Munique subleva-se contra a política de refugiados de Berlim

por RTP
Seehoffer (à esq.), com o primeiro ministro húngaro Viktor Orban. Michael Dalder , Reuters

A forma de lidar com o afluxo de refugiados está a criar múltiplas fracturas na política alemã: dentro do bloco cristão de Angela Merkel, entre os dois principais partidos do Governo, entre a Baviera e o poder federal sediado em Berlim.

O chefe do Governo regional da Baviera, Horst Seehofer, é também dirigente social-cristão e, como tal, membro do bloco CDU/CSU que tem governado a Alemanha de forma intermitente nas últimas décadas. Tem como antepassado político o truculento líder bávaro Franz-Joseph Strauss, que não deixava os seus créditos por mãos alheias.

E, contudo, mesmo com estes antecedentes, raramente terá havido na história do bloco entre social-cristãos e democratas-cristãos um momento de tão alta tensão como agora.
Merkel criticada pelos parceiros social-cristãos
Seehofer fez saber que se prepara para, eventualmente, apresentar no Tribunal Constitucional uma queixa contra o Governo de Angela Merkel, se esta não der imediatamente garantias de limitar a entrada de refugiados na Alemanha. A iniciativa nada tem de individual, porque Seehoffer a submeteu a uma reunião extraordinária do Governo regional bávaro em Munique e a fez aprovar precisamente nessa instância.

Segundo Der Spiegel, o fundamento da queixa são os danos causados pela política de refugiados da República Federal à "capacidade de actuação das regiões". Seehoffer sintetizou os motivos da queixa dizendo que "uma parte não faz cumprir a lei, e a outra quer que ela seja cumprida".

O Governo bávaro exige que os refugiados sejam recambiados na fronteira enquanto os outros Estados europeus não acolherem as quotas que lhes cabem. Segundo as palavras de Seehoffer, "temos claramente a opinião de que a migração deve ser controlada e limitada".

Independentemente do que venha a decidir o Governo federal, o executivo de Munique tenciona fazer seguir para outras regiões alemãs os refugiados que chegarem de futuro à Baviera. O ministro do Interior bávaro, também da CSU, Joachim Herrmann, ameaçou que, "caso a Federação não actue neste domínio, o Estado Livre da Baviera reserva-se o direito de tomar as medidades que a situação exige".Merkel criticada pelos parceiros social-democratas
Angela Merkel, beliscada na sua autoridade pela fronda do próprio bloco cristão, encontra-se por outro lado posta em xeque pelas observações cáusticas dos parceiros de coligação social-democratas.

Dois ministros do SPD, o vice-primeiro ministro Sigmar Gabriel e o chefe da diplomacia Frank-Walter Steinmeier, vieram a terreiro assinar conjuntamente um artigo em que afirmam: "Apesar da incomparável disposição dos alemães para ajudar, temos de fazer todos os possíveis para que volte a baixar a migração para a Alemanha".

A isto acrescentam que "não podemos de forma duradoura receber e integrar mais de um milhão de refugiados por ano". Deste modo, os parceiros de coligação convergem com o braço de ferro iniciado pelos parceiros de bloco político, para colocarem Angela Merkel entre dois fogos. Os ministros social-democratas ultrapassam pela direita a chanceler democrata-cristã.
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