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Estudo revela que águas onde se vão disputar Jogos Olímpicos estão repletas de vírus e bactérias

por Inês Geraldo - RTP
Ricardo Moraes - REUTERS

No próximo ano, o Rio de Janeiro prepara-se para ser anfitrião de mais uma edição dos Jogos Olímpicos. No entanto, testes a vários canais aquáticos da “Cidade Maravilhosa” mostram níveis de poluição e contaminação tão altos que um novo estudo qualifica as águas de “puro esgoto aberto”.

Depois de ter recebido o Campeonato do Mundo de 2014, prova organizada pela FIFA, o Brasil prepara-se para receber milhares de atletas e milhões de turistas para os Jogos Olímpicos de 2016.

A um ano de receber a maior prova desportiva de todos os tempos, uma investigação da Associated Press revelou que as águas onde vão competir nadadores, remadores ou canoístas estão tão poluídas e contaminadas com fezes humanas, que existe um risco alarmante de os atletas ficarem doentes e sem condições para poderem competir.

Foram realizados testes à qualidade das águas da Marina da Glória, na Baía Guanabara, praia de Copacabana e Lago Rodrigo de Freitas e os resultados demonstraram níveis extremamente altos de vírus e bactérias, nos locais onde se vão disputar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do próximo ano.

Estes níveis altos de poluição têm alarmado os especialistas internacionais e os próprios atletas, que, depois de treinarem nestas águas, sentiram sintomas de doença, onde se incluem febres altas, vómitos e diarreia.

Kristina Mena, uma especialista americana em encontrar vírus nascidos nas águas, examinou os dados da Associated Press e estimou que os atletas internacionais que vão competir nestas águas do Rio de Janeiro têm 99 por cento de probabilidade de ter uma infeção.O lago Rodrigo de Freitas, que foi sujeito a muitas medidas de limpeza nos últimos anos, era um dos locais dados como seguros para a prática de várias modalidades desportivas, mas exames realizados à qualidade da água demonstram que este é um dos lugares mais poluídos, onde se vão disputar os Jogos Olímpicos.

John Griffith, um biólogo marinho do sul da Califórnia, explicou que as águas onde se vão realizar as provas olímpicas são “basicamente puro esgoto aberto”.

E complementou: “Se eu fosse aos Jogos Olímpicos, provavelmente iria mais cedo e expor-me-ia a estas águas para tornar o meu sistema imunitário mais forte, antes de poder competir. Até porque não vejo maneira de este problema de esgoto ser resolvido”.

No entanto, Richard Budgett, diretor médico do Comité Olímpico Internacional, revelou que as autoridades brasileiras deveriam apenas realizar testes para dar conta de bactérias, para saber se as águas são seguras para os atletas.

“Temos garantias da Organização Mundial de Saúde e outras entidades médicas, de que não existe um risco significativo para a saúde dos atletas”, comentou Budgett.

E continuou ao dizer que existirão pressões para que se realizem outros tipos de testes, no entanto, voltou a garantir que estão a ser seguidos os padrões oficiais de como se deve examinar a água de forma efetiva.No entanto, na Europa e Estados Unidos, muitos são os especialistas que querem que a água seja examinada para além dos testes bacterianos, já que a maioria das doenças transmitidas através da água está relacionada com vírus e não bactérias.

Apesar de todos estes dados, as autoridades brasileiras afirmam que as águas poluídas vão estar limpas e seguras para os atletas em agosto de 2016, garantia dada também pelo diretor do Comité Olímpico Internacional.

Nestas praias do Rio de Janeiro vão ser disputadas várias provas dos Jogos Olímpicos de 2016. Muitos são os especialistas que asseguram que a qualidade das águas é um perigo para a saúde dos atletas.


Atletas sujeitos a perigosos problemas de saúde


Mais de 10 000 atletas, de 205 nações, são esperados no Rio de Janeiro para competir nos Jogos Olímpicos do próximo ano. Perto de 1500 atletas vão navegar nas águas próximas da Marina da Glória, na Baía de Guanabara, nadando até à praia de Copacabana, dirigindo-se de canoa ou remo para o lago de Rodrigo de Freitas.

Alguns atletas já preparam as suas participações com treinos nestas águas e um dos treinadores de uma equipa da categoria 49er já viu o cenário dantesco em primeira mão. Ivan Bulaja, croata, diz estar perante o pior cenário aquático que já viu.

“Estas são, sem dúvida, as águas com menor qualidade que já vi na minha carreira enquanto navegador e treinador”, comentou Bulaja.

Um dos atletas, David Hussl, explicou como treina nestas águas. O austríaco revelou que quando os atletas são salpicados por ondas, lavam imediatamente a cara com água engarrafada e depois de regressarem à costa, tomam banho de forma imediata.

Mesmo assim, com todos os cuidados que tem, Hussl garante já ter ficado doente várias vezes.

“Já sofri com febres altas e problemas de estômago. Passo um dia na cama e depois não posso competir durante dois ou três dias”, concluiu.

“Uma medalha olímpica é algo para que vivemos toda a nossa vida e pode acontecer, dias antes da competição, ficarmos doentes e não podermos competir. Trata-se de um grande risco para os atletas”, desabafou Bulaja.

Um especialista brasileiro em doenças infecciosas revelou que os esgotos abertos no Rio de Janeiro causaram um problema endémico de saúde pública, que afeta, primordialmente, crianças.

No entanto, quando chegam à adolescência, estas pessoas já se encontram de tal maneira expostas aos vírus, que os seus corpos acabam por criar anticorpos, algo que os turistas e estrangeiros não têm.
Problema crónico de esgotos


O problema de esgotos no Brasil já é crónico. Começou a piorar nas últimas décadas, depois de um crescimento populacional gigante na cidade do Rio de Janeiro. Na Baía de Guanabara, aquele que era um local de águas cristalinas, tem agora uma costa repleta de peixes mortos nas águas e lixo nas areias.

Os esgotos vindos das casas não são tratados, estando a céu aberto, chegando até às águas que vão receber provas olímpicas.

Houve uma tentativa, em 1993, de uma agência japonesa de cooperação para limpar as águas da Baía de Guanabara, mas uma política de má gestão com os fundos japoneses levaram a que o dinheiro não fosse utilizado para a limpeza das águas.

No fim do projeto, a agência japonesa avaliou o projeto de “insatisfatório”, sem “qualquer resultado significativo”.

Para albergar o projeto olímpico, o Brasil prometeu construir oito estruturas para filtrar os esgotos e prevenir a junção de lixo nas praias da Baía de Guanabara. Apenas uma foi construída.

Vários especialistas dizem-se desiludidos com a inação política nestas matérias, revelando, mesmo assim, não estarem surpresos pela maneira como a cidade se quer tornar anfitriã dos Jogos Olímpicos de 2016.

E há quem garanta que, mesmo que fossem aplicadas todas as medidas necessárias para limpar as águas da Baía de Guanabara, praia de Copacabana ou Lago Rodrigo de Freitas, estes espaços da cidade do Rio de Janeiro continuariam a ser poluídos durante largos anos.
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