Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Donald Trump e Hillary Clinton em debate: o manual de instruções para a longa noite da política americana

Depois de meses de confronto na internet, comícios e na comunicação social, chega o dia em que Donald Trump e Hillary Clinton se encontram no mesmo palco. Esta segunda-feira realiza-se o primeiro debate presidencial para as eleições de 2016. Eis o manual de instruções para que esteja devidamente preparado para aquele que promete ser o debate mais visto de sempre.

Noite de segunda-feira em Hempstead, primeiras horas de dia 27 de setembro em Lisboa. De um lado, a mulher que conta 40 anos de política mas que pena em aproximar-se dos cidadãos. Do outro, o homem que se apresenta como alternativa, soma controvérsias e alimenta polémicas a cada discurso.
O debate entre Hillary Clinton e Donald Trump tem transmissão na RTP3. A emissão especial começa à 1h30.

Os dois em confronto direto pela primeira vez, sob o olhar atento de – indicam as previsões – 100 milhões de pessoas.

O primeiro debate entre candidatos à Presidência dos Estados Unidos realiza-se já esta segunda-feira, a pouco mais de um mês de os norte-americanos serem chamados a votar.

O primeiro debate chega num momento em que várias sondagens apontam para um empate técnico. Apesar de Hillary se manter na frente na maioria delas, os dois candidatos estão incrivelmente próximos. Próximos nos números, diferentes nas atitudes, ideias e palavras.

A América dividida entre duas escolhas completamente distintas.


1. Como, quando, onde?
2. O jogo de Hillary Clinton
3. O jogo de Donald Trump
4. O que mostram as sondagens
 


Como, quando, onde?
O primeiro combate entre candidatos à Casa Branca tem início marcado para as 21h00 desta segunda-feira (2h00 de terça-feira em Lisboa). A Universidade Hofstra em Long Island volta a acolher um debate presidencial, depois de também ter sido um dos palcos em 2008 e 2012.

O confronto durará 90 minutos, separado em seis segmentos de 15 minutos, e não terá intervalo comercial. Em debate estarão três temas, suficientemente genéricos para permitir divagações.

A direção da América, a prosperidade e a segurança foram as temáticas escolhidos, dando a entender que o debate se focará essencialmente nas questões económicas e de segurança. Cada assunto será discutido durante 30 minutos.Os restantes debates entre os dois pretendentes ao lugar de Barack Obama realizam-se a 9 e 19 de outubro. No dia 4 de outubro realiza-se um debate entre os dois candidatos a vice-presidente.

Cada segmento é iniciado com uma pergunta aos candidatos que terão dois minutos para responder, podendo depois reagir à explicação do oponente.

Este primeiro de três confrontos entre Donald Trump e Hillary Clinton é moderado pelo jornalista Lester Holt, apresentador do noticiário da NBC. Holt tem 57 anos e foi já o moderador de um dos debates das primárias do Partido Democrático.

Os restantes debates realizam-se a 9 e 19 de outubro. No dia 4 de outubro é a vez dos dois candidatos a vice-presidente, o democrata Tim Kaine e o republicano Mike Pence, apresentarem argumentos.

Entre os candidatos presidenciais, apenas Donald Trump e Hillary Clinton participam no debate. O libertário Gary Johnson e o ecologista Jill Stein estão abaixo dos 15 por cento de intenções de voto definidos como mínimo para a participação nos confrontos televisivos.

O debate será transmitido por grande partes das estações televisivas norte-americanas, nomeadamente a CNN, NBC e FoxNews.


O jogo de Hillary Clinton
“Quando os projetores se ligam e que a pressão é máxima, é aí que ela sai com os seus trunfos”. O retrato de Hillary é feito a poucas horas do debate pelo seu candidato a vice-presidente. Tim Kaine consagra aquela que é uma das grandes diferenças entre a democrata e o candidato republicano.

Hillary Clinton tem a experiência do confronto político, conhece os temas, foi secretária de Estado e primeira-dama. Conta com uma longa participação em confrontos televisivos, nomeadamente contra Barack Obama em 2008. Clinton tem muito do seu lado, talvez por isso seja também quem mais tem a perder.

Apesar da experiência, a candidata democrata não desvaloriza a preparação. A ex-primeira-dama tem ficado por casa a estudar as diferentes facetas que Donald Trump poderá assumir.

O objetivo parece ser fazê-lo descarrilar, mostrando que Trump não tem o temperamento necessário para ser Presidente dos Estados Unidos. Afinal, a pouco mais de um mês das eleições norte-americanas, um momento de loucura televisiva de Donald Trump seria um importante contributo para a candidatura democrata.

O objetivo de Hillary Clinton passará também por lançar um verdadeiro fact-check ao candidato republicano. O objetivo é apontar as contradições e mentiras do discurso de Donald Trump.

“Parece-me que o que é preocupante com Donald Trump é, em primeiro lugar, o fato de ele não falar verdade frequentemente”, explicou o diretor de campanha de Hillary à CNN. A candidata terá por isso “de gastar algum tempo a corrigir os registos e certificar-se que os votantes compreendem os factos”.

Aliás, a campanha de Hillary divulgou já uma lista do que aponta como algumas das mentiras que têm sido referidas por Trump. Um outro artigo, publicado a 15 de setembro, elenca as frases e ações do republicano que poderiam desqualificá-lo da corrida presidencial.

A candidata democrata é, aparentemente, quem tem a tarefa mais fácil, tendo por base a sua experiência tanto nas matérias em análise como no próprio modelo de confronto. Por isso mesmo, é também quem tem a fasquia mais alta e quem tem mais a perder: qualquer pequeno sinal de fraqueza poderá ser tomado como uma grande vitória pelo adversário.

Um triunfo no debate assume-se como essencial para inverter a tendência nas sondagens, virar a página da discussão sobre a sua saúde e aproximar-se dos norte-americanos.

Afinal, se 88 por cento dos norte-americanos a consideram inteligente, há 65 por cento que acreditam que não é honesta e mais de 50 por cento que têm uma opinião negativa sobre ela, vendo-a como uma pessoa fria. O assunto dos e-mails, os problemas de saúde e as ligações à alta finança continuam a ser questões por resolver.


O jogo de Donald Trump
Se Clinton é apresentada como rainha política do debate televisivo, também não pode ser descurada a experiência de Trump à frente das câmaras. O magnata de 70 anos, que traz consigo uma longa carreira em programas de televisão, tem agora a tarefa de vestir um fato presidencial.

Depois de meses e meses de campanha polémica, Donald Trump precisa de provar que consegue ter uma postura presidencial e que não é apenas um fenómeno de campanha.
 
O seu primeiro debate presidencial apresenta-se como uma grande oportunidade para mostrar um novo Trump perante uma audiência estimada em mais de 100 milhões de pessoas.

Segundo The Guardian, Donald Trump aposta menos na preparação que a sua adversária. O republicano terá iniciado os treinos apenas na última sexta-feira e, refere a AFP, não quis fazer ensaios com uma falsa Hillary. Trump terá sim recorrido ao visionamento de prestações da candidata democrata em anteriores debates.

Mesmo assim, o magnata norte-americano manteve algumas ações de campanha desde sexta-feira, nomeadamente um comício que decorreu sábado na Virgínia. Num e-mail enviado aos apoiantes, não se esqueceu de beliscar a adversária.

“Enquanto Hillary está a ouvir a sua equipa de psicólogos e conselheiros para que lhe ensinem o que deve dizer, eu estou com as pessoas que me trouxeram onde estou hoje: vocês!”, escreveu.

Donald Trump prometeu já debater de forma limpa, e tratar a adversária com “respeito”. Questionado sobre se traria a debate as aventuras extraconjugais de Bill Clinton, Donald respondeu que não.

O tema, no entanto, acabou por entrar na agenda mediática nas últimas horas. O candidato republicano ameaçou através do twitter convidar Gennifer Flowers, amante de Bill Clinton na década de 70, a sentar-se na primeira fila do debate. Em resposta, Flowers, também via twitter, garantiu que estava pronta para aparecer.

A campanha de Trump acabou por negar que tivesse sido feito um convite, mas sublinhou que a ex-amante tem “o direito de aparecer caso outra pessoa lhe dê um bilhete”.

O fait-divers não passou despercebido à campanha de Hillary Clinton. O responsável pela campanha da democrata referiu que todo este caso mostra “o tipo de líder que Trump seria” caso fosse eleito.

“Tem muita experiência no que diz respeito ao divertimento. A presidência não é um divertimento”, insistiu Robby Mook.

Um caso que só vem aumentar a necessidade de Donald Trump vestir um fato presidencial no debate de segunda-feira. O magnata precisa de mostrar que tem postura e personalidade para assumir o lugar de Barack Obama na Sala Oval.


O que mostram as sondagens?
A poucas horas do primeiro debate, Hillary Clinton mantém-se na frente das sondagens mas, claramente, não pode cantar vitória. Longe vão os tempos em que a ex-secretária de Estado tinha uma vantagem confortável sobre o candidato.

Donald Trump está a recuperar nas intenções de votos e, em algumas projeções, até aparece à frente de Hillary Clinton. Na maioria dos casos, a diferença de votos entre os dois encontra-se dentro da margem de erro. Ou seja, a situação é de empate técnico.

Na avaliação da Real Clear Politics – que agrega os resultados de diferentes sondagens – Hillary Clinton aparece com uma vantagem de 2,5 pontos percentuais (46,2 por cento vs 43,7 por cento), registando já uma pequena recuperação depois da descida que teve início em agosto.

Na última sondagem da Morning Consult, Clinton aparece com uma vantagem de dois pontos percentuais (44 por cento vs 42 por cento), tal como na última sondagem ABC News/Washington Post (46 por cento vs 44 por cento).
 
Na última avaliação do LA Times, Trump aparece com uma vantagem de quatro pontos percentuais (42 por cento vs 46 por cento).

Tendo em conta os resultados das diferentes sondagens, The New York Times considera que Hillary Clinton tem 71 por cento de hipóteses de ser a próxima inquilina da Casa Branca.

O jornal norte-americano anunciou recentemente que apoia a candidata democrata, elogiando a sua “experiência, intelecto e coragem” e classificando Donald Trump de “pior candidato” nomeado por um grande partido americano na história recente do país.
100 milhões de telespetadores
São candidatos muito diferentes, talvez mesmo antagónicos, que agregam intenções de voto invulgarmente próximas. Uma mistura que poderá bem tornar este primeiro debate no mais visto de sempre: mais de 100 milhões de telespetadores.

São números de audiência apenas conseguidos com eventos como o Super Bowl ou finais de grandes séries televisivas. Tal como no prova rainha do desporto norte-americano, há já marcas a investir em publicidades que se inspiram no confronto, como a Audi.

A grande exceção é que o debate não terá um intervalo comercial. Mesmo assim, as televisões já arrecadaram milhões de dólares com a venda de espaço publicitário para o antes e depois do debate.

Poderá ser um turning point na corrida à Casa Branca. Afinal, estão em confronto duas personalidades completamente diferentes, mas que penam por conseguir aproximar-se dos norte-americanos.

Os números assim o confirmam: 52 por cento tem uma opinião negativa de Clinton, 61 por cento tem uma opinião negativa de Trump. Apesar dos números, tudo indica que um deles será o próximo Presidente dos Estados Unidos da América.

Fotografias: Jim Young, Mike Blake, Lucy Nicholson, Jim Urquhart, Jonathan Ernst, Carlos Barria, Rick Wilking - Reuters