Donald Trump: endividado ao inimigo

por RTP
Eric Thayer, Reuters

O candidato republicano, que deve parte do seu êxito à imagem de empresário bem sucedido, deve uma outra parte a credores muito mais palpáveis: bancos, que ele próprio tem atacado com veemência durante a campanha. Donald Trump morde várias mãos que lhe emprestam dinheiro.

O inventário das dívidas de Donald Trump pode não ser completo e outras partes do iceberg poderão existir para além dessa ponta visível. Mas, para já, uma investigação do diário norte-americano New York Times (NYT), assinada pela jornalista Susanne Craig, apurou que empresas pertencentes ao flamante candidato somam 650 milhões de dólares de dívidas - o dobro daquilo que, legalmente, ele é autorizado a angariar para gastos de campanha.

Tão interessante como o valor da dívida contabilizada é a identidade de alguns dos credores. Assim, segundo o NYT, Trump é coproprietário de 30 por cento de um edifício em São Francisco que está hipotecado por 600 milhões de dólares. Detém igualmente uma quota de 30 por cento num edifício de escritórios situado em Manhattan, no coração de Nova Iorque, que está hipotecado por 950 milhões de dólares. Entre os credores estão o Bank of China, um dos maiores bancos da China, e o Goldman Sachs, um dos maiores dos EUA.

Como observa Craig, Trump tem atacado a China como um dos grandes inimigos dos Estados Unidos e tem atacado o Goldman Sachs como entidade que controlaria a candidata democrata, Hillary Clinton, por lhe ter pago 675.000 dólares de honorários por diversos discursos pronunciados. A acuidade da crítica dirigida à candidata empalidece agora, à vista do montante devido ao Goldman Sachs num só edício de Trump e outros.

A investigação publicada no NYT recorda que na fase inicial da sua campanha Trump tornou público um formulário entregue ao fisco sobre a sua situação financeira, com uma extensão de 104 páginas. Aí admitia dívidas no valor de 315 milhões de dólares a um grupo limitado de credores e ligações a cerca de 500 sociedades por quotas.

O NYT considera esta estimativa incompleta, não por deturpação intencional do candidato, mas por se tratar de um formulário pensado para pessoas com situação financeira muito mais linear, e portanto inadequado para captar todas as complexidades de um património como o de Trump.

Ao debruçar-se sobre essas empresas, o NYT concluiu agora que as dívidas visíveis de Trump totalizam mais do dobro das que foram declaradas e, além disso, que uma parte significativa da sua fortuna está ligada a três sociedades que devem mais 2.000 milhões de dólares a uma série de credores, em parte coincidente com a lista de credores identificada no edifício de Manhattan.

A organização de campanha de Trump reagiu a essas revelações afirmando que, em caso de incumprimento do serviço dessa dívida, os bens de Trump não seriam, em caso algum, cativados para os pagamentos em falta. Um outro colaborador de Trump, Allen Weisselberg, principal responsável financeiro da sua organização empresarial, afirmou, por seu lado, que o patrão poderia ter deixado em branco a parte do formulário que se referia às dívidas e nem sequer mencionar o 315 milhões de dólares referidos atrás - isto porque os candidatos presidenciais só são obrigados a revelar as suas dívidas pessoais e não as dívidas de empresas suas.

Ora, acrescentou Weisselberg, Trump não tem dívídas pessoais. Por isso, sustentou também, no preenchimento do formulário "nós revelámos mais do que era preciso".

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