Em New Hampshire, um novo aviso aos candidatos do "establishment"

por Andreia Martins - RTP
Bernie Sanders foi um dos vencedores da noite. A mensagem "revolucionária" do candidato conseguiu uma vantagem de dois dígitos para Hillary Clinton, a grande favorita entre os democratas. Shannon Stapleton, Reuters

Bernie Sanders e Donald Trump foram os grandes vencedores da noite na segunda etapa das eleições primárias, nos Estados Unidos. Nos respetivos campos partidários, os dois candidatos conseguiram impor-se de forma destacada perante os principais favoritos às eleições gerais. Outrora um lugar de boas recordações para os Clinton, Hillary sai de New Hampshire com uma pesada derrota e a difícil missão de relançar a campanha.

Dois Estados, dois resultados completamente diferentes. Após os alertas de Iowa, a ameaça foi mais percetível nas eleições primárias de New Hampshire, que decorreram na noite de terça-feira.
Márcia Rodrigues, Ricardo Guerreiro - RTP

Há uma semana, no arranque das eleições internas dos partidos rumo à eleição final, marcada para 8 de novembro, Hillary Clinton foi capaz de garantir uma vitória por décimas. Por seu lado, Ted Cruz conseguiu ultrapassar a supremacia de Trump e assegurou uma ligeira vantagem. Mas no Estado de New Hampshire a história foi diferente. 
Trump regressa em força

Do lado republicano, era esperada a vitória de Donald Trump por uma larga margem, num Estado onde era líder das sondagens há mais de sete meses consecutivos. Alcançou um resultado de 35,3 por cento, muito à frente do segundo candidato com mais votos. 

Depois do resultado pouco satisfatório em Iowa, os apoiantes de Trump temiam que a campanha perdesse força. Mas o magnata dos negócios voltou às luzes da ribalta, sempre igual a si próprio. No discurso de vitória, Donald Trump mostrou estar mais preocupado com o resultado alcançado por Bernie Sanders do que com os seus adversários diretos.

“Temos de dar os parabéns a Bernie. Mas ouvi partes do seu discurso. Ele quer dar o nosso país! Não podemos deixar que isso aconteça. (…) O mundo vai respeitar-nos novamente”, prometeu o milionário.


"Vamos fazer da América um grande país, novamente. Mas vamos fazê-lo à antiga", disse o magnata nova iorquino, no discurso onde agradeceu aos apoiantes. Mike Segar - Reuters

John Kasich, governador em Ohio, antigo membro do congresso e um perfeito desconhecido por grande parte dos eleitores, foi a grande surpresa da noite, ao chegar aos 15,8 por cento. 

Kasich é um candidato discreto e apresenta posições moderadas quanto aos principais temas da campanha. Não sendo uma das escolhas do establishment do partido, o governador vai tentar capitalizar o bom resultado de terça-feira contra os favoritos e adversários mais diretos, nomeadamente Marco Rubio, que ficou em terceiro no caucus de Iowa mas sai de New Hampshire penalizado por uma prestação atrapalhada no debate republicano do passado fim-de-semana.

Ted Cruz, que venceu em Iowa, conquistou apenas o segundo lugar, com 11,7 por cento. Atrás surge Jeb Bush, que alcança um bom resultado, tendo em conta os fracos desempenhos nas sondagens. 
Problemas para Hillary?

Era um pequeno passeio mas assemelha-se cada vez mais a uma corrida olímpica. Hillary Clinton, grande favorita do Partido Democrata, vê a campanha cada vez mais ameaçada pela ascensão de Bernie Sanders.  

O “democrata-socialista”, como o próprio faz questão de ser identificado, venceu as primárias em New Hampshire com uma vantagem que faz abalar os alicerces consolidados pelos Clinton. 

“Isto não é nada menos do que uma revolução política. Juntos, enviámos uma mensagem que vai ressoar de Wall Street a Washington. O Governo pertence a todas as pessoas”, disse Sanders, no discurso de vitória. 

Os resultados de terça-feira convidam à reflexão sobre o que poderá estar a falhar na campanha da antiga primeira-dama, num Estado que até trazia boas recordações à candidata e ao marido. Hillary venceu as primárias de New Hampshire em 2008 frente a Barack Obama e foi também esse Estado a rampa de lançamento para Bill Clinton nas eleições de 1992. 

Perante os apoiantes, Hillary Clinton prometeu "reerguer-se" da pesada derrota. Foto: Adrees Latif - Reuters

“Após uma vitória inesperada em New Hampshire, em 2008, Hillary Clinton disse que «tinha encontrado a sua voz». Deixou o Estado de New Hampshire na terça-feira à noite, depois de uma derrota de dois dígitos, ainda à procura”, diz esta quarta-feira o New York Times.

Na terça-feira, Bernie Sanders venceu em praticamente todas as categorias, por região e por faixa etária. 

Clinton perdeu em praticamente todos os círculos eleitorais. Só entre os eleitores com mais de 65 anos e com mais posses Hillary Clinton conseguiu melhores resultados. De resto, obteve apenas 16 por cento dos votos entre os jovens até aos 29 anos e 32 por cento nas idades entre 30 e 44 anos.

Sinal da crescente ameaça do candidato democrata foi a entrada em campanha de Bill Clinton, em plena véspera das votações em New Hampshire. O antigo Presidente dos Estados Unidos acusou Bernie Sanders e apoiantes de “desonestidade” e “comentários sexistas”.  

A escalada na linguagem utilizada evidencia a frustração que se vive entre os apoiantes de Clinton e que já terá levado a algumas alterações no staff da campanha. O site norte-americano Politico avançava no início da semana que a candidata ponderou fazer alterações à sua equipa após as primárias de New Hampshire, numa tentativa de relançar a sua investida à Casa Branca.

David Axelrod, antigo diretor de campanha de Barack Obama, comentou no Twitter que o problema pode não estar na equipa que a apoia, mas na própria candidata. “Quando os mesmos problemas surgem em campanhas separadas, com equipas diferentes, em que ponto é que as entidades vão reconhecer: «Talvez o problema sejamos nós»?”
Num novo tweet, o especialista e estratega da política criticou o foco na personalidade e experiência de Hillary Clinton, a gramde bandeira da candidatura. “Não se estará a falar demais sobre ela e a esquecer pessoas?”, pergunta. 

Com ou sem alterações às máquinas partidárias, as eleições primárias prosseguem no próximo dia 20. Os republicanos votam nos Estados de Carolina do Sul e Washington. Os democratas votam no mesmo dia, mas no Estado de Nevada. 

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