º Presidente dos Estados Unidos. Não pode ainda saber-se que multidão reunirá Donald Trump à sua volta, mas há ecrãs gigantes espalhados pela zona para que ninguém fique às escuras durante o juramento do presidente mais contestado das últimas décadas.

Logo após o discurso inaugural, Trump fará a revista às Forças Armadas. Cumprida mais esta formalidade, o novo presidente e o seu vice Mike Pence têm ainda a parada pela Pennsylvania Avenue, marcada para as três da tarde. Um passeio em que serão seguidos por milhares de militares representando os diferentes ramos das forças armadas do país, bandas do exército, da marinha, da Força Aérea, da polícia e das universidades.


O passeio termina na Casa Branca, mas pelo caminho o Presidente passará ainda por um marco da sua vida civil, um edifício que leva o seu nome, o novo Trump Hotel na Pennsylvania Avenue. Uma marca da sumptuosidade do seu império que está também na factura da tomada de posse: as cerimónias ficarão em 200 milhões de dólares.


Helena Cruz Lopes, Miguel Cervan - RTP

O início dos dois bailes inaugurais oficiais está marcado para as sete da tarde no Centro de Convenções Walter E. Washington. Arranca à mesma hora o baile dos militares no National Building Museum. O casal Trump é esperado em todos eles. E para mostrar os seus dotes na pista, quem sabe. O seu antecessor, Barack Obama, não dizia não a um pezinho de dança. A tradição diz que sim, que o casal Donald e Melania deverão abrir caminho para a pista, mas com Trump nunca se sabe porque a tradição para ele nunca é o que era.

De qualquer forma, não convém ao casal presidencial ficar a pé até tarde, já que no sábado, pelas 10h00, deverão estar presentes no serviço religioso na Catedral de Washington, evento que marca o fim das festividades oficiais.

Entretanto, à mesma hora, devem começar a reunir-se centenas de milhares de pessoas em Capitol Hill para a Marcha das Mulheres sobre Washington, acção de protesto marcada para a uma e um quarto da tarde. São muitas as festas para celebrar a entrada em funções de Donald Trump, mas a eleição de 2016 deixou cicatrizes que abriram o país ao meio e por isso estão também anunciadas esta sexta-feira para Washington muitas manifestações de protesto contra a tomada de posse. Uma marcha de quatro quilómetros por uma das principais avenidas de DC foi programada pelos activistas do DisruptJ20 (Boicotar o 20 de janeiro), apenas um entre os 99 grupos listados e esperados pelas forças de segurança.


Márcia Rodrigues, correspondente da RTP nos Estados Unidos

Outro sinal dessa ferida aberta é o avolumar de recusas que enfrentou Donald Trump no seu programa de festas. De acordo com várias fontes, para assinalar a despedida da Casa Branca, os Obamas contaram com a companhia e/ou performance de Meryl Streep, Paul McCartney, Tom Hanks, George e Amal Clooney, Stevie Wonder, Robert De Niro, George Lucas, David Letterman, Gwyneth Paltrow, Bruce Springsteen, Bradley Cooper, Samuel L. Jackson, Magic Johnson, Jerry Seinfeld e Steven Spielberg. Na despedida. Ora, para assinalar a chegada a DC, Trump enfrentou uma atitude que foi da hostilidade à arrogância quando procurou compor um programa minimamente animado. Os nomes que assentiram atuar para o novo Presidente são ou de segunda linha ou simplesmente desconhecidos do público europeu. Há, claro, o caso das Rockettes. E sim, estarão presentes, mas houve negas e não será todo o grupo a entrar em cena.

A segurança é outro dos pontos-chave desta, como de todas as anteriores, tomada de posse. Fala-se de 30 mil elementos do exército, serviços secretos e outras agências chamados a garantir a segurança da Inauguração de Trump.

Dada a importância do momento, os media têm guias exaustivos para aqueles que querem assistir ao evento. Entre as recomendações deixadas há a indicação das estações e linhas de metro encerradas ou condicionadas em DC; são aconselhadas zonas livres do perímetro em condicionamento electrónico (uma das medidas de segurança) para quem pretende usar serviços de táxi online tipo Uber. Como recomenda a Washington.org, o melhor é usar o metro, a bicicleta ou ir a pé e, de preferência, com calçado confortável.