Prémio Sakharov atribuído a duas mulheres yazidi

por RTP
O êxodo das famílias yazidi no Iraque após a ofensiva do grupo Estado Islâmico em agosto 2014 que escravizou milhares de mulheres e de raparigas Rodi Said - Reuters

O Parlamento Europeu escolheu atribuir esta quinta-feira o prémio Sakharov 2016 "pela liberdade de espírito" a duas mulheres yazidi que escaparam do grupo Estado Islâmico.

Nadia Murad Basee Taha e Lamia Haji Bachar tornaram-se símbolos da defesa da comunidade yazidi, após terem vivido um verdadeiro pesadelo, tal como milhares de outras mulheres raptadas e submetidas à escravatura sexual pelos militantes do grupo extremista islâmico.

Os seus nomes foram propostos pelos grupos socialista e liberal do Parlamento Europeu.

A imagem das duas laureadas com o Prémio Sahkarov 2016 publicada no sítio do Parlamento Europeu

Nadia e Lamia têm agora 23 e 18 anos. São consideradas sobreviventes de um autêntico genocídio levado a cabo pelo Estado Islâmico contra o povo yazidi, na sua ofensiva no norte do Iraque em julho e agosto de 2014.

As mulheres jovens e raparigas das aldeias yazidi nos Montes Sinjar foram escolhidas a dedo para integrarem uma rede de escravas sexuais vendidas e trocadas repetidamente entre os militantes do grupo ao longo dos anos seguintes.
Raptadas e escravas
As duas premiadas são oriundas da mesma aldeia, Kocho, cuja população foi dizimada pelo EI no dia 3 de agosto de 2014. Os homens e as mulheres mais idosas foram assassinados a tiro e após o massacre os militantes raptaram as mulheres jovens e as crianças.

"Todas as jovens, incluindo Lamiya Aji Bashar, Nadia Murad e as suas irmãs foram raptadas, compradas e vendidas várias vezes, e exploradas para fins de escravatura sexual", refere o local da candidatura do Parlamento Europeu.

"Durante o massacre de Kocho, Nadia Murad perdeu seis dos seus irmãos e a mãe, que foi morta juntamente com oitenta mulheres mais idosas consideradas como não tendo qualquer valor sexual. Lamiya Aji Bashar também foi explorada como escrava sexual, juntamente com as suas seis irmãs", prossegue o texto.

"Foi vendida cinco vezes entre os militantes e forçada a fabricar bombas e coletes suicidas em Mossul depois de os militantes do EI executarem os seus irmãos e o pai", conclui.

Nadia foi violada coletivamente várias vezes tendo sido forçada a converter-se ao Islão e espancada. Escapou em novembro de 2014 com a ajuda da família com quem vivia em Mossul.

Lamia, raptada com apenas 16 anos, ficou cativa 20 meses, tentando a fuga várias vezes. Só foi bem sucedida em abril, com a ajuda da família, que contratou passadores locais. Durante a fuga, perseguida, foi atingida pela explosão de uma mina que vitimou mortalmente dois parentes e a deixou ferida e quase cega.

Conseguiu no entanto escapar e acabou por ser tratada na Alemanha, juntando-se a irmãos sobreviventes.
Denúncia de genocídio
Após escapar, Nadia Murad e Lamia Haji Bachar tornaram-se porta-vozes do sofrimento de milhares de pessoas ainda cativas.

Lamia ajuda mulheres e crianças vítimas da crueldade do EI.

Nadia tornou-se em meados de setembro a primeira embaixadora da boa vontade da ONU para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico de Seres Humanos.

Tem denunciado o massacre do seu povo como genocídio, assim como apelado à união internacional para deter o Estado Islâmico.

Nadia Murad falou em abril de 2016 com os migrantes confinados no campo de Idomeni, junto à fronteira greco-macedonia Foto Reuters

Nadia visita e exorta igualmente milhares de migrantes confinados em campos europeus.

Em outubro de 2016, o Conselho da Europa homenageou-a com o Prémio dos Direitos Humanos Václav Havel.

De acordo com os especialistas da ONU cerca de 3.200 yazidi permanecem nas mãos do Estado Islâmico, a maioria na Síria.
Outros laureados
O Prémio Sakharov, no valor de 50.000 euros, deverá ser entregue numa cerimónia em Estrasburgo dia 14 de dezembro.

Em 2015 distinguiu o blogger saudita Raif Badawi, um defensor da liberdade de pensamento e de expressão que foi preso e flagelado.

A paquistanesa Malala Youssafzai e o cubano Guillermo Fariñas são outros nomes a quem foi atribuído o Prémio do Parlamento Europeu.
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