Portugal poderá receber 3.000 refugiados

por Graça Andrade Ramos - RTP
Um rapazinho migrante brinca com o chapéu de serviço de um polícia austríaco durante a transferência de comboios que o irá levar de Salzburgo, na Áustria, aos arredores de Munique, Alemanha. Michael Dalder - Reuters

No Luxemburgo, para debater a resposta ao fluxo de migrantes e a sua distribuição pelos vários países europeus, reuniram-se os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia.

Na discussão sobre a distribuição dos refugiados e migrantes, Bruxelas poderá atribuir a Portugal cerca de 3.074. O Governo já está a preparar um campo de acolhimento no Algarve.

À saída da reunião, o ministro português Rui Machete afirmou à Lusa que Portugal tem de "fazer um esforço de generosidade" no quadro de solidariedade europeia face à crise migratória e que o fará estando disposto a receber mais do que 1.500 refugiados.

"Nós já tínhamos feito uma oferta de (acolhimento de) 1.500 refugiados e estamos dispostos, dentro das nossas possibilidades, a aumentar esse número, porque o problema humano o exige. Portanto, não vamos limitar-nos a esse número, vamos aceitar um número dentro daquilo que seja a equidade de uma repartição razoável, mas temos que fazer um esforço de generosidade e fá-lo-emos certamente. Aliás, é esse o sentimento do povo português", disse.

A Comissão Europeia conta apresentar na próxima quarta-feira um plano de quotas a atribuir a cada país membro da UE, para alojar urgentemente 120.000 pessoas chegadas recentemente a Itália, Grécia e Hungria, os países mais afetados pela crise até agora.

A Polónia já disse por seu lado que só poderá receber 2.000 refugiados, considerando que já fez a sua quota parte ao acolher milhares de refugiados ucranianos, nos últimos meses. Ao lado da Hungria, Eslováquia e República Checa, recusa a obrigatoriedade de quotas que França e Alemanha defendem.
Fracasso da política europeia para as migrações
À chegada à reunião, o ministro austríaco pediu à Europa para "abrir os olhos", afirmando que "o transporte dos migrantes mostra o bazar em que se transformou a Europa neste momento".

Já o seu homólogo húngaro foi mais duro e descartou responsabilidades do seu Governo na crise, apontando o dedo ao "fracasso da política de emigração" europeia.

"O que se passou na Hungria desde a noite passada é consequência, primeiro, do fracasso da política migratória da União Europeia", considerou Peter Szijjarto, lançando a responsabilidade sobre as "declarações irresponsáveis" da Alemanha que anunciou que não reenviaria os refugiados para o país onde entraram na UE.

De acordo com as regras europeias, os migrantes devem ser registados no primeiro país onde entrem, antes de poder circular no espaço Schengen. Em agosto, o afluxo de 50.000 migrantes tornou impossível à Hungria cumprir esta lei em tempo útil. E muitos refugiados recusaram ser registados, com receio de serem repatriados.
Exército na fronteira húngara
A Hungria, que tem estado desde maio a construir uma barreira de 175 Km na sua fronteira sul, anunciou mesmo esta manhã que, a partir de 15 de setembro, irá colocar o exército a vigiar e a controlar a passagem de migrantes.

Desde agosto que a Europa vive a pior crise de refugiados desde a Segunda Grande Guerra. A maioria sonha em chegar à Alemanha. O Governo de Angela Merkel já reviu aliás em alta para 800.000 o número dos pedidos de asilo que espera receber este ano.

Mais de 366.000 pessoas terão atravessado o Mediterrâneo desde o início de 2015 tendo morrido mais de 2.800 na viagem. O fluxo migratório vindo de África há vários anos e normalmente quase ignorado pela generalidade dos países europeus foi de repente reforçado por uma avalanche de pessoas vindas da Síria e do Iraque, que fogem da guerra nos seus países.

A elas, na rota que provém da Turquia e da Grécia, juntaram-se milhares vindos do Paquistão e do Afeganistão e de várias dezenas de outros países.
Desporto solidário com migrantes
Apesar dos receios do impacto que a vinda milhares de pessoas de mais de 50 países poderá ter no tecido social, económico e político da Europa, multiplicam-se na maioria dos países as iniciativas para acolher os refugiados e migrantes.

Na Grã-Bretanha a pressão popular obrigou o Governo a anunciar que irá acolher mais imigrantes do que o inicialmente previsto. Milhares de voluntários e de pessoas anónimas têm feito questão de ir à rua acolher os refugiados e migrantes, distribuindo ajuda alimentar e roupa.

O Clube espanhol Real Madrid anunciou esta manhã que irá doar um milhão de refugiados para os refugiados acolhidos em espanha", colocando ainda à disposição locais e conjuntos desportivos para os jovens.

Quinta.feira já o alemão Bayern de Munique tinha anunciado disponibilidade para doar um milhão de euros e trabalhar com as autoridades da cidade para instalar terrenos de treino, fornecer refeições e equipamentos de futebol às crianças, assim como cursos de alemão.

O Comité Olímpico Internacional comprometeu-se igualmente a criar um fundo de 1,79 milhões de euros.
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