Rafael Marques diz que Governo angolano deve "habituar-se" a ouvir quem pensa diferente

por Lusa

Luanda, 25 jun (Lusa) - O ativista angolano Rafael Marques mostrou-se convencido que atos de solidariedade como o realizado hoje em defesa dos 17 jovens condenados a prisão por rebelião podem levar o Governo a "habituar-se" a ouvir quem "pensam diferente".

Dezenas de pessoas, entre políticos e civis, juntaram-se hoje em Luanda num "encontro de solidariedade", organizado pelo portal de investigação jornalística makaangola, de Rafael Marques, e a rádio Despertar, em que além de familiares dos jovens detidos, participaram também vítimas de alegados atos de intolerância contra militantes da União Nacional para a Independência de Angola (UNITA), ocorrido em algumas regiões do país.

Durante o encontro, familiares dos jovens ativistas leram algumas mensagens dos detidos, contaram as dificuldades por que têm passado e apelaram à sua libertação.

A iniciativa, que surge na semana em que passa um ano das primeiras detenções em Luanda no caso dos 17 ativistas - incluindo o `rapper` luso-angolano Luaty Beirão, contou com dois momentos, tendo a segunda parte sido reservada a partidos políticos presentes ao ato.

Representantes da UNITA, do Partido de Renovação Social (PRS), do Bloco Democrático e do Partido Democrático para o Progresso e Aliança Nacional de Angola (PDP-ANA) leram mensagens de encorajamento e apelaram à libertação dos jovens ativistas.

Em declarações à imprensa, Rafael Marques disse que ações do género devem servir de reflexão para "ajudar o próprio Governo a habituar-se a ouvir as pessoas, a pensar diferente, a serem críticas".

"Como o próprio Presidente até já disse que se quer retirar em 2018, então se há pessoas aqui a dizer que o Presidente deve abandonar o poder, então estão apenas a repetir aquilo que o Presidente já disse e isso não é crime nenhum, até porque o presidente já tinha dito que queria sair", disse Rafael Marques.

Segundo o jornalista e ativista angolano, o objetivo fundamental do encontro passou por garantir que haja proteção do direito à vida, pela vida dos cidadãos, que deve se estender a todos os cidadãos sem exceção.

Rafael Marques sublinhou que em Angola é costume pensar-se que a vida do adversário é inferior a de quem está do outro lado, daí que os organizadores decidiram estender a solidariedade também àqueles casos de intolerância política.

"Temos que ter essa consciência, porque durante anos fomos divididos, obrigados a pensar que aqueles que são da oposição ou de um partido diferente do que apoiamos ou de uma organização diferente do que a que apoiamos não merece o mesmo respeito que nós", frisou.

Os participantes ao encontro puderam também ouvir testemunhas de casos de intolerância política, como o último registado contra uma delegação de parlamentares da UNITA na comuna de Capupa, província de Benguela, relatado na primeira pessoa pelo líder da bancada parlamentar do maior partido da oposição angolana, Adalberto da Costa Júnior.

Igualmente um sobrevivente do caso ocorrido no monte do Sumi, na província do Huambo, que envolveu o líder da seita angolana "A Luz do Mundo", José Kalupeteka, contou os momentos vividos naquele dia em que morreram nove polícias e dezenas de civis, fiéis daquela igreja.

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