Ministro da Transparência é a última baixa do Governo de Temer

por Ana Sanlez - RTP
Adriano Machado - Reuters

O ministro brasileiro da Transparência, Fabiano Silveira, pediu a demissão do Governo interino de Michel Temer, na sequência de novas gravações relacionadas com o processo Lava Jato.

Uma semana depois do ministro do Planeamento, Michel Temer vê cair mais um dos membros do seu Governo interino. Dezanove dias depois de ter tomado posse, o ministro da Transparência, Fiscalização e Controlo, Fabiano Silveira, foi forçado a abandonar o cargo perante a divulgação de mais uma série de escutas comprometedoras.

Segundo relata a imprensa brasileira, as conversas foram gravadas por Sérgio Machado, presidente da processadora de gás natural Transpetro e delator da investigação Lava Jato. Nas gravações, que datam do fim de fevereiro, são audíveis as críticas de Fabiano Silveira à investigação e as indicações dadas a Renan Calheiros, presidente do Senado Federal do Brasil, e ao próprio Sérgio Machado sobre como agir no decorrer da investigação.
Fabiano Silveira ocupava na altura o lugar de conselheiro do Conselho Nacional de Justiça brasileiro, que fiscaliza o poder judiciário.

Nas conversas reveladas pela rede Globo, Silveira critica o procurador-geral da República e afirma, sobre a operação Lava Jato, que “eles estão perdidos nessa questão”.

A declaração mais grave pertence, no entanto, ao presidente do Senado brasileiro, que a certa altura revela a Sérgio Machado que o agora ex-ministro tinha mantido encontros com oficiais da operação Lava Jato para saber detalhes sobre o processo.
"Especulações insólitas"
Na carta de demissão que enviou a Michel Temer, o agora ex-ministro diz-se alvo de “especulações insólitas”.

“Não há em minhas palavras nenhuma oposição aos trabalhos do Ministério Público ou do Judiciário, instituições pelas quais tenho grande respeito”, escreve Fabiano Silveira.

O ex-ministro acrescenta que os comentários presentes nas gravações representam “simples opinião”, e que foram “amplificados pelo clima de exasperação política que todos testemunhamos”.


“Reitero que jamais intercedi junto a órgãos públicos em favor de terceiros. Observo ser um despropósito sugerir que o Ministério Público possa sofrer algum tipo de influência externa, tantas foram as demonstrações de independência no cumprimento de seus deveres ao longo de todos esses anos”, conclui Silveira, para justificar a demissão.

O substituto interino de Fabiano Silveira Será Carlos Higino, até agora secretário-executivo do ministério da Transparência e ex-ministro do Governo de Dilma Rousseff.

O ministro enfrentou a contestação das ruas, com milhares de pessoas reunidas em duas manifestações a exigir a demissão, mas também a pressão internacional. Após a divulgação das conversas a ONG Transparência Internacional, que promove o combate global à corrupção, informou que o diálogo com o ministério brasileiro estava “suspenso” até que fossem apurados os factos e nomeado um novo ministro, “com experiência adequada na luta contra a corrupção”.
Procuradoria nega suspensão
Entretanto a Procuradoria-Geral da República do Brasil negou o pedido de um deputado do Partido dos Trabalhadores, que requereu a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal, com o objetivo de anular as nomeações de ministros do Governo de Michel Temer que estejam a ser algo de investigações.

O deputado alega que as nomeações representam uma tentativa de obstrução da Justiça, uma vez que o cargo de ministro garante o direito ao foro privilegiado aos políticos. A Procuradoria-Geral argumenta que neste momento não há razões suficientes para pedir a suspensão das nomeações.
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