Estudo da mutação do ADN vence Nobel da Química

por Andreia Martins - RTP
Chaiwat Subprasom - Reuters

Tomas Lindahl, Paul Modrich e Aziz Sancar são os cientistas galardoados pelo trabalho desenvolvido no campo da Genética. As descobertas dos investigadores de origem sueca, norte-americana e turco-americana deixaram um contributo decisivo para o desenvolvimento de novos tratamentos contra o cancro.

Na descrição apresentada pelo júri, é explicado que a informação genética nas células humanas é "constantemente afetada pelo ambiente, mantendo-se surpreentemente intacta" ao longo de milhares de anos.

"Tomas Lindahl, Paul Modrich e Aziz Sancar explicaram como as células corrigem o respetivo ADN e asseguram a transmissão de informação genética", acrescenta a Real Academia Sueca das Ciências.

Desde o século XIX, quando foi descoberta a hélice em que se baseia a genética humana, até à década de 70 do século seguinte, a comunidade científica assumia o caráter estável e inalterável das moléculas que a constituem. Mas os estudos pioneiros de Tomas Lindahl, cientista sueco ligado à investigação científica no Reino Unido, conseguiram provar a existência da “Reparação por excisão de bases”, isto é, o mecanismo celular que repara segmentos de ADN danificados através dos ciclos celulares.


Nesta operação, são automaticamente removidas as lesões em bases que não assumem forma espiral. Assegura-se, dessa forma, que as pequenas lesões não danifiquem a característica hélice desenhada pelo ADN.
Os três cientistas estudaram os sistemas de reparação inerentes à informação genética do ser humano que, quando ausentes, permitem a formação de várias doenças cancerígenas.

No seguimento deste trabalho, Aziz Sancar, de origem turca, conseguiu mapear um mecanismo de excisão particular, a do nucleótido. Este processo destina-se à reparação dos danos provocados pelos raios ultra-violeta. O cientista conseguiu comprovar que a ausência deste mecanismo de reparação genética de um ser humano vai permitir o desenvolvimento de cancro da pele após exposição à radiação solar.

O desenvolvimento destas investigações leva o cientista turco da Universidade da Carolina do Norte a acreditar que o sistema de excisão do nucleótico acontece sobretudo durante a manhã. Por isso, a exposição ao Sol durante a tarde seria mais lesiva para o ADN do que a mesma exposição ao início do dia.


Já o contributo de Paul Modrich, investigador norte-americano da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, passa pelo desenho do “reparo de incompatibilidades”. Quando ocorre o emparelhamento incorreto de ADN aquando da divisão de células, o próprio mecanismo de reparação inscrito na genética humana tem a capacidade de se autocorrigir.

Se o defeito na eliminação de danos causados pelos raios UV leva ao desenvolvimento de doenças ligadas à pele, a ausência desta correção e replicação de erros no ADN, que advém segundo o investigador de origem hereditária, leva à contração de cancro do cólon e outras doenças cancerígenas.

Em reação ao anúncio feito esta quarta-feira, Tomas Lindahl, o 29.º sueco a receber um Nobel, confessou-se "surpreendido e orgulhoso" com a notícia, apesar de ter sido considerado para o prémio por várias ocasiões.

Para além da distinção atribuida desde 1901, os três laureados recebem um prémio de 969 mil dólares (cerca de 860 mil euros) pelos respetivos contributos científicos.

Este é o terceiro Nobel anunciado esta semana, depois de segunda e terça-feira terem sido divulgados os vencedores nas categorias de Medicina e Física. Restam ainda distribuir os prémios Nobel da Literatura, Paz e Economia, que serão anunciados até dia 12 de outubro.
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