Eleições autárquicas no Reino Unido ensombradas por campanha do referendo europeu

por Lusa

Londres, 02 mai (Lusa) - Os britânicos vão a votos na quinta-feira para escolher autarcas em Inglaterra, parlamentares na Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, comissários de polícia e o presidente da Câmara de Londres e outras cidades.

Apesar da dimensão e da importância para a política interna, as eleições têm sido ensombradas pelo debate em torno do referendo à saída do Reino Unido da União Europeia, no dia 23 de junho.

Estas serão as primeiras eleições após as legislativas de 2015, pelo que serão um teste para o maior partido da oposição, o partido Trabalhista, cujo novo líder, Jeremy Corbyn, continua a ser motivo de reservas dentro e fora do "Labour" devido às suas posições vincadamente de esquerda.

Um dos principais campos de batalha decorre na capital britânica, onde Sadiq Khan, um antigo secretário de Estado do governo de Gordon Brown, vai tentar reconquistar a capital britânica para os trabalhistas.

Zac Goldsmith terá a tarefa de tentar herdar o posto de "mayor" ocupado durante oito anos pelo também Conservador Boris Johnson, atualmente um dos protagonistas na campanha no referendo a favor da saída da UE.

O contraste não podia ser maior entre os dois principais candidatos: Sadiq Khan, muçulmano e advogado de direitos humanos, é filho de um motorista de autocarro e de uma costureira imigrantes do Paquistão.

Zac Goldsmith, deputado pela área afluente de Richmond Park, é filho de um empresário financeiro bilionário.

As sondagens apontam para uma vitória de Khan, que tem centrado a campanha na necessidade de reduzir o custo do alojamento em Londres.

Outra eleição onde o desempenho do partido Trabalhista estará sob observação será na Escócia, onde a sua influência tem vindo a decrescer nos últimos anos.

O partido Nacionalista Escocês vai tentar aumentar ainda mais a maioria absoluta, mas a dúvida é à custa de quem, se do "Labour" ou dos Conservadores.

No País de Gales, o partido Trabalhista deverá manter a maioria, mas os Conservadores e os nacionalistas do Plaid Cymru poderão conquistar lugares.

Na Irlanda do Norte, não se esperam também grandes mudanças à configuração atual de governo, que junta em coligação os antigos rivais, o Partido Democrático Unionista e o republicanos do Sinn Féin.

Nas eleições locais em Inglaterra, serão milhares de lugares em pequenas autarquias locais, bem como em alguns dos municípios das maiores cidades, como Birmingham, Manchester ou Newcastle.

Serão também eleitos ainda 40 Comissários de Polícia e Crime, figuras criadas em 2012 para definir as orientações de política de segurança e escolher os chefes de polícia, e cuja existência continua a ser motivo de controvérsia.

Para Corbyn, um desempenho negativo nas eleições locais, tradicionalmente ganhas pelos partidos da oposição, irá aumentar a pressão dos críticos à sua liderança.

"Seria quase sem precedentes, um partido da oposição perder lugares para o partido do governo. Um mau desempenho pode ajudar dissidentes a tentar montar um golpe para derrubar Corbyn", comentou o politólogo Tony Travers, professor na universidade London School of Economics.

Outra potencial leitura será o desempenho do UKIP, o partido eurocético que não conseguiu eleger mais do que um deputado nas eleições legislativas, mas que tem hipótese de obter melhores resultados a nível local.

Um aumento de popularidade poderá ser entendido como um sinal do espírito dos eleitores sobre o referendo que se realizará apenas sete semanas mais tarde.

Tópicos
pub