Estados Unidos voltam a investir em mísseis nucleares intercontinentais

por Carlos Santos Neves - RTP
O rasto luminoso de um <i>Minuteman III</i> desarmado a rasgar o céu sobre Vandenberg, na Califórnia, durante um teste em agosto de 2005 Reuters

Ao fim de “décadas de desinvestimento na dissuasão nuclear”, o Pentágono prepara-se para gastar milhares de milhões de dólares na modernização de um arsenal de centenas de mísseis balísticos de alcance intercontinental. O reavivar de armas que chegaram a ser encaradas como relíquias da Guerra Fria é confirmado pelo secretário da Defesa dos Estados Unidos.

São 400 os mísseis intercontinentais que formam o arsenal a reabilitar pelo Pentágono. Os planos foram confirmados na segunda-feira pelo secretário norte-americano da Defesa, Ashton Carter, durante uma visita a uma das três estruturas que contêm aquele armamento da classe Minuteman III.
A Rússia é uma preocupação crescente no seio do Pentágono. Segundo Ashton Carter, os atuais dirigentes de Moscovo já não estarão dispostos a repetir “a grande contenção” da era soviética.

“Começamos agora a corrigir décadas de desinvestimento na dissuasão nuclear”, afirmou o governante em Minot, no Dakota do Norte.

É o passo que distancia definitivamente a atual Administração democrata do discurso que Barack Obama proferiu na República Checa em 2009, quando se propôs pugnar por uma ordem mundial sem armamento nuclear. Argumenta agora a Defesa norte-americana que, desde essas históricas palavras do Presidente, os “potenciais inimigos” dos Estados Unidos continuaram a engordar os respetivos arsenais.



“Não projetámos nada de novo durante os últimos 25 anos, mas outros fizeram-no, incluindo a Rússia, a Coreia do Norte, a China, a Índia, o Paquistão e, durante um certo tempo, o Irão”, sustentou Ashton Carter.

Esta redefinição estratégica, continuou o secretário da Defesa, passará também pelo investimento em submarinos. E pela modernização da bomba nuclear B-61. Ou até mesmo pelo desenvolvimento de um novo míssil de cruzeiro.
E o preço?

Entre a comunidade de peritos militares norte-americanos as opiniões apartam-se. Há mesmo quem avise que uma completa modernização do arsenal nuclear dos Estados Unidos teria um custo tão colossal como incomportável. Por outro lado, no imediato, impõe-se um investimento no armamento convencional que as Forças Armadas do país estão efetivamente a usar.
Os mísseis Minuteman III estão distribuídos por três bases: Minot, no Dakota do Norte, Malmstrom, no Montana, e Warren, no Wyoming.
Adam Smith, um democrata com assento na Câmara dos Representantes, advertia na semana passada que Washington não teria capacidade financeira para “tão simplesmente pagar” um novo míssil Minuteman.

Nesta tomada de posição, citada pela France Presse, o legislador lembrou que o arsenal terrestre é o menos útil dos três componentes da dissuasão nuclear dos Estados Unidos.

A Força Aérea norte-americana, responsável pelos mísseis Minuteman III, acrescenta, todavia, um argumento à discussão: é cada vez mais difícil obter peças para armas cujas primeiras versões datam dos anos de 1960, até porque grande parte dos primeiros fornecedores fechou portas.



Outro problema a ter em conta pelos estrategas do Departamento de Defesa é o moral do pessoal que lida com os arsenais de mísseis estratégicos – abatido desde o termo da Guerra Fria, de acordo com diagnósticos da própria Força Aérea dos Estados Unidos.

“Sei que podem ter a impressão de que as pessoas não pensam o suficiente na vossa missão. Mas podem estar orgulhosos de tudo o que fazem todos os dias pelo vosso país”, disse Ashton Carter aos operacionais de Minot.

c/ agências internacionais
Tópicos
pub