Europa: Resgates, sanções, políticos desafinados e férias ameaçadas

por Rui Sá, João Fernando Ramos

O Ministro alemão das Finanças admitiu esta quarta feira que Portugal precisa de um novo resgate. Voltaria atrás garantindo que talvez isso não fosse necessário se fossem feitos cortes nas prestações sociais.
O governo reagiu com indignação num dia de fortes divisões numa Europa que não consegue reagir de forma coordenada a saída do Reino Unido da União.

O anúncio foi completamente inesperado, mas absolutamente inequívoco - Portugal vai necessitar de um segundo resgate caso não corte decididamente nas prestações sociais. Wolfgang Schauble falava em Berlim.

O Governo já desmentiu. Portugal não quer, não pediu, não precisa de mais um resgate mas não pode evitar a polémica. António Costa garante que as contas do país estão a evoluir de forma positiva e diz que não haverá necessidade de rever o orçamento, ainda que admita que problemas como a saída do Reino Unido possam implicar a revisão do cenário macro económico para o futuro.

O turismo é um dos principais motores do crescimento do pais e um dos setores que mais rapidamente pode vir a ser afetado pelo mero anuncio da saída do Reino Unido da União.

A desvalorização da Libra face ao Euro faz com que para os britânicos virem passar férias ao nosso pais fique mais caro.

No Jornal 2 Pedro Machado garante que até ao momento o impacto é diminuto e ainda não se reflete nas reservas para o ano de 2017.

O Responsável pelo Turismo do Centro lembra no entanto que o mercado britânico representa metade dos turistas que procuram o Algarve, e 30% dos que demandam a Madeira. Os últimos dados disponíveis mostram a crescente importância dos turistas do Reino Unido para outras regiões. No caso dos Açores a procura estava a crescer 175%, face aio ano passado, no Porto e Norte 70%.

A Comissão Europeia vai decidir sobre se aplica sanções a Portugal e Espanha por não terem cumprido com o limite do défice o ano passado. Decididamente de fora ficam a França e a Itália que também apresentaram défices excessivos e a Alemanha, que apresentou superavit, situação que os tratados também penalizam.

Angela Merkel pressiona e afirma que o Tratado Orçamental é para cumprir, não será revisto e já é flexível o suficiente.

No capitulo das sanções a Europa não fala a uma só voz, vários países (entre os quais França e Itália) já se puseram ao lado de Portugal no que concerne à injustiça de uma medida do género. Também os presidentes do Conselho, do Parlamento e da Comissão estão contra.

A Europa está dividida neste e em muitos outros aspetos. A questão Escocesa é outro dos dossiers sensíveis.

Esta quarta feira a primeira-ministra Nicole Sturgeon foi a Bruxelas para dizer que o país votou contra a saída do Reino Unido da União, e que admite que no limite a Escócia pode ponderar sair do Reino para se manter na Europa.

Jean-Claude Junker recebeu a responsável pelo governo da Escócia dizendo que o país ganhou o direito de ser ouvido. Em Espanha Mariano Rajoy reagiu de imediato garantindo que boicotará negociações paralelas com um país que não é independente nem estado membro da União Europeia. Francois Hollande dá razão a Madrid mas não retira o tapete a Comissão e diz que efetivamente a Escócia tem que ser ouvida e protegida.

Os 27 não afinaram ainda a voz sob a forma como reagir ao resultado do referendo no Reino Unido. O número 10 de Downing Street deverá ter um novo inclino até 9 de setembro. Será o novo primeiro-ministro a acionar o artigo 50º do Tratado de Lisboa pedindo formalmente a desvinculação do país. As negociações para a transição só depois podem começar e de forma automática podem durar até quatro anos.

O reino Unido já disse que quer manter o acesso ao mercado único, mas recusa ceder qualquer tipo de controlo sobre as fronteiras para limitar, não a circulação de produtos, mas de pessoas.

O modelo de associação com a Noruega, que é invocado por Londres, prevê o acesso livre aos mercados, mas com a obrigatoriedade de dar livre acesso dos cidadão comunitários aquele pais escandinavo.

O Presidente do Conselho Europeu já deixou claro que não haverá condições especiais para o Reino Unido, François Hollande acrescentou um pormenor: para ter acesso ao mercado de 460 milhões de europeus, o Reino Unido não tem apenas que abrir fronteiras. Terá que pagar por isso.
pub