Piloto russo garante que não sobrevoou Turquia "nem um segundo"

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Eduard Korniyenko - Reuters

O piloto russo que sobreviveu à queda do bombardeiro russo Sukhoi Su-24 desmentiu esta quarta-feira as autoridades turcas, quer sobre o facto de estarem a sobrevoar espaço aéreo turco, quer sobre os dez avisos para abandonar a região que a tripulação do bombardeiro teria ignorado. Esta terça-feira Ancara justificou o disparo do míssil que abateu o avião russo com esses dois pormenores, mas o Kremlin fez desde logo saber que não engolia a história e Vladimir Putin disse à Turquia que isto foi “uma facada pelas costas”.

A tese de Ancara sofreu esta quarta-feira novo contraditório e desta vez o mais forte dos contraditórios: o testemunho do capitão Konstantin Murakhtin, um dos dois pilotos do bombardeiro, o único que sobreviveu à queda do SU-24.

Num depoimento emitido pela televisão a partir da base aérea de Hmeymim, o oficial russo garantiu que não chegou à sua equipa qualquer aviso por parte do F16 turco e, mais do que isso, que “não havia qualquer possibilidade” de terem violado o espaço aéreo turco na fronteira com a Síria, onde Moscovo está a bombardear posições dos combatentes do Estado Islâmico.
Resgatado pelas forças especiais
O capitão Murakhtin foi resgatado numa operação que levou 12 horas e envolveu membros das forças especiais russas – de acordo com Moscovo, um fuzileiro acabaria por morrer.Murakhtin já manifestou vontade de voltar ao ativo e avisa que alguém vai ter de pagar pelo que aconteceu ao seu copiloto, tenente-coronel Oleg Peshkov.

Já na base síria de Hmeymim, onde se encontra estacionada a esquadra russa que está a participar nas operações aéreas contra o Estado Islâmico, o capitão Murakhtin explicou que conhece “muito bem” a região que estavam a sobrevoar no momento em que foram atacados e que pode garantir que o SU-24 não entrou em espaço aéreo turco “nem mesmo por um segundo”.

Já o segundo piloto terá sido morto quando ambos se ejetaram do avião em chamas. Os pilotos caíram numa zona dominada por rebeldes turcomanos, que à vista dos militares terão começado a metralhá-los.

Um vídeo difundido no YouTube mostra primeiro a imagem de um avião em chamas e a explodir quando atinge o solo e, logo após, o momento em que os rebeldes disparam contra paraquedistas.



A sequência termina com um grupo de guerrilheiros à volta do que será um militar morto, alegadamente o copiloto russo, o tenente-coronel Oleg Peshkov. Por enquanto desconhece-se o que é feito do seu corpo.
Ofensiva económica
Depois das acusações da cúpula russa contra as ações turcas - e depois de Putin ter falado em “facada nas costas” -, o Kremlin pôs em marcha uma ofensiva económica contra a Turquia, embora em modo soft.Depois da Alemanha, a Turquia é o segundo maior comprador do gás natural russo. A Gazprom fornece qualquer coisa como 27 biliões de metros cúbicos aos turcos por ano, ou seja, 70 por cento do total de gás consumido no país.

Pelo que a perda de um mercado desta dimensão acarretaria custos muito elevados quer para o orçamento russo, quer para a Gazprom.


Alguns analistas sublinham o desejo de Putin de arrumar a questão de uma vez. Há contudo um pormenor regional que impediria esse golpe de misericórdia: Moscovo e Ancara mantêm uma parceria à margem do mainstream europeu, fruto de uma certa marginalização a que são votados no centro da Europa.

Ou seja, Putin não tocará nos negócios do gás e da energia, já que qualquer corte de relações a esse nível seria escusadamente destrutivo para ambos.

Assim, a decisão é dar um sinal com ataques pontuais ao turismo – o MNE Sergei Lavrov desaconselhou as viagens à Turquia e logo algumas agências de turismo retiraram o destino dos seus cartazes. O mesmo sinal será dado ao nível da importação de bens.
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