Rousseff diz que vai ao Senado defender a democracia nas vésperas do julgamento

por Lusa

São Paulo, Brasil, 24 ago (Lusa) - Dilma Rousseff, Presidente do Brasil com mandato suspenso, disse na noite de terça-feira, em São Paulo, que vai ao Senado para defender a democracia e o voto das 54 milhões de pessoas que a apoiaram nas últimas eleições.

"Aconteça o que acontecer temos a clareza que a democracia é algo muito valioso, por isto temos que lutar por ela de tempo em tempos. Eu não vou ao Senado [defender-me das acusações do processo de `impeachment`] porque acredito no poder dos meus belos olhos, mas vou porque acredito na democracia. Devo isto ao povo brasileiro e vou continuar lutando", afirmou.

A chefe de Estado suspensa esteve presente num ato promovido pela Frente Brasil Popular, um movimento social no país, na Casa de Portugal dois dias antes do início do julgamento do `impeachment` (destituição) na câmara alta do Brasil.

Falando para cerca de mil pessoas, lotação máxima do espaço onde aconteceu o evento, ela pediu aos presentes que continuem resistindo ao processo de destituição ainda em andamento, que voltou a classificar como um golpe de Estado parlamentar.

Sobre este ponto, Dilma Rousseff fez uma metáfora dizendo que a democracia seria uma espécie de árvore que é cortada por um machado quando ocorre um golpe militar.

No seu processo de `impeachment` aconteceria algo diferente, uma espécie de ataque de parasitas que estariam a tomar parte dos galhos da árvore (a democracia) matando-a pouco a pouco.

Dilma Rousseff também não poupou críticas ao Governo interino liderado por Michel Temer, dizendo que o programa de reformas anunciado até o momento sobre alterações nas leis trabalhistas, mudanças nas regras de previdência social e também em privatizações de empresas públicas vai contra os interesses dos brasileiros.

No final do discurso, voltou a frisar que encara o processo de `impeachment` como algo muito duro.

"Sei que sou inocente e que é uma injustiça o que estão a fazer comigo. A democracia é algo muito valioso para a gente não lutar por ela. Lutei minha vida inteira, contra a tortura, lutei contra um cancro e vou lutar agora", concluiu.

Dilma Rousseff é acusada de ter cometido crime de responsabilidade ao praticar manobras fiscais com o objetivo de melhorar as contas públicas e assinar decretos a autorizar despesas que não estavam previstas no orçamento.

O julgamento terá início na próxima quinta-feira às 09:00 horas (13:00 em Lisboa) e não existe um prazo determinado para finalizar, segundo o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que comanda esta última fase do processo.

Se efetivado, o `impeachment` de Dilma Rousseff será o primeiro da história do Brasil em que o Presidente lutou até ao fim.

Para ser condenada, 54 dos 81 senadores que compõem a câmara alta devem considerá-la culpada. Neste caso, Dilma Rousseff perde definitivamente o posto de Presidente e também ficará impedida de participar de eleições para cargos públicos por oito anos.

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