Recolher obrigatório e vídeo sobre homicídio policial não travam manifestações

por RTP
Mike Blake, Reuters

A polícia de Charlotte, na Carolina do Norte, cedeu finalmente à reivindicação de divulgar as imagens de vídeo sobre o momento em que foi abatido por um agente o cidadão afroamericano Keith Scott. Mas a divulgação das imagens levanta mais perguntas do que aquelas que responde.

A polícia de Charlotte divulgou imagens do momento em que o cidadão afroamericano Keith Scott foi abatido a tiro por um agente. As imagens incluem as captadas pela câmara incluída no equipamento dos agentes e uma outra câmara do veículo policial.

As imagens não confirmam a versão da polícia, segundo a qual Scott teria em seu poder uma arma. Através delas, não é possível verificar se a vítima tem alguma coisa nas mãos.

Junto com as imagens dos últimos momentos da vítima, foram divulgadas fotografias de uma pistola e de um pacote de marijuana que a polícia diz ter encontrado em seu poder. Mas a montagem é da responsabilidade da polícia e não existe nenhuma imagem onde estejam tanto a vítima como os objectos representados nas fotografias.

Justin Bamberg, o advogado da família da vítima, reagiu à divulgação das imagens sublinhando que elas mostram Scott a sair do carro, acatando as ordens da polícia, e que não mostram da sua parte qualquer comportamento suspeito ou agressivo, tal como não confirmam que ele tenha algum objecto nas mãos, e menos ainda a natureza desse alegado objecto.

A polícia começara por resistir à divulgação das imagens, que na verdade não vieram dar força à sua versão dos factos. Mas ontem acabara por ceder à pressão da rua, que tinha precisamente como uma das suas fundamentais reivindicações a da divulgação das imagens.

Durante três dias e noites consecutivas, manifestações de milhares de pessoas em Charlotte tinham desafiado abertamente o estado de emergência e, depois, o próprio recolher obrigatório. Dessas manifestações resultara a morte de um manifestante, também vítima de disparo policial.

Na noite de sábado para domingo, pela quarta vez consecutiva, os manifestantes voltaram à rua depois de terem sabido da divulgação das imagens.

Esta não aplacou a desconfiança, continuando ontem a ser exibidos numerosos cartazes e faixas com o popular slogan Black lives matter ("As vidas dos negros têm importância"). Mas outros iam mais longe e exibiam cartazes reclamando a dissolução da polícia do Estado da Carolina do Norte, considerada especialmente violenta e racista.

Entre os manifestantes destacava-se ainda a presença de numerosos jovens brancos, alguns nomeadamente exibindo dísticos com um outro slogan popular: a pergunta Am I next? ("Serei eu a próxima vítima?").

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