França conclui evacuação do campo de Calais e prepara o futuro

por Andreia Martins - RTP
Pascal Rossignol - Reuters

As autoridades francesas informaram esta quarta-feira que a operação foi concluída com sucesso ao fim de dois dias de trabalhos. “É o fim da Selva, a nossa missão terminou. Não há mais migrantes no campo”, disse Fabienne Buccio, a chefe da polícia de Pas-de-Calais.

Foi o símbolo da crise migratória europeia e encontra-se agora vazio e praticamente demolido. O campo de Calais, também conhecido como “A Selva”, localizado junto ao porto de Calais e do Canal da Mancha, foi desocupado pelas autoridades francesas em pouco mais de 48 horas. 

No local viviam cerca de oito mil pessoas. Desde o início da semana, as autoridades francesas deslocaram estes migrantes para abrigos e centros de acolhimento, onde agora deverão aguardar a conclusão dos respetivos processos de pedido de asilo. 

Cerca de 1200 agentes da polícia francesa estiveram envolvidos nas operações de desmantelamento do campo. 

As operações decorreram maioritariamente de forma pacífica. Ainda assim, alguns protestos irromperam na noite passada, num último gesto de desafio, com várias tendas e abrigos incendiados. A polícia não confirma para já que tenham sido os próprios migrantes ou ativistas a atear o fogo. 




Neil Hall e Philippe Wojazer - Reuters

Com o campo completamente desabitado, as autoridades francesas avançam agora com mais maquinaria para os trabalhos mais pesados de demolição completa. 
Menores sem acompanhamento
Segundo a imprensa francesa e inglesa, pelo menos quatro mil dos migrantes que habitavam no campo de Calais foram já recolocados.

No campo estavam também vários menores não acompanhados, pelo menos 1500, que foram reinstalados num centro temporário. A associação Save the Children disse estar “extremamente preocupada” com a situação de 100 crianças que não ficaram nos centros de registo.  

O grupo Help Refugees denunciou entretanto o caso de mais de 300 crianças que estão a ser impedidas de entrar nos centros de registo e acolhimento. Essas crianças, diz a organização, foram aconselhadas a voltar para o campo, que ao início da tarde ainda se encontrava em chamas e sem condições de segurança garantidas. 



Uma nova selva?
No papel está tudo conforme previsto. A evacuação terminou, a demolição do campo entra na fase final e os milhares de migrantes vão ser acolhidos nas próximas semanas em vários Centros de Acolhimento e Orientação (CAO).

Mas o fim do problema não está garantido. O desmantelamento de Calais não garante que todo o processo não se volte a repetir. Basta para isso recordar o campo de Sangatte, a sul de Calais, junto a uma passagem do Eurotúnel, onde vários migrantes ocuparam um campo entre 1999 e 2002, esperançados em chegar ao Reino Unido. 

Deles se aproveitaram muitos traficantes, que viam no desespero e vontade de atravessar o Canal da Mancha uma oportunidade para as suas ambições. 

Na altura o campo era sobretudo ocupado por afegãos, iraquianos, curdos e kosovares. Em dezembro de 2002, o então ministro francês do Interior, Nicolas Sarkozy, ordenou a demolição do campo, onde a Cruz Vermelha se havia entretanto instalado para prestar assistência.  

Com o fim do campo de Sangatte, o campo de Calais não levou muitos anos até se formar, uma situação que se intensificou ainda mais com a crescente vaga de imigração.  

“Não podemos estar otimistas. Tudo o que vemos do passado sugere que o problema da migração em Calais é crónico e suscetível de piorar”, refere um artigo de análise da BBC.  
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