As cerimónias fúnebres de Shimon Peres realizaram-se esta sexta-feira em Jerusalém com a presença das mais distintas figuras e líderes políticos a nível mundial, entre eles o Presidente norte-americano Barack Obama e o líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas.
O estadista foi um dos “pais fundadores” de Israel e tinha sofrido um AVC a 13 de setembro. Encontrava-se hospitalizado desde então e acabou por morrer na última quarta-feira.
Shimon Peres percorreu vários cargos políticos em Israel e foi protagonista dos acordos de Oslo, assinados com os palestinianos em 1990, o que lhe valeu a atribuição do Nobel da Paz, quatro anos mais tarde.
Peres vai agora ficar entre Yitzhak Rabin e Yitzhak Shamir, antigos chefes de governo de Israel. Yitzhak Rabin, na altura primeiro-ministro, foi assassinado por um ultranacionalista israelita em 1995, na sequência dos acordos de paz alcançados com o então líder palestiniano, Yasser Arafat.
Para a cerimónia, as autoridades israelitas destacaram um forte dispositivo de segurança, com mais de oito mil polícias. As principais estradas entre o aeroporto de Telavive e Jerusalém foram temporariamente encerradas para a passagem da comitiva norte-americana.
Fátima Marques Faria, Rui Magalhães - RTP
Um trabalho por terminar
Obama fez questão de sublinhar que a paz entre israelitas e palestinianos continua "inacabada". Num dos elogios fúnebres mais esperados da manhã, o líder norte-americano notou que a presença de Abbas no funeral lembra que o conflito ainda não terminou e que a paz está por alcançar.
“Peres mostrou-nos que a justiça e a esperança estão no cerne da ideia sionista”, apontou Obama.
Num discurso de quase 20 minutos, o Presidente norte-americano enfatizou que o principal legado de Peres é a busca incessante pela paz e a resolução definitiva do conflito israelo-palestiniano.
"Mesmo num contexto de ataques terroristas, mesmo após repetidas desilusões à mesa das negociações, Shimon Peres insistiu que os palestinianos, como seres humanos, deveriam ser vistos como iguais aos judeus em termos de diginidade, e por isso iguais no que diz respeito à sua autodeterminação", realçou.
Barack Obama colocou ainda Shimon Peres na categoria de outros "gigantes do século XX" que teve a honra de conhecer, comparável à grandeza do líder sul-africano Nelson Mandela.
Kevin Lamarque - Reuters
Obama chegou na manhã desta sexta-feira a Telavive e deslocou-se a Jerusalém, acompanhado por John Kerry, o secretário de Estado norte-americano, e Bill Clinton, antigo Presidente dos Estados Unidos, que supervisionou a assinatura dos acordos de Oslo entre israelitas e palestinianos.
Em 2012, Barack Obama tinha concedido a Peres a “Medalha da Liberdade”, a distinção civil mais elevada nos Estados Unidos. Na quarta-feira, aquando da notícia da morte do antigo estadista, o líder norte-ameriano lembrou o "amigo".
Cumprimento entre Abbas e Netanyahu
Entre outras figuras de destaque, estiveram presentes o Presidente francês, François Hollande, a chanceler alemã Angela Merkel, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, o príncipe Charles, os antigos líderes britânicos Tony Blair e David Cameron e ainda o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Portugal esteve representado na cerimónia por Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros.
Bill Clinton, que supervisionou os acordos de Oslo entre israelitas e palestianos da Casa Branca, recordou o “amigo” como um “sonhador otimista” de “sorriso luminoso”.
“Tinha uma capacidade interminável de ver para além dos reveses mais esmagadores. Peres começou a sua vida como o mais brilhante estudante de Israel, tornou-se no seu melhor professor e terminou como o seu maior sonhador”, referiu o antigo Presidente.
Kevin Lamarque - Reuters
No discurso perante quase uma centena de convidados ilustres, o primeiro-ministro israelita referiu que "Shimon viveu uma vida com objetivos. Ergueu-se a alturas incríveis. Convenceu muitos com a sua visão e a sua esperança".
Benjamin Netanyahu lembra "um grande homem de Israel, um grande homem do mundo. Israel chora-o, o mundo chora-o". "Encontramos esperança no seu legado, tal como faz o mundo", acrescenta o líder.
O primeiro-ministro israelita não deixou, no entanto, de evocar as suas divergências políticas com o histórico líder. Relembrou, em particular, uma discussão que teve enquanto Peres era Presidente do Estado de Israel.
"Ele disse-me que a paz é a verdadeira segurança e que sem a paz não há segurança. Eu respondi-llhe: Shimon, no Médio Oriente a segurança é uma condição essencial para a paz e para o estabelecimento da paz. Ambos estávamos certos".
Um dos momentos mais simbólicos da cerimónia aconteceu precisamente quanto Mahmoud Abbas, o líder da Autoridade Palestiniana, apertou a mão de Benjamin Netanyahu, logo no início das celebrações.
— עמית סגל (@amit_segal) 30 September 2016
Vários repórteres presentes retiveram a breve troca de palavras e aperto de mão. “Há muito tempo, há muito tempo”, referiu o líder palestiniano.
Em resposta, Netanyahu deu as boas vindas a Abbas e agradeceu a sua presença: “É algo que muito apreciamos, digo-o em nome do nosso povo, em nosso nome”.
As negociações de paz entre Israel e Palestina estão congeladas desde 2014. Os dois líderes recusam conversações diretas desde 2010, último ano em que Abbas tinha visitado Jerusalém.