França admite incluir Damasco na luta contra o Estado Islâmico

por Graça Andrade Ramos - RTP
Forças rebeldes sírias em combate contra forças leais ao Presidente Bashar al-Assad. Os inimigos dos últimos quatro anos poderão ter de vir a lutar lado a lado contra o grupo Estado Islâmico sob uma aliança internacional. Khalil Ashawi - Reuters

O ministro francês dos Negócios Estrangeiros abriu uma brecha na frente ocidental de oposição ao Presidente sírio, Bashar al-Assad. Laurent Fabius admitiu pela primeira vez que as forças leais a Damasco poderão ser incluídas na luta internacional contra o grupo Estado Islâmico.

"Há dois conjuntos de medidas", no combate contra os extremistas islâmicos, disse Fabius.

De um lado, os bombardeamentos aéreos, que a França vai começar a coordenar com a Rússia. Do outro, "as forças no terreno, que não vão ser as nossas, mas que devem ser as forças do exército Síria Livre, as forças árabes sunitas e, porque não, as forças do regime também", declarou o chefe da diplomacia francesa à rádio RTL.

Apesar disso, Fabius mantém que o Presidente sírio "não pode fazer parte do futuro do seu povo", uma exigência do Ocidente que poderá contudo vir a ser difícil de manter.

O "primeiro" objetivo da ofensiva vai ser Raqqa, a capital de facto do grupo Estado Islâmico na Síria, que tem sido alvo de intensos bombardeamentos russos e franceses nas últimas duas semanas.

"É para nós um dos primeiros objetivos militares, talvez mesmo primeiro", afirmou Fabius, "porque é o centro nevrálgico do Daesh (nome árabe para o grupo Estado Islâmico) de onde saíram os atentados contra a França", da passada sexta-feira, 13 de novembro, que fizeram 130 mortos em Paris e que os franceses lembram hoje.
Mapa dos grupos "não-terroristas"
O inimigo comum permitiu aliás também uma aliança bipartida entre Paris e Moscovo, que decidiram "coordenar os ataques" contra as posições do grupo Estado Islâmico na Síria, assim como reforçar a "troca de informações".

O anúncio foi feito quinta-feira à noite após uma reunião de 90 minutos entre os Presidentes francês e russo no Kremlin.

François Hollande frisou que os bombardeamentos não irão visar "aqueles que lutam contra o Daesh", referindo os grupos rebeldes que lutam contra Assad mas são considerados moderados pelo Ocidente e que têm sido igualmente atacados pela Rússia.

A garantia foi repetida esta manhã por Fabius,

"O Presidente Putin pediu-nos para fazer um mapa das forças que não são terroristas e que combatem o Daesh", revelou o chefe da diplomacia francesa. "Comprometeu-se - a partir do momento em que lhe fornecermos os mapas, o que nós vamos fazer - a não os bombardear, o que é muito importante", frisou.
Contrabando de petróleo
Fabius conteve-se nos comentários sobre acusações de que a Turquia, longe de contrariar o contrabando de petróleo sírio que financia o Daesh, estará a beneficiar dele. Alguns relatórios afirmam mesmo que o filho do próprio Presidente Recep Tayyip Erdogan estará envolvido no negócio.

Erdogan rejeitou todas as acusações russas de que os camiões com petróleo extraído pelo Daesh se dirigem "dia e noite" para a Turquia. "O Daesh vende o petróleo que extrai a Assad. A Assad. Fale sobre isso com o Assad que apoia", lançou o Presidente turco a Vladimir Putin.

"Há camiões que partem de todos os territórios controlados pelo Daesh e que - é a nossa constatação - se dirigem para várias direções," entre as quais "a Turquia", observou por seu lado Laurent Fabius. "O Governo turco disse-nos que 'não está ao corrente'".

"Diz ainda que uma parte do petróleo é revendido a Assad", lembrou o chefe da diplomacia francesa. "Temos algumas suspeitas quanto a isso", acrescentou.
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