Era considerada o ramo da Al Qaeda na Síria, mas a Frente al-Nusra anunciou nas últimas horas que mudou de nome e de objetivos, passando a chamar-se Jabhat Fateh al-Sham - Frente para a conquista da Síria/Levante.
A mensagem de al-Julani foi transmitida pela televisão do Qatar Al Jazeera.
"Declaramos o cancelamento total das operações sob o nome Jabhat al-Nusra e a formação de um novo grupo que irá operar sob nome Jabhat Fath al-Sham, notando que esta nova organização não tem filiações com qualquer entidade externa" afirmou Al-Julani.O anúncio surge dois dias depois de cerca de 60 membros da Frente al-Nusra, incluindo praticamente todos os seus comandantes, terem fugido das suas posições a norte a cidade síria de Allepo, perante o avanço do exército sírio apoiado pelas milícias xiitas do Hezbollah e pela aviação síria e russa. Vendo-se cercado, o comando da al-Nusra deixou para trás homens, armas e equipamento e atravessou a fronteira para a Turquia.
O líder da ex-Frente al-Nusra disse ainda na quinta-feira que a alteração visa unir a luta na Síria contra o Governo do Presidente Bashar al-Assad e remover os pretextos invocados tanto pela Rússia como pelos Estados Unidos para bombardear sírios.
Uma porta-voz do Alto Comité para as Negociações de cessar-fogo na Síria reagiu igualmente com esperança de que a decisão da Frente al-Nusra irá abrir a porta à participação deste grupo nas conversações.
"E um alívio," afirmou Farah al-Atassi à televisão al-Jazerra a partir de Washington, DC, minutos após o anúncio de al-Jolani.
"Isto irá refletir-se de alguma forma positiva no Exército Livre da Síria (ELS) que tem combatido o ISIL (o grupo hoje conhecido com Estado Islâmico) e a al-Nusra nos últimos seis meses, porque a Rússia tem estado a bombardear e a atingir posições do ELS com a desculpa que estão a alvejar a al-Nusra" acrescentou.
"Nada mudou"
Considerada o grupo de combatentes mais organizado e eficaz na luta para depor Bashar al-Assad, a Frente al-Nusra - agora Jabhat Fateh al-Sham - tem-se notabilizado pelos seus atentados contra as forças leais ao Presidente sírio e outras forças rebeldes. A par do ISIL, foi banida das conversações de cessar-fogo tanto pela Rússia como pelos Estados Unidos da América por constar da lista de organizações terroristas.
Washington já disse que a mudança de nome e de filiação não irá mudar nada.
"Nós julgamos qualquer organização, incluindo esta, muito mais pelas suas ações, a sua ideologia, os seus objetivos", disse o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby. E acrescentou: "Ajuizamos um grupo pelo que faz não pelo nome com que se chamam a si mesmos... Até agora nada mudou na nossa perspetiva sobre este grupo em particular. Não vemos certamente razão nenhuma para acreditar que as suas ações e os seus objetivos tenham mudado. E eles continuam a ser considerados uma organização terrorista estrangeira".
A Casa Branca afirmou por seu lado recear que o grupo se tenha tornado uma ameaça para o Ocidente.
"Os Estados Unidos continuam a manter que os líderes da Frente al-Nusra conservam a intenção de levar a cabo ataques eventuais no e contra o Ocidente e que há um agravamento crescente da preocupação com a capacidade da Frente al-Nusra realizar operações externas que podem ameaçar tanto os Estados Unidos como a Europa", disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest.
Al Qaeda instruiu al-Julani
A rutura entre a Frente al-Nusra e a Al Qaeda estava a ser falada nos últimos dias e foi aprovada pela organização fundada por Bin Laden.
Numa mensagem difundida pela Al Qaeda, o seu recém nomeado vice-comandante, Ahmed Hassam Abu al-Khayr al Masri, afirmou que "a liderança da Frente al-Nusra tinha recebido instruções para avançar com o que protege o interesse do Islão e os muçulmanos e o que protege a jihad" na Síria.
A mensagem incluiu um comentário breve do proprio líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, que afirmou: "A irmandade do Islão é mais forte do que quaisquer laços organizacionais, que mudam e se vão embora."
Al-Masri é agora o eventual substituto de al-Zawahiri.
A oposição síria recebeu a notícia da al-Nusra de forma mista. À televisão do Qatar, al-Jazeera, o reporter Mohamed Jamjoom afirmou a partir de Gaziantep no lado turco da fronteira turco-síria, que ninguém ficou surpreendido.
"Nos últimos dias tinha havido especulação crescente que isto ia suceder", disse.
"Alguns disseram-nos que acreditam que, com a separação formal da al-Nusra da Al Qaeda e a mudança de nome, assim como pelo seu discurso sobre a unificação da luta na Síria, que isso significaria que os Estados Unidos e outros não iriam mais considerar a al-Nusra uma organização terrorista: que mais apoiantes internacionais iriam apoiar os grupos rebeldes."
Em Aleppo, no entanto, a maioria dos ativistas disse "não acreditar naquilo que Jolani disse: não acreditam nos motivos", acrescentou Jamjoom.
"Alguns especulam se isto não será uma espécie de truque publicitário, para conseguir mais apoio da comunidade internacional, com muitos a duvidar que isto venha a ter algum impacto prático", concluiu o analista.