Justiça suíça obriga crianças muçulmanas a cumprimentarem professoras

por RTP
Reuters

Um tribunal regional na Suíça analisou o caso de dois adolescentes de origem síria que se recusaram a apertar a mão de uma professora. O pai, imam naquele país, tinha alertado os filhos que o contacto com mulheres externas à família era proibido pelo Corão. A partir de agora, pais de crianças que recusem apertar a mão a uma professora com base neste argumento poderão ter de pagar uma multa, que pode chegar aos 5 mil francos suíços, cerca de 4,5 mil euros.

A controvérsia está lançada. Na cidade de Therwil, a poucos quilómetros de Basileia, dois rapazes de origem muçulmana recusaram-se no mês passado a apertar a mão de uma professora. 

Segundo a família dos dois adolescentes e a sua interpretação do livro sagrado, esta é uma prática estritamente proibida, porque pode colocar os jovens em contacto com uma mulher que não pertence à família. Os dois rapazes sírios de 14 e 15 anos recusaram-se a cumprimentar a professora e elevaram a discussão ao nível nacional. Num espaço televisivo, a ministra suíça da Justiça disse que apertar a mão ao professor “faz parte da cultura” do país. 

As autoridades locais decidiram esta quarta-feira que os alunos são, a partir de agora, obrigados a cumprimentar fisicamente o professor, antes e depois de cada aula. Se se recusarem, os pais e encarregados de educação, com alunos nas escolas situadas no cantão de Basileia, poderão ser sancionados com uma multa, que pode ir até aos 4,5 mil euros. 

Num comunicado emitido na quarta-feira, as autoridades referem que o interesse público no respeito pela igualdade de género e na integração de estrangeiros “supera de longe” a liberdade de crença dos alunos. 

Segundo os legisladores, os professores “têm todo o direito” a exigir apertos de mão, uma tradição antiga nas escolas helvéticas. Num espaço televisivo, Simonetta Sommaruga, a ministra suíça da Justiça disse que apertar a mão ao professor “faz parte da cultura” do país.

Os grupos que representam a comunidade islâmica na suíça colocaram-se em grande parte do lado do Governo. Argumentam que “não há justificação religiosa” para recusar cumprimentar uma professora, mas pediam que o Governo não tome “medidas extremas”. Apenas uma organização muçulmana reiterou que o aperto de mão entre mulheres e homens é proibido pelo Islão.
Atribuição da cidadania em stand-by
A Suíça, com uma população total de oito milhões de pessoas, acolhe cerca de 350 mil muçulmanos. 

Sobre o caso que despoletou a discussão, os responsáveis pela imigração do cantão suíço de Basileia procuram agora obter mais informações sobre as circunstâncias do pedido de asilo do pai dos jovens. 

O processo de atribuição da cidadania suíça à família foi suspenso logo em abril, mas as autoridades locais garantem que este caso nada tem a ver com a polémica: argumentam que se trata de uma situação “normal” neste tipo de procedimentos.  

Em Therwil, na pequena cidade onde se localiza a escola onde ocorreu este incidente, há alívio. Quando o assunto ganhou interesse dos media nacionais, a instituição pediu a avaliação das autoridades judiciais locais. 

Os rapazes no centro da polémica garantem porém que não vão alterar as suas atitudes. Dizem que “ninguém pode obrigá-los” a cumprimentar uma mulher e que não estão em posição de apagar a sua cultura e tradições “como se tratasse de um disco-rígido”.
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