Economia, Brexit, Síria e Ambiente: a cimeira do G20 em oito pontos essenciais

por Christopher Marques - RTP
As potências económicas alertam para a necessidade de se apostar na inovação, mas não esquecem os constrangimentos económicos Jonathan Ernst - Reuters

Na China, o G20 mostrou intenções e desejos: combater o populismo antiglobalização e os paraísos fiscais. Os líderes mundiais abandonaram Hangzhou sem decisões para a Síria ou para o futuro do Reino Unido. A boa notícia vai para os avanços em relação ao acordo de Paris.

São as maiores potências económicas do mundo, responsáveis por mais de 80 por cento do comércio internacional e mais de 85 por cento do Produto Interno Bruto. Em Hangzhou desenham-se diagnósticos e apresentam-se intenções.

As potências económicas alertam para a necessidade de se apostar na inovação, mas não esquecem os constrangimentos económicos e frisam a necessidade de manter o rácio da dívida pública em valor sustentáveis.

Perante o crescimento dos movimentos populistas, o G20 admite os problemas da globalização e foca-se na necessidade de promover os seus benefícios e de fazer com que estes cheguem a todos. A incerteza permanece em grandes temas mundiais como o conflito na Síria e o Brexit.

Nas boas notícias encontra-se a ratificação do Acordo de Paris por Pequim e Washington: dois países que representam mais de um terço das emissões poluentes.
Inovar para a nova revolução industrial
De olhos postos na quarta revolução industrial, os líderes das principais potências mundiais despediram-se esta segunda-feira da cidade chinesa de Hangzhou. Para o G20, não bastam as “medidas fiscais e monetárias”. É necessário apostar na inovação.

“A experiência mostra que a velha abordagem de depender exclusivamente de políticas monetárias e fiscais não funciona mais. Precisamos de reacender o motor do crescimento através da inovação”, defendeu o Presidente chinês no final da cimeira.

Xi Jinping evidenciou o acordo alcançado entre os líderes das principais potências mundiais, tendo apelidado o mesmo de “Consenso de Hangzhou”. Um acordo que pretende revitalizar a economia global, oito anos depois do início da crise financeira internacional cujo efeitos ainda perduram.

O G20 aposta numa “melhor coordenação da ação pública”, assumindo a necessidade de investimento público em áreas estratégicas.

Não esquecendo a continuação de “reformas estruturais” e a manutenção da dívida em níveis sustentáveis, os líderes mundiais comprometem-se a utilizar a “política orçamental de forma flexível”, dando prioridade a “investimentos de alta qualidade”.
Uma nova imagem para a globalização
O Consenso de Hangzhou aposta na criação de condições favoráveis a um crescimento “robusto, durável, equilibrado e solidário”, assumindo nomeadamente a defesa da abertura dos mercados e a rejeição ao protecionismo.

Uma economia global que se pretende “aberta a todos”, que responda às “necessidades de todos” e que seja benéfica para todos. “Particularmente das mulheres, jovens e dos mais desfavorecidos, criando mais emprego de qualidade, agindo contra as desigualdades e erradicando a pobreza”.

Reportagem de Daniel Pessoa e Costa e Miguel Teixeira - RTP

Entra aqui o objetivo de combater as correntes que se opõe à livre-circulação, bem como a desconfiança dos cidadãos em relação à globalização que tem ficado patente em manifestações e no crescimento de forças populistas.

Nas palavras da diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, a globalização deve “trazer benefícios a todos e não apenas a alguns”.

O objetivo é também conseguir “identificar melhor os benefícios do comércio de forma a responder às críticas populistas e fáceis contra a mundialização”. Um pensamento com o qual a chanceler alemã parece concordar: “a globalização não tem apenas uma conotação positiva”, admite.

“A luta contra as desigualdades é um tema importante para de forma duradoura associar crescimento e justiça social”, afirma Angela Merkel, um dia depois de o seu partido ter sido ultrapassadp pela extrema-direita populista nas eleições regionais de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.
Brexit e a incerteza total
Mantém-se a incógnita total quase três meses depois de os britânicos terem aprovado a saída do Reino Unido da União Europeia. O tema não foi esquecido no G20, com as potências mundiais a pressionarem Londres.

Afinal, o Governo britânico ainda não avançou com o pedido formal de saída, a partir do qual começam as negociações que prometem ser longas e controversas.

O comunicado da cimeira de Hangzhou refere que o Brexit traz “incerteza” à economia mundial, apesar de frisar que as potências estão preparadas para responder “de forma proactiva às eventuais consequências económicas e financeiras” da saída. O G20 deseja que o Reino Unido permaneça como um importante parceiro da União Europeia.

A primeira-ministra Theresa May não especifica como será a relação entre Londres e Bruxelas, não pretendendo seguir qualquer dos modelos até agora existentes – como os acordos do bloco europeu com o Canadá ou a Noruega.

A sucessora de David Cameron deixa a indicação de querer tornar o Reino Unido o “líder mundial do livre comércio”, elogiando os vastos acordos comerciais que poderão ser estabelecidos. As respostas não são, por enquanto, animadoras.

Jean-Claude Juncker já recordou que, enquanto se mantiver nos 28, Londres não tem o poder de negociar acordos comerciais. Barack Obama também já descartou o estabelecimento de qualquer acordo com Londres enquanto não estiver fechado o processo do Tratado Transatlântico de Livre-comércio com a União Europeia (TTIP).

As más notícias chegam também do Oriente. O Governo japonês admite que as suas empresas possam sair do Reino Unido perante a incerteza e mudanças bruscas.
Síria sem solução
As reuniões realizaram-se entre Moscovo e Washington à margem do G20 mas sem fumo branco. A diplomacia norte-americana e russa mostraram-se incapazes de chegar a acordo para um novo cessar-fogo na Síria.

Reportagem de João Botas, Miguel Teixeira - RTP

Apesar de não haver nada de concreto, Barack Obama e Vladimir Putin apontam para um aproximar de posições e mostram-se otimistas quanto a futuras conversações. O Presidente russo afirma mesmo que poderá ser fechado um acordo “nos próximos dias”.

O futuro de Bashar al-Assad mantém-se como um dos pontos de desacordo entre Washington e Moscovo, com a Federação Russa a defender a sua permanência no poder. Por sua vez, a Turquia propôs o estabelecimento de uma “zona de exclusão aérea” no norte da Síria.
Combate aos paraísos fiscais
Os dirigentes do G20 encarregaram a OCDE de entregar ao grupo no próximo ano uma lista negra de países que não colaboram na luta contra a evasão fiscal, após a cimeira realizada na China.

O objetivo é que a “lista de países que não progrediram para atingir um nível satisfatório de aplicação de normas internacionais reconhecidas sobre a transparência fiscal” seja entregue até à cimeira do G20 de julho de 2017.

O diretor do centro de política e de administração fiscal da OCDE acredita que estar na lista negra “terá um impacto devastador na economia dos países citados".
Refugiados: "preocupação mundial"
A crise de refugiados é apontada pelo G20 como um assunto de “preocupação mundial”. Perante a maior crise desde o fim da II Guerra Mundial, as potências mundiais apelam à “coordenação de esforços à escala mundial” e à “partilha dos custos”.

No comunicado final da cimeira, o G20 pede o “reforço da ajuda humanitária” bem como a intensificação dos esforços que conduzam a “soluções duráveis”. As potências comprometem-se a voltar a abordar este assunto, bem como as questões migratórias, em 2017.
Acordo de Paris mais perto

Os temas ambientais são uma das vitórias da cimeira do G20 e aquele em que foram dados passos concretos. Os Estados Unidos e a China ratificaram o Acordo de Paris, dando um novo peso ao combate às alterações climáticas e facilitando uma pronta entrada em vigor.

Afinal, o Acordo de Paris deverá substituir o Protocolo de Quioto, mas a sua entrada em vigor depende da ratificação por parte de pelo menos 55 países que representem 55 por cento das emissões de gases com efeito de estufa. Pequim e Washington representam 38 por cento das emissões mundiais.

As dezanove potências mundiais e a União Europeia acordaram em “finalizar os respetivos procedimentos internos” para aderir ao Acordo de Paris. “Acolhemos favoravelmente os esforços realizados para permitir a sua entrada em vigor até ao fim de 2016”, lê-se no comunicado final.
Partida sem incidentes

A chegada de Barack Obama ao seu último G20 como Presidente dos Estados Unidos ficou marcada por diversos incidentes. As autoridades chinesas não disponibilizaram nenhuma escada para permitir a saída do Presidente norte-americano pela porta principal, com Obama a ser forçado a sair por uma porta secundária situada na parte de trás do Air Force One.

Para além de os jornalistas terem sido mantidos a uma distância considerável do chefe de Estado, a conselheira de Segurança Nacional de Obama foi ainda travada pelas autoridades chinesas, depois de ter mergulhado por baixo de um cordão de segurança.

Incidentes à parte, a partida correu como seria de esperar, sem que dela houvesse ato de notícia. O aeroporto providenciou uma escada para que o presidente pudesse entrar no avião pela porta principal.
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