Presidente da Hungria demite-se depois de ser acusado de plágio

por Joana Tadeu, RTP
Pal Schmitt é o primeiro presidente a demitir-se desde a transição da Hungria para a democracia em 1990 Laszlo Beliczay, EPA

O presidente húngaro, Pal Schmitt, que perdeu o título de doutorado na semana passada por uma acusação de plágio, anunciou esta segunda-feira que renuncia ao cargo, sendo substituído por Laszlo Kover.

Uma semana depois de ter perdido o título de doutoramento da Universidade de Semmelweis por alegado plágio, o Presidente da Hungria, Pal Schmitt, anunciou a demissão. O Parlamento da Hungria já a aceitou. Dos 349 deputados, 338 votaram a favor da renúncia ao cargo, com cinco a votar contra e seis a utilizar o direito de abstenção na votação de segunda-feira no Parlamento.

"De acordo com a Constituição húngara, a qual eu assinei, o presidente expressa a unidade da nação", disse ao Parlamento. "A cláusula significa que nesta situação, quando o meu problema pessoal divide a minha amada nação ao invés de uni-la, é meu dever acabar com o meu serviço e renunciar ao meu mandato como presidente", declarou.

Um relatório da Universidade afirma que Pál Schmitt copiou o conteúdo de 180 das 215 páginas da tese académica sobre o programa dos Jogos Olímpicos Modernos que escreveu há 20 anos. Os partidos da Oposição pediram a renúncia imediata do Presidente, que assumiu o cargo em 2010, depois de a acusação surgir numa reportagem do website húngaro HGV.hu.
Já não é Doutor
Na semana passada, o doutoramento de Schmitt, aprovado em 1992, foi revogado depois de se confirmar que a maioria da sua tese tinha sido copiada do trabalho de dois outros autores. Para a maioria dos membros do senado da Universidade de Semmelweis, esse trabalho académico "não respeitava nem os métodos científicos nem éticos" exigíveis. Dos 40 membros do Senado, 37 estiveram na reunião que revogou o doutoramento, dos quais apenas quatro votaram contra esta decisão.

“O processo [de atribuição] de doutoramento – apesar das referidas falhas – foi formalmente realizado de acordo com a prática da Universidade de Ciências Desportivas, que na altura funcionava de forma independente. O trabalho baseia-se em grandes quantidades de texto traduzido na íntegra, o que não se sabia na altura, apesar de isso dever fazer parte do processo. A Universidade de Ciências Desportivas cometeu erros profissionais por não ter descoberto a identidade desses textos a tempo, possivelmente dando a entender ao autor que a sua dissertação preenchia os requisitos”, avaliou o comité, segundo o jornal Budapest Times.

A tese incluía uma bibliografia, mas não citava fontes e não apresentava notas de rodapé ou de fim, de acordo com o relatório publicado no site da universidade. No entanto, o senado não usa a palavra "plágio" no resumo de três páginas do relatório.

Cronologia de uma demissão (Fotografias: EPA e semmelweis-univ.hu)

O antigo campeão olímpico de esgrima, que valeu à Hungria duas medalhas de ouro em 1968 e 1972, respondeu imediatamente que a tese de doutoramento nada tem que ver com o motivo que o levou à Presidência da Hungria, acrescentando, nas declarações que ainda ontem deu aos jornalistas, que não pensava demitir-se.

Centenas de pessoas tinham protestado nos últimos dias frente ao palácio presidencial exigindo a demissão de Schmitt, que é considerado o Presidente húngaro menos popular desde a queda do comunismo.
Laszlo Kover é novo Presidente interino
Laszlo Kover irá substituir Schmitt até que um novo presidente seja eleito pelos deputados nos próximos 30 dias. O primeiro-ministro Viktor Orban, do partido governante Fidesz, já começou as conversações com os outros quatro partidos parlamentares para encontrar o sucessor de Schmit.

O primeiro-ministro húngaro Viktor Orban fala com o Presidente demissionário. EPA

Schmitt apresentou a demissão ao Parlamento esta manhã, dizendo que "fez um trabalho honesto" e que a universidade não tinha "nenhum direito" de lhe retirar o título de doutor. Deixou rapidamente a câmara acompanhado pelo primeiro-ministro Viktor Orban, enquanto os deputados do partido do Governo e dos Democratas-Cristãos lhe concederam uma ovação de pé.

No domingo, Tivadar Tulassay, o reitor da Universidade de Semmelweis, que concedeu o grau de Doutor a Schmitt, demitiu-se, dizendo que não sentia que tivesse a confiança do Ministério dos Recursos Nacionais, que supervisiona os assuntos da Educação do país e "por se sentir isolado e incapaz de gerir sozinho as consequências deste caso", de acordo com um comunicado publicado no site da instituição.

"Esta é uma questão de honra, e a minha consciência está limpa", disse Schmitt este domingo, acrescentando que foi vítima de um ataque político e que iria escrever uma nova tese de doutoramento sobre a relação entre o desporto e a proteção ambiental, de forma a provar que consegue satisfazer as exigências académicas da Universidade.
Comité Olímpico Internacional vai estudar o caso
Schmitt é membro do Comité Olímpico Internacional (COI) desde 1983, chefia o Comité Olímpico Húngaro desde 1990 e foi vice-presidente do COI entre 1995 e 1999. Na sexta-feira, o COI disse que vai analisar o caso de plágio e decidir se será necessário tomar alguma medida.
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