O Presidente interino do Brasil, Michel Temer, elogiou o ministro do Planeamento e frisou que Romero Jucá ficará afastado do Governo até que seja esclarecido o conteúdo da gravação telefónica que comprometeu o governante. Dyogo Oliveira, secretário-executivo do Ministério do Planeamento, vai ocupar o cargo deixado pelo presidente do PMDB.
O ministro afirmou que ficará afastado do cargo até que o Ministério Público Federal se pronuncie sobre os áudios e acrescentou que, se for considerado inocente, regressará ao Executivo.
“Eu sou presidente do PMBD e um dos consultores deste Governo. Não farei nada que possa prejudicar. Vou sair de licença amanhã [esta terça-feira]. Enquanto o Ministério Público não se manifestar, afirmar que não houve crime, eu aguardo fora do Ministério”, afirmou o ministro demissionário.
A exoneração de Romero Jucá vai ser publicada esta terça-feira.
Após a divulgação das escutas, Jucá e Temer estiveram reunidos no Palácio de Jaburu, onde decidiram que Dyogo Oliveira ficaria de forma interina como ministro do Planeamento.
A Operação Lava Jato investiga o maior esquema de corrupção no Brasil. O ministro do Planeamento também é investigado.
Temer elogia Jucá
Numa nota enviada à comunicação social, Michel Temer saliente que conta com Jucá no Senado, “auxiliando o Governo de forma decisiva, com a sua imensa capacidade política”.
“Registo o trabalho competente e a decisão do ministro Jucá no correto diagnóstico da nossa crise financeira e na excecional formulação de medidas a serem apresentadas, brevemente, para a correção do défice fiscal e da retoma do crescimento da economia”, acrescenta a nota divulgada por Michel Temer.
Entretanto, o Estadão avança que o Presidente interino convocou todos os líderes de partidos aliados da Câmara dos Deputados e do Senado para uma reunião às 9h45 (13h45 de Lisboa) desta terça-feira. O objetivo deste encontro é que os líderes tenham acesso ao pacote económico antes da divulgação ao povo.
O jornal acrescenta que Temer recorreu aos serviços de informações, inclusivamente à Agência Brasileira de Inteligência, para apurar a veracidade da informação de que Sérgio Machado teria gravações comprometedoras também com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e com o ex-Presidente da República José Sarney.
“Os órgãos de inteligência não conseguiram confirmar, mas também não desmentiram categoricamente se há ou não gravações”, acrescenta o Estadão.
As conversas entre Jucá e Machado
As conversas - divulgadas pela Folha de São Paulo - entre Romero Jucá, ministro demissionário do Planeamento, e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, decorreram em março, semanas antes da votação na Câmara dos Deputados que desencadeou o impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
Foto: Ueslei Marcelino - Reuters
Os diálogos, gravados de forma oculta e que estão em poder da Procuradoria-Geral da República, revelam Jucá a sugerir a Machado que “uma mudança” no Governo Federal resultaria num pacto para “estancar a sangria” representada pela Operação lava Jato, na qual ambos estão a ser investigados.
Num dos diálogos, Sérgio Machado fala sobre o risco de as denúncias se tornarem mais frequentes a partir de uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça que autorizou prisões de segunda instância. Para o ex-presidente da Transpetro, isso poderia provocar um “efeito cascata e o aumento das denúncias”.
Na conversa, Sérgio Machado afirmou que novas denúncias na Operação Lava Jato não “deixariam pedra sobre pedra”.
O ex-presidente da Transpetro temia que as investigações contra si fossem enviadas para Brasília, onde tramitariam no Supremo Tribunal Federal, para a vara do juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da operação Laja Jato na primeira instância.
Jucá afirma que seria necessária uma resposta política para evitar que o caso caísse nas mãos de Moro: “Se é político, como é a política? Tem de resolver essa porra. Tem que mudar o Governo para estancar essa sangria”.
Ao que Machado responde que era necessário “uma coisa política e rápida”.
Governo não deve interferir, defende Moro
Foto: Paulo Whitaker - Reuters
O juiz Sérgio Moro não quis comentar a gravação entre Romero Jucá e Sérgio Machado.
“Não tenho comentário específico sobre essa situação porque não estou totalmente a par”, afirmou Moro, para quem “os assuntos pertinentes à Justiça não devem ter interferência do Governo e vice-versa”. Moro foi um dos convidados do Fórum Veja, onde participou também o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso.
“Não deve haver nenhuma interferência do Governo. Os trabalhos devem ser independentes”, frisou.
Quanto à possibilidade de a Operação Lava Jato perder fôlego com a mudança do Governo, o juiz afirmou que a operação “não é um seriado, existe um trabalho de investigação feito entre quatro paredes”, e “continua normalmente”
“É difícil dimensionar a corrupção, mas quando os casos são revelados e a Justiça não dá uma resposta é um incentivo para esse comportamento”, acrescentou.
Para Moro, “a Justiça não é o único remédio para vencer a corrupção. Tem de haver uma ação conjunta com associações públicas e privadas. Os trabalhos da Justiça continuam e a expectativa é que a sociedade aproveite a oportunidade do momento para incorporar o combate à corrupção de uma maneira mais duradoura”.
“Caráter golpista do impeachment”
Foto: Paulo Fonseca - EPA
A Presidente brasileira com o mandato suspenso, Dilma Rousseff, afirmou que os áudios das conversas entre o ministro Romero Jucá e Sérgio Machado deixam “evidente o carácter golpista e conspiratório” do seu processo de destituição.
“A gravação mostra o ministro do Planeamento interino, Romero Jucá, defendendo o meu afastamento domo sendo forma integrante, fundamental, de uma pacto nacional, e tinha por objetivo interromper as investigações da Lava Jato. Deixa evidente o carácter golpista e conspiratório que caracteriza este processo de impeachment”, afirmou Dilma Rousseff.
Para a Presidente, que está com o seu mandato suspenso durante 180 dias, “este episódio demonstrou que o processo de impeachment é a melhor estratégia para paralisar a Operação Lava Jato”.
“Fui afastada por 180 dias, para que seja julgado um pedido fraudulento. Um dos principais articuladores confessa involuntariamente sou golpista, somos golpistas e o golpe está em curso”, sublinhou.
Dilma Rousseff criticou ainda Michel Temer, afirmando que “o Presidente provisório não foi autorizado pelo povo a mexer nos programas sociais e a diminui-los”.
“Não podemos deixar que isso aconteça”, rematou.
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