Portugal tem de mudar de atitude sobre o colonialismo - Cineasta Hugo Vieira da Silva

por Lusa

Berlim, 12 fev (Lusa) - O realizador da longa-metragem "Posto Avançado do Progresso", que se estreia hoje no Festival Internacional de Cinema de Berlim, Hugo Vieira da Silva, disse que "Portugal tem de mudar de atitude para refletir sobre o colonialismo".

"Se há uma ideia identitária de ser português, essa ideia está muito colada a uma era colonial que foi muito mal problematizada: às vezes é vista de uma forma muito radical e anticolonialista, que foi necessária numa altura, outras vezes de uma perspetiva saudosista, que também não interessa absolutamente nada. Portugal tem de mudar de atitude para refletir sobre o colonialismo", afirmou o realizador em Berlim.

O filme, rodado em Angola, conta a história de dois colonizadores portugueses que chegam ao antigo Reino do Congo (correspondente hoje a partes do território de Angola, da República do Congo, República Democrática do Congo e Gabão), no século XIX, para coordenarem um posto comercial de marfim, com o objetivo de fazerem fortuna.

"O meu filme fala sobre a impossibilidade de comunicação destas duas culturas. Os dois portugueses do filme não podem perceber racionalmente o que se passa à volta deles, porque é impossível entender a cultura de um sítio em regime colonial", acrescentou.

Em declarações à agência Lusa em Berlim, o realizador referiu que é necessária alguma distância para falar sobre a colonização portuguesa em África, acrescentando que "foi uma descoberta emocionante ir a Angola, porque se descobriu imensas coisas sobre Portugal em Angola".

Vieira da Silva disse que persiste em África "uma atitude quase sobranceira e colonialista", por parte de elementos da comunidade de europeus, "que vivem há 30 ou 40 anos naquela zona e não falam quicongo, por exemplo, porque acham que a língua não tem dignidade".

O realizador acredita que há "um trabalho a ser feito em Portugal e em Angola, para os países se libertarem dos estereótipos do colonialismo", referindo que Portugal pode "fazer mais" através "da estimulação das produções de cinema desses países".

A película, com produção de Paulo Branco e adaptada da obra de Joseph Conrad, foi selecionada para a secção Fórum do festival Berlinale, um segmento definido pela organização como "avant-garde" e experimental.

Os atores portugueses Nuno Lopes e Ivo Alexandre e o ator angolano David Caracol são os protagonistas do filme, mas o realizador integrou angolanos e congoleses, que conheceu localmente, no elenco da longa-metragem.

"Posto Avançado do Progresso", que se estreia, hoje, às 19:30, em Berlim (hora local, 18:30 em Lisboa), é o segundo filme de Hugo Vieira da Silva a integrar o programa do Berlinale, uma vez que o filme "Swans" foi apresentado na mesma secção do festival, em 2011.

Para esta 66.ª edição do festival de cinema de Berlim, que encerra no próximo dia 21, foram selecionados oito filmes de produção portuguesa, três dos quais para a competição oficial, constituindo a maior participação nacional de sempre.

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