Os primeiros 100 dias de Donald Trump como Presidente? Já temos uma ideia

por Andreia Martins - RTP
Duas semanas após a eleição, o Presidente eleito desvenda as prioridades de início de mandato Mike Segar - Reuters

O Presidente eleito dos Estados Unidos divulgou um vídeo em que elenca as primeiras medidas a que irá dar atenção logo no início do mandato, com destaque para a intenção de retirar a América do acordo comercial transpacífico (TPP). O emprego, o fim de restrições à indústria e a investigação nos programas de atribuição de vistos são outras prioridades de Donald Trump.

“Um potencial desastre para o nosso país”. É assim que o sucessor de Barack Obama vê o acordo comercial transpacífico assinado entre os Estados Unidos e 12 países da região Ásia-Pacífico, incluindo, entre outros, o Canadá, México, Austrália, Malásia, Singapura, Vietname e Chile. 

O acordo transpacífico (TPP) demorou sete anos a ser negociado e partiu da iniciativa de Obama, não tendo ainda obtido a aprovação no Senado norte-americano.  

Nos termos do acordo, o comércio entre os países subscritores, entre eles o Japão, seria facilitado com a diminuição de tarifas e a unificação das regras de copyright.
 
“Em vez do acordo, vamos negociar acordos bilaterais justos, que tragam o emprego e a indústria de volta aos EUA. Já não era sem tempo”, acrescenta o magnata republicano.

Horas antes das declarações de Donald Trump, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, avisou que o acordo transpacífico não teria qualquer sentido sem a participação dos Estados Unidos. 

“Sem os Estados Unidos, o TPP não tem significado. É impossível renegociar o TPP e se for esse o caso, uma renegociação viria destabilizar o equilíbrio fundamental de interesses”, disse o primeiro-ministro nipónico durante uma visita de estado a Buenos Aires. 

De recordar que Abe esteve nos Estados Unidos na semana passada, tendo sido mesmo o primeiro chefe de Governo a encontrar-se com o próximo Presidente, no sentido de evitar o abandono do acordo fulcral para o Japão pelos EUA. Mas o golpe de charme não resultou. 
Protecionismo, imigração e emprego
A notícia fintou a imprensa e chegou ao público via YouTube na noite de segunda-feira, num vídeo disseminado pelas redes sociais. Voltado para a câmara e a ler diretamente do teletexto, o Presidente eleito dos Estados Unidos deu a conhecer os seus planos para os primeiros dias na Casa Branca, que incluem medidas em diversas áreas desde o comércio, emprego, imigração e segurança nacional. 



“A minha agenda vai basear-se num princípio básico e simples: colocar a América em primeiro lugar. Quer se trate de produzir aço, construir carros ou curar doenças, quero que a próxima geração de produção e inovação aconteça aqui, na nossa grande pátria, a América, criando riqueza e emprego para os trabalhadores americanos”, reiterou.

Em matéria de imigração, tema central durante a campanha do Presidente eleito, Trump não falou das promessas do passado, como a construção de um muro na fronteira com o México, ou a interdição de muçulmanos em território norte-americano.  

Prometeu antes medidas protecionistas que vão no sentido de “investigar os abusos nos programas de atribuição de vistos”, que segundo o sucessor de Obama “prejudicam o trabalhador americano”.

No que diz respeito à segurança nacional, Trump prometeu um plano destinado a proteger as mais vitais infraestruturas norte-americanas “dos ciberataques e de todas as outras formas de ataque”. De fora ficaram assuntos preponderantes durante a campanha, como a fatia dos Estados Unidos no âmbito da NATO e a relação com a Rússia de Vladimir Putin.
Menor regulação nas empresas
Sem esquecer as palavras de ordem que lhe abriram as portas da Casa Branca, Donald Trump prometeu “tornar a América grande para todos, e eu quero dizer todos”, em consonância com a mensagem deixada após o triunfo de há duas semanas sobre Hillary Clinton. No discurso de vitória, Trump prometeu “ser o Presidente de todos os americanos”, incluindo os que votaram na adversária democrata ou todos os que não se reviam nas suas políticas.

No entanto, haverá neste uma fatia de defensores do ambiente que não se sentem incluídos. Negacionista assumido no que diz respeito às alterações climáticas, Donald Trump prometeu, em pouco mais de dois minutos e meio de vídeo, “cancelar as restrições à produção de energia, incluindo xisto e carvão”.

O fim destas restrições deverá criar “milhões de empregos altamente remunerados”, defende o Presidente eleito.  
Penalização do lobbying

Depois do choque inicial na economia e nas bolsas, os dias que se seguiram à vitória de Trump foram marcados pela boa resposta de algumas empresas nos mercados, incluindo as produtoras de petróleo e gás natural, que anteviam precisamente a anulação de restrições impostas durante os mandatos de Barack Obama e que tinham como intuito a defesa do meio ambiente.
 
O candidato anti-sistema e que se apresentou ao mundo como apolítico, quer mudar o país a começar desde logo em Washington, com medidas restritas que penalizem práticas associadas ao lobbying

Donald Trump promete lutar contra a burocracia e adotar uma nova “ética” na política. O objetivo é interditar o acesso ao setor privado durante cinco anos por parte de qualquer político com poderes executivos. 
Equipa em construção
No vídeo divulgado na segunda-feira, o Presidente eleito assegura aos norte-americanos que as escolhas para a Administração Trump estão a ser feitas de forma “muito suave, eficiente e eficaz”. Contraria, dessa forma, os vários rumores e as informações que têm saído da Trump Tower, e que classificam o processo de escolha como “um autêntico caos”.

Donald Trump tem optado por não falar diretamente à imprensa, manifestando-se antes pelo Twitter. Garante agora, via Youtube, que não há problemas na construção na equipa que o irá acompanhar nos próximos quatro anos.

Alguns nomes indicados pelo Presidente eleito já são conhecidos do grande público e incluem Reince Priebus no lugar de chefe de gabinete, o antigo tenente do Exército Michael Flynn, como conselheiro de Segurança Nacional, o polémico Stephen Bannon para o lugar de conselheiro, Mike Pompeo, antigo membro do Tea Party, no lugar de diretor da CIA, e ainda Jeff Sessions, antigo senador do Alabama que deverá ocupar o cargo de procurador-geral. 



Muito esperado é o anúncio da escolha para o lugar de secretário de Estado, que deverá ser atribuído a Rudy Giuliani, antigo mayor de Nova Iorque, ou a Mitt Romney, candidato republicano nas presidenciais de 2012, que tem um historial pouco pacífico com Donald Trump. 

No entanto, os restantes nomes da Administração Trump só deverão ser conhecidos na próxima semana, depois do Dia da Ação de Graças, um feriado nacional norte-americano.  

Já se sabe, no entanto, que o Presidente não poderá apontar Nigel Farage como embaixador do Reino Unido em Washington. No Twitter, Donald Trump sugeriu que o líder interino do UKIP, voz proeminente no voto que desembocou no Brexit, faria “um ótimo trabalho” enquanto representante.

Londres não se fez esperar na resposta e reiterou que “não há vaga” para o cargo de embaixador nos Estados Unidos, cargo que já está ocupado por Kim Darroch.

"Não há vaga. Já temos um excelente embaixador em Washington", respondeu um porta-voz do n.º 10 de Downing Street ao comentário de Donald Trump.
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