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Morreu antigo Presidente de Israel e Nobel da Paz Shimon Peres

por RTP
Durante a sua carreira política, Shimon Peres ocupou quase todos os mais importantes cargos em Israel Phil McCarten - Reuters

O estadista sofreu um AVC a 13 de setembro e encontrava-se hospitalizado desde então. Peres era o último sobrevivente da geração dos "pais fundadores" de Israel. Percorreu vários cargos políticos em Israel e foi protagonista dos acordos de Oslo, assinados em 1990. O funeral realiza-se na sexta-feira em Jerusalém.

O estadista de 93 anos morreu por volta das 3h00 (1h00 em Lisboa), segundo informou o médico Rafi Walden, que é também genro de Shimon Peres.

O antigo Presidente israelita foi um dos principais artesãos dos acordos de Oslo, assinados com os palestinianos em 1990, o que lhe valeu a atribuição do Nobel da Paz em 1994.

Shimon Peres ocupou quase todos os mais importantes cargos políticos em Israel: foi ministro de várias pastas em diversos governos, primeiro-ministro interino, primeiro-ministro e Presidente (2007-2014)."Amou Israel até ao último suspiro"

"Não teve outro interesse que não o de servir o povo de Israel, tanto que acreditava e amou-o até ao último suspiro", disse Jemi Peres, ao ler um comunicado no hospital Shiva, da localidade de Tel Hashomer, perto de Telavive, onde morreu o estadista.

O filho de Peres leu - em hebreu e em inglês - uma declaração em que realçou que o seu pai "fez parte da geração dos fundadores de Israel e serviu o Estado desde o dia da sua fundação até ao seu último dia" de vida.

"Despedimo-nos hoje, com grande pesar, do nosso querido pai, do nosso líder de família, o nono Presidente do Estado de Israel, Shimon Peres", disse.

Jemi Peres passou ainda em breve revista a longa carreira política do pai, antes de agradecer à equipa médica que acompanhou Shimon Peres e as manifestações de apoio e carinho oriundas de Israel e do resto do mundo.

"O meu pai costumava dizer que só és tão grande como a causa a que serves", recordou.Reação da Casa Branca

Em comunicado à reação à morte do antigo Presidente de Israel, Barack Obama destacou que "existem poucas pessoas com as quais partilhamos este mundo que mudaram o curso da história humana (...). O meu amigo Shimon foi uma delas".

O Presidente dos Estados Unidos destacou ainda que o compromisso de Shimon Peres para com a segurança e procura pela paz de Israel estava "enraizado na sua inabalável força moral e persistente otimismo".

"Talvez por ter visto Israel superar grandes adversidades, Shimon nunca desistiu da possibilidade de paz entre os israelitas, palestinianos e vizinhos de Israel - nem mesmo depois da trágica noite em Telavive que levou Yitzhak Rabin", sublinhou, referindo-se ao assassínio, em novembro de 1995, do então primeiro-ministro israelita.
"Génio de grande coração"
Bill Clinton, que supervisionou a assinatura dos acordos de Oslo entre israelitas e palestinianos, homenageou o "fervoroso defensor da paz, da reconciliação e de um futuro em que todas as crianças de Abraão construirão um amanhã melhor".

"Nunca vou esquecer o quão feliz ele estava há 23 anos quando assinou os acordos de Oslo na Casa Branca, anunciando uma era mais esperançosa para as relações israelo-palestinianas", realçou o antigo Presidente norte-americano num comunicado.

"Ele era um génio com um grande coração, que usava os seus dons para imaginar um futuro de reconciliação - e não de conflito - emancipação económica e social - não de raiva e frustração - e uma nação, uma região e um mundo impulsionado pela solidariedade e partilha - e não dilacerado pelas ilusões de domínio permanente e de perfeitas verdades", afirmou Bill Clinton.

Shimon Peres foi distinguido, em 1994, com o prémio Nobel da Paz, a par do então primeiro-ministro israelita, Yitzhak Rabin - assassinado no ano seguinte - e pelo líder palestiniano Yasser Arafat, pelo seu papel na negociação dos acordos de Oslo.

"Membro de inúmeros governos, primeiro-ministro por várias vezes e finalmente Presidente, de 2007 a 2014, Shimon Peres era Israel aos olhos do mundo", realçou.
"Peres pertence à História"
O Presidente francês, François Hollande, lembra o estadista como um dos "mais fervorosos defensores da paz" e um "fiel amigo" da França.

"Shimon Peres pertence agora à História, que foi a companheira da sua longa vida", escreveu Hollande, num comunicado.

"Com o desaparecimento de Shimon Peres, Israel perde um dos seus mais ilustres estadistas, a paz [perde] um dos seus mais fervorosos defensores e a França um amigo fiel", sublinhou Hollande, que se reuniu com o Nobel da Paz pela última vez a 25 de março.

"Eu pude ver (...) que a força da sua convicção estava intacta", indicou o Chefe de Estado francês.
"Estendeu a mão aos alemães"
O Presidente da Alemanha, Joachim Gauck, recordou a "forte vontade" do antigo Chefe de Estado israelita Shimon Peres em "fazer avançar os processos de paz".

"Gostaria de vos manifestar, assim como ao povo israelita (...), as minhas profundas condolências", escreveu o Presidente alemão numa carta endereçada ao seu homólogo israelita, Reuven Rivlin.

"Shimon Peres marcou Israel como nenhum outro político. Serviu o seu país em diferentes funções - com sólidos princípios como a segurança de Israel, e uma vontade forte de fazer avançar os processos de paz com os palestinianos", sublinhou.

Acrescenta que "apesar das atrocidades perpetradas pelos nazis contra a sua família durante o Holocausto, Shimon Peres estendeu a mão" aos alemães, e que o país lhe está "extremamente grato" por essa atitude.

O Presidente alemão considerou ainda que a sua vida "ao serviço da paz e da reconciliação" pode "ser um exemplo para os jovens".
Funeral em Jerusalém
O ex-Presidente israelita vai a enterrar na sexta-feira na secção reservada aos "grandes da nação" do cemitério do Monte Herzl, em Jerusalém, numa cerimónia de Estado, segundo informou a rádio pública israelita.

A comissão governamental de Símbolos e Protocolos de Estado, que vai decidir a organização da cerimónia em função, em grande medida, da confirmação da presença de líderes internacionais, tem previsto reunir-se esta manhã, de acordo com a emissora.

Esta comissão realizou diversas reuniões nas últimas duas semanas, desde que o antigo Presidente israelita e Nobel da Paz foi hospitalizado na sequência de um acidente vascular cerebral, segundo a mesma fonte.

O corpo do estadista deve permanecer no hospital até quinta-feira e deverá ser transferido para Jerusalém, passando pela aldeia de Benshemen, onde estudou, que fica no caminho entre o hospital e a cidade santa.

À luz dos protocolos oficiais, vai ser levado num veículo militar, escoltado por soldados, até Jerusalém, onde ficará exposto no Parlamento (Kneset) até ao enterro no cemitério do Monte Herzl, do nome do fundador do sionismo Theodor Herzl, onde figuram outros dirigentes como Isaac Rabin, assassinado em 1995.

Entretanto, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu expressou "o seu profundo pesar pessoal pelo desaparecimento do filho pródigo da nação, o ex-Presidente israelita Shimon Peres", lê-se num comunicado.

No mesmo comunicado indica-se que Netanyahu tem previsto liderar uma reunião especial do seu gabinete de ministros, durante a qual pronunciará um discurso sobre o estadista. É esperada a participação de proeminentes líderes e políticos internacionais na cerimónia fúnebre.

Outros membros do Governo já reagiram. "O povo de Israel e na diáspora despede-se com dor e amor a um líder", afirmou o chefe do Partido Trabalhista, Isaac Herzog. Por seu lado, o titular da pasta da Educação, Naftali Bennet, de direita, afirmou que Peres "escreveu a história com as suas próprias mãos".

O ministro do Interior e líder do partido ultraortodoxo sefardita Shas, Arie Deri, que visitou Peres no hospital na passada terça-feira, assinalou que o seu desaparecimento "representa uma grande perda para o povo judeu e para o Estado de Israel". O rabino do Muro das Lamentações, Shmuel Rabinovich, considerou que "Peres foi o último dos defensores da verdade".

c/ Lusa
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