Rússia convida Administração Trump para conversações sobre a Síria

por Graça Andrade Ramos - RTP
Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, em 17 de janeiro de 2017, em Moscovo Sergei Karpukhin - Reuters

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, considera justo convidar a Administração Trump para participar nas conversações de paz sobre a Síria, marcadas para dia 23 em Astana, capital do Cazaquistão.

Em conferência de imprensa, Lavov referiu esperar que o convite seja aceite. Espera também uma cooperação mais efetiva na Síria com a Administração Trump do que a registada com a Administração Obama.

"Está a ser preparado um encontro em Astana. Consideramos apropriado convidar os representantes das Nações Unidas e da nova Administração norte-americana para participar nele" referiu Lavrov.

"Esperamos que a nova Administração possa aceitar o convite e que seja representada por especialistas a todos os níveis possíveis", acrescentou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia.

"Este será o primeiro contacto durante o qual será possível debater formas de aumentar a eficácia da luta contra o terror na Síria" frisou Lavrov, aplaudindo o desejo, expresso por Trump, de dar prioridade à luta contra o terrorismo internacional.O responsável pela diplomacia russa abriu ainda a porta ao diálogo com os EUA sobre capacidades estratégicas militares, incluindo armas nucleares e espaciais, o escudo anti-mísseis americano na Polónia, armas hipersónicas e testes atómicos.

Barack Obama deixa a Casa Branca no final da semana, no mesmo dia da inauguração de Donald Trump como Presidente, já na próxima sexta-feira, dia 20.

As conversações em Astana poderão assim ser o primeiro teste internacional da nova Administração dos EUA, liderada pelo novo secretário de Estado nomeado por Tump, o ex-CEO da ExxonMobil Rex Tillerson.

São desde já o primeiro teste à Rússia como líder internacional isolado em conversações de paz, já que os Estados Unidos foram excluídos desde o princípio da organização destas negociações.
Grupos armados participam
A ronda negocial foi organizada pela Rússia, Turquia e Irão, tendo sido desde logo confirmada a participação do Governo sírio. O Presidente Bashar al-Assad já disse que está disposto a "debater tudo".As conversações em Astana irão incidir na forma de manter em todo o país o cessar-fogo declarado após a reconquista de Alepo por parte de Damasco, no mês passado, antes do Natal. Operações humanitárias estão igualmente na agenda, mas uma solução política para a Síria não será debatida.

Nas últimas horas e ao fim de cinco dias de negociações em Ancara, capital da Turquia, diversos grupos armados da oposição afirmaram estar dispostos a ir a Astana.

Mohammad Alloush, um dos líderes do grupo Jaish al-islam, disse segunda-feira que iria chefiar a delegação dos grupos armados rebeldes, explicando que participa para "neutralizar o papel criminoso do Irão na Síria".

"Todos os grupos rebeldes vão a Astana", afirmou. "Todos concordaram", disse Alloush à agência France Presse. "Astana é um processo para por fim ao derrame de sangue do regime e dos seus aliados. Queremos por fim a esta série de crimes", referiu.
Curdos e takfiristas afastados
O Alto Comité para as Negociações, o principal bloco da oposição política síria, já tinha dito que apoiaria a participação nas conversações de uma delegação militar anti-governamental.

Apesar das declarações de Alloush, outros grupos armados, incluindo o Ahrar al-Sham, um dos principais, decidiram não ir a Astana. Também os influentes grupos curdos não foram convidados, numa concessão à Turquia.

De fora de Astana - tal como do cessar-fogo - ficaram ainda os grupos armados takfiristas - que seguem uma interpretação ultra-extremista do Islão - como o Estado Islâmico e o Jabhat Fateh al-Sham, antiga Frente al-Nusra, equacionada como a al Qaeda na Síria.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Cazaquistão, Kairat Abdrakhmanov, já disse que está tudo pronto em Astana para receber as conversações.
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