Durão Barroso pede à Europa para se tornar numa “federação de Estados-Nação”

por RTP
Patrick Seeger, EPA

O presidente da Comissão Europeia defendeu, esta quarta-feira, que a UE deve aprofundar a sua união política, de modo a evoluir para "uma federação de Estados-Nação". No discurso anual do Estado da União perante o Parlamento Europeu, Durão Barroso expôs a visão da Comissão, que passa por cada país abdicar de mais soberania e caminhar no sentido da integração total.

Barroso insistiu que não estava a apelar à criação de “um superestado” europeu, mas afirmou que a União Europeia seria sempre menos do que a soma das suas partes, a menos que a união fosse aprofundada.
Barroso: "Não tenhamos medo das palavras"
“Não tenhamos medo das palavras. Temos de evoluir para uma federação de Estados-Nação. É esse o nosso horizonte político. É isso que tem de guiar o nosso trabalho nos próximos anos” disse aos deputados o presidente da Comissão Europeia.

“Uma federação democrática de Estados-Nação pode lidar com os nossos problemas comuns, através de uma partilha da soberania, para que cada país e os seus cidadãos estejam melhor equipados para controlar o seu próprio destino”, disse Barroso, na que parece ser uma das mais fortes defesas até agora do modelo federal europeu.

O presidente da Comissão Europeia disse que a União Europeia terá dificuldades em competir numa era de globalização, a menos que esteja preparada para reunir os seus recursos e agir como uma única entidade.

“Eu disse uma federação de Estados-Nação, porque nestes tempos turbulentos, não devemos deixar a defesa da nação apenas aos nacionalistas e aos populistas “, disse, "acredito numa Europa em que as pessoas têm orgulho das suas nações mas também orgulho de serem europeus”, acrescentou.
Proposta implica nova revisão do Tratado Europeu
Barroso admitiu que esta visão iria implicar mais uma revisão do Tratado Europeu, o conjunto fundamental de leis que governam a forma como a União Europeia é gerida.

Apelou também ao lançamento de “um amplo debate” em toda a Europa, envolvendo os cidadãos, sobre como pode a União competir com os seus  principais parceiros comerciais, Estados Unidos e China à medida que progride o século XXI.

“Muitos dirão que isto [a proposta da Comissão] é demasiado ambicioso, que não é realista”, disse Barroso, mas deixem-me perguntar-vos isto: É realista continuar como temos vindo a fazer? É realista ver mais de 50 por cento dos jovens sem emprego nalguns dos nossos Estados membros?”

“O caminho realista para avançar é aquele que nos torna mais fortes e mais unidos. Realismo é colocar a nossa ambição ao nível dos nossos desafios”, acrescentou.
Ideias de Barroso geram "anticorpos" até no campo europeísta
O apelo de Durão Barroso corre o risco de esbarrar na mais completa oposição de uma parte dos membros da União, que, tal como a Grã-Bretanha, são contrários a mais transferências de poderes para Bruxelas e defendem até a recuperação de alguns dos que atualmente foram perdidos pelos governos e parlamentos nacionais.

Alguns dos membros do Parlamento Europeu reagiram de imediato contra as palavras de Barroso, incluindo alguns europeístas convictos, como o antigo primeiro ministro belga Guy Verhofstadt. Segundo eles, a Europa precisa de aprofundar a estrutura que já foi erguida, e não tornar-se numa federação de Estados-Nação.



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