Em direto
Guerra no Médio Oriente. A escalada do conflito entre Irão e Israel ao minuto

Mumukshu Bhawan: à espera da morte em Varanasi

Varanasi é, para os hindus, considerada a cidade mais sagrada junto ao mais sagrado dos rios, o Ganges. Morrer lá significa quebrar o ciclo de reencarnações e alcançar a salvação eterna. E há quem lá vá exclusivamente para isso: esperar a morte.


No Estado de Uttar Pradesh, na Índia, a cerca de 250 quilómetros a sul da fronteira com o Nepal, fica Varanasi, uma das cidades continuamente habitadas mais antigas do mundo. É, para o hinduísmo, considerada a cidade mais sagrada junto ao mais sagrado dos rios, o Ganges. Tal como Meca, para os muçulmanos, ou o Vaticano, para os cristãos.
É quase obrigatório na vida de qualquer hindu visitar Varanasi pelo menos uma vez na vida. 
Ao longo de aproximadamente cinco quilómetros, a cidade funde-se com o rio através de uma série de escadarias - ghats -, às vezes completamente submersas, outras vezes visíveis, consoante as cheias provocadas pelas monções, e através das quais os crentes tocam as águas sagradas do Ganges.

Em dois desses ghats, Manikarnika e Harishchandra, são cremados cerca de 300 corpos por dia, durante 365 dias por ano, e as cinzas lançadas às águas do Ganges. Porque no hinduísmo, quem morrer em Varanasi limpa o karma, quebra o ciclo de reencarnações e atinge o moksha, a salvação eterna.


Por esse motivo, há autênticas peregrinações de toda a Índia, que não são obrigatoriamente sazonais. Durante todo o ano, milhares de pessoas deslocam-se a Varanasi com o único propósito de ali terminar a sua vida.


Um pouco para o interior da cidade, a umas centenas de metros do Ganges, na extremidade sul dos ghats, fica Mumukshu Bhawan, uma espécie de retiro para quem espera a morte. São, normalmente, pessoas mais idosas, mas não têm de estar doentes. Há quem espere vários anos.
 


Quando se atravessa o portão, que dá para a Assi Road, o barulho e o caos que caracterizam Varanasi ficam para trás. O local, que alberga também uma escola de sânscrito, é delimitado por muros altos, que, de certo modo, ajudam a manter o ambiente tranquilo e calmo.


Criado em 1920, o retiro alberga entre 150 e 200 pessoas. O responsável pelo espaço explicou que as pessoas pagam aquilo que podem para irem para lá viver. A partir daí, vivem da caridade e das doações que vão recebendo.


Narayen Assram, 70 anos, vive na Mumukshu Bhawan há três. É natural de uma cidade a sudoeste de Varanasi, Jhansi, e trabalhou toda a sua vida numa espécie de farmácia. À pergunta "porque é que decidiu ir viver para ali?", não hesita em responder: "Para alcançar o moksha, para acabar com as reencarnações".


Os residentes da Mumukshu Bhawan dormem em quartos muito simples, com uma cama e umas saliências nas paredes que servem de prateleiras para guardarem os seus pertences.

Os dias são passados quase sempre nos jardins do local, a meditar ou a conviver com os vizinhos, ou a tomar conta das pequenas hortas que possuem.
 




Às vezes vão até à margem do rio para rezar, regressando depois para o conforto da sua última residência.