Guerra aberta entre Sanders e Clinton em debate democrata

por Inês Geraldo - RTP
Bernie Sanders e Hillary Clinton no sexto debate democrata Reuters

O debate entre democratas na última madrugada foi marcado por ataques entre Bernie Sanders e Hillary Clinton e a tentativa de apelar aos públicos afro-americano e latino, depois das primárias de New Hampshire. Imigração, finanças, saúde e a justiça social foram temas abordados, mas a divergência em matéria de Negócios Estrangeiros foi um dos pontos altos da noite, com Clinton a acusar o adversário de defender medidas que não resultam “no mundo real”.

Depois de uma rotunda derrota em New Hampshire, Hillary Clinton foi questionada sobre o verdadeiro motivo da sua candidatura à Casa Branca. A candidata democrata, mulher do antigo Presidente Bill Clinton, contestou a questão.

“Eu quero derrubar os obstáculos que estão no caminho dos americanos neste momento”, explicou Clinton.

Os dois candidatos democratas travaram-se de razões sobre os dois mandatos presidenciais de Barack Obama, com Hillary Clinton a tentar ganhar vantagem sobre o oponente, acusando-o de não ter apoiado o ainda Presidente norte-americano durante os últimos oito anos e ressalvando que o trabalho de Obama na Casa Branca não teve o reconhecimento que mereceu.

“Não acho que [Obama] tem o crédito que merece. O tipo de críticas que ouvimos do senador Sanders sobre o nosso Presidente é expectável vindo de republicanos, não de alguém que espera no futuro suceder-lhe na Presidência”.


Bernie Sanders contra-atacou, apelidando as palavras Hillary como “golpe baixo”. Explicou ser amigo do Presidente norte-americano e acrescentou: “Um de nós concorreu contra o Presidente numas presidenciais. Eu não fui esse candidato”.

Após a derrota em New Hampshire, Hillary Clinton tenta fazer valer-se do apoio que tem da parte de Barack Obama e lembrar a postura crítica de Sanders em relação ao atual inquilino da Casa Branca.

O ataque entre democratas continuou com Hillary a declarar que Sanders tem as ideias corretas para o Estados Unidos. mas que não são aplicáveis ao mundo real, e que as suas medidas são as mais realistas, porque oferecem um cenário de mudança.
Raça e imigração no “olho do furacão”
Nos últimos anos têm vindo a agudizar-se as fraturas raciais nos Estados Unidos. O mesmo acontece com a imigração e os dois candidatos prosseguiram no caminho de ataques mútuos, tentando ao mesmo tempo, convencer latinos e americanos de origem africana a votarem em si.

“Americanos de origem africana que são vítimas de discriminação no mercado de trabalho, educação, compra de casa e justiça. Famílias trabalhadoras de migrantes que vivem com medo têm de sair das sombras para que os seus filhos tenham um futuro brilhante. Garantir que o trabalho realizado por mulheres seja pago de forma justa”.

Foi com esta declaração que Hillary Clinton disse querer quebrar barreiras na sociedade norte-americana, tornando vários setores da sociedade iguais e tratados de forma justa.


Foto: Reuters
Sanders, por sua vez, explicou querer diminuir desigualdades, acabando com privilégios fiscais para os mais ricos de forma a poder criar milhões de postos de emprego e dar uma educação aos jovens que cedo se encontram nas ruas.

Os candidatos falaram na justiça do país e garantiram querer criar uma reforma extensa, tal como acontece com a imigração, em que ambos afirmaram querer dar cidadania americana aos mais de 11 milhões de migrantes sem documentos.

Clinton não fugiu ao tema e acusou Sanders de em 2007 ter recusado um projeto-lei que aprovava a cidadania para muitos migrantes.

Sanders respondeu ao ataque e explicou que o fez porque não queria que essas mesmas pessoas fossem escravizadas no local de trabalho.

“Votei contra [o projeto-lei] juntamente com outros grupos pois o programa de trabalho para estas pessoas era atrito à escravatura. Os migrantes que vinham para este país trabalhar eram abusados no local de trabalho e caso quisessem fazer valer os seus direitos seriam expulsos dos Estados Unidos. Portanto, não fui só eu quem se opôs”, explicou o senador.
Saúde, ponto divergenteUm dos casos mais polémicos da Presidência de Barack Obama prendeu-se com o plano de saúde Obamacare que quis implementar na sociedade norte-americana.

A saúde continua a ser um dossier que marca diferenças entre as fações políticas dos Estados Unidos e foi ponto de divergência entre Bernie Sanders e Hillary Clinton.

A candidata democrata declarou que o novo plano do senador traria custos inimagináveis, na ordem dos 40 por cento.

“Isto não pode ser sobre matemática. É sobre a vida das pessoas. E devíamos perguntar aos americanos o que podemos fazer para que haja um serviço de saúde de qualidade e barato”.

Sanders voltou a contestar as palavras da adversária e garantiu que sempre lutou por um serviço de saúde nacional justo para toda a sociedade norte-americana.
Finanças e Relações Externas em choque
Num debate em que ambos os candidatos democratas mostraram estar mais separados do que unidos nos temas fraturantes da campanha, o espectro económico e a política estrangeira foram só mais dois pontos a separar Sanders e Clinton.

Foto: Reuters
O senador norte-americano criticou Clinton pela ligação a Wall Street, criticando as fações políticas que aceitam dinheiro da indústria financeira, algo que Hillary desvalorizou.

Na frente internacional, Sanders ironizou com a relação de amizade entre Hillary Clinton e Henry Kissinger, secretário de Estado de Richard Nixon, descrevendo o histórico diplomata como “um dos mais destrutivos secretários de Estado de sempre”.

Questionado por Clinton sobre quem seria o seu modelo para a política internacional, Sanders voltou a responder de forma sarcástica: “De certeza que não é Henry Kissinger”.

As próximas eleições primárias terão lugar a 20 de fevereiro no Nevada.
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