Embaixador britânico na UE ligado a espião que investigou russos e Trump

por Graça Andrade Ramos - RTP
Sir Timothy Burrow, embaixador designado britânico para a UE DR

São ligações perigosas e poderão custar o novo cargo a sir Timothy Burrow, recém-nomeado embaixador britânico na União Europeia. O diplomata trabalhou há 30 anos em Moscovo com Christopher Steele, o ex-espião do MI6 que esta semana saltou para a ribalta.

O diplomata nega, mas há quem acredite que ele é o "ex-embaixador britânico em Moscovo" - naturalmente não identificado - que terá entregue ao senador republicano John McCain um relatório incendiário sobre escândalos sexuais envolvendo Donald Trump e cujas provas estarão na posse dos serviços secretos russos.

O documento terá sido elaborado por Chistopher Steele, ex-espião do MI6 e ex-colega de trabalho de sir Timothy.

Sir Tim, como é conhecido, já garantiu aos seus superiores que não foi o autor da fuga de informação. "Não tive nada a ver com isso", é a frase referida pelo Daily Mail online.

Mas, no meio dos rumores, da contra-informação e das alegações não comprovadas, há sempre quem pense "não há fumo sem fogo".
Três décadas na mesma área operacional
O facto é que sir Tim é bom candidato ao papel de fonte incógnita. Por coincidência, ou talvez não, ele foi embaixador britânico em Moscovo entre 2011 e 2015, ganhando assim crédito como o tal misterioso "ex-embaixador na Rússia".

As suas ligações a Steele terão contudo mais de 30 anos.

Entre 1990 e 1993, ambos com a mesma idade e em início de carreira, foram colocados como segundos secretários na representação diplomática da Grã-Bretanha em Moscovo - agora a residência oficial do embaixador - do outro lado do Rio Moscovo, frente ao Kremlin.

Uma época emocionante, marcada pelo fim da União Soviética e pelo emergir de um novo mundo pós-Guerra Fria.

Desde então, os percursos do ex-espião e do diplomata foram similares. Ambos regressaram em 1993 ao Foreign Office, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, com o diplomata a ser nomeado para chefiar a Secção da Rússia, durante um ano.

A sua carreira desenvolveu-se depois com ligações à União Europeia e à Europa de Leste. Steele, que abandonou o MI6 e fundou em 2009 uma empresa privada de investigação, a Orbis Business Intelligence Ltd  sediada em Londres, é considerado igualmente especialista em assuntos russos.
Relatório explosivo
O nível de colaboração ao longo de 30 anos de carreira é por enquanto uma incógnita. Mas ambos se tornaram notícia com poucos dias de intervalo. O relatório Orbis foi entretanto veiculado pela imprensa e está a servir de munição para por de novo em causa a presidência de Trump.

Sir Tim, de 52 anos, foi nomeado, a 3 de janeiro de 2017, como embaixador britânico na UE, substituindo Sir Ivan Rogers que se demitiu inesperadamente.

E, na noite passada, Christopher Steele, também de 52 anos, foi identificado como o autor do relatório encomendado à Orbis onde se afirma que a divisão de chantagem dos serviços secretos russos detém provas de orgias sexuais de Trump na Rússia.

O relatório de 35 páginas foi acoplado ao dossier sobre alegados ciber-ataques russos durante a campanha presidencial norte-americana, entregue pelos serviços secretos americanos ao Presidente eleito dos EUA.

"Polvilhado de erros de inglês" - sublinha o Daily Mail - o documento afirma, sem apresentar provas, que os russos têm gravações de Donald Trump a ver prostitutas contratadas por ele a urinar na cama da suite presidencial do hotel Ritz Carlton, usada pelo casal Obama numa visita a Moscovo.
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