Relatório da ONU expõe “extermínio” de prisioneiros na Síria

por Andreia Martins - RTP
A Comissão Independente de Inquérito da ONU apresentou esta segunda-feira, em Genebra, na Suíça, um relatório com revelações brutais sobre a natureza das detenções de prisioneiros na Síria. Pierre Albouy - Reuters

A investigação das Nações Unidas denuncia uma “política de Estado" no extermínio de milhares de prisioneiros, levada a cabo pelo regime sírio de Bashar al-Assad.

Uma crise de violação dos direitos humanos “urgente e em larga escala”. O relatório divulgado esta segunda-feira pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas denuncia casos em que os prisioneiros são torturados e espancados até à morte e outros que morrem por falta de alimentação, água ou assistência médica.

Na base deste relatório de 25 páginas, intitulado “Longe da Vista, longe do coração: mortes nas prisões da República Árabe da Síria”, estão sobretudo entrevistas com várias testemunhas, cujos relatos abrangem todo o período do conflito civil, que dura já há quase cinco anos. Os responsáveis das Nações Unidas estimam que estejam na ordem das dezenas de milhares o número total de prisioneiros detidos pelo regime de Bashar al-Assad.

Paulo Sérgio Pinheiro, diplomata brasileiro envolvido na investigação, refere que o governo sírio “manteve intencionalmente estas condições precárias de detenção para prisioneiros“. Segundo a ONU, o Governo sírio estava “ciente de que tais condições levariam a mortes em massa” nas prisões.

O relatório cita casos em que os guardas foram vistos a dar ordens para a tortura dos detidos ou outros em que os próprios detidos eram obrigados a transportar cadáveres pelos corredores, que eram muitas vezes intencionalmente deixados a apodrecer nas casas de banho dos centros de detenção.
Oposição também tortura
Este documento coincide com os relatos citados num outro relatório, conhecido em dezembro do ano passado. Na altura, a Human Rights Watch denunciava torturas e execuções de pelo menos sete mil prisioneiros pelo regime de Bashar al-Assad com base no registo de um antigo fotógrafo oficial do Governo.

Este fotógrafo conhecido como "César" denunciou as práticas do regime através da divulgação de mais de 28 mil fotografias.

Mas este relatório não acusa só os responsáveis do Governo. Também o lado rebelde é responsável pela tortura de prisioneiros e claras violações dos Direitos Humanos, nomeadamente por militantes do autoproclamado Estado Islâmico, onde a tortura e as execuções se tornaram "rotina". No entanto, a grande maioria dos casos citados são referentes a agressões por parte do regime sírio.

A ONU refere que o número de vítimas desde março de 2011, mês em que se iniciou a Guerra Civil na Síria, já ultrapassa os 250 mil mortos - mais de 13 milhões de pessoas estão dentro do país e necessitam de ajuda humanitária, enquanto cerca de 4,6 milhões são deslocados que conseguiram abandonar o país.
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