Síria lança grande ofensiva militar terrestre com apoio da Rússia

por Graça Andrade Ramos - RTP
Imagem de arquivo de tropas leais ao Presidente sírio em Adra al-Omalia Omar Sanadiki - Reuters

Fontes militares sírias confirmaram estar em curso uma grande operação militar terrestre do exército, apoiado por aviões russos, no centro do país.

Os alvos centram-se na província de Hama e na vizinha Idlib.

"O exército sírio e os seus aliados iniciaram uma vasta operação terrestre no norte da província de Hama, com a cobertura aérea russa" afirmou a fonte, citada pela agência France Presse.

Um vídeo colocado no You Tube por ativistas no terreno mostra um alegado bombardeamento russo desta quarta-feira, no qual terão morrido pelo menos quatro pessoas e feridas mais de uma dezena. O número de vítimas deverá subir, acrescentam as mesmas fontes, citadas pela televisão do Qatar Al Jazeera.


É impossível confirmar a autenticidade do vídeo e da sua descrição.

Este é o primeiro grande ataque coordenado entre as forças sírias, apoiadas pela guerrilha do Hezbollah, e a força aérea russa que, desde há uma semana, participa no teatro de guerra em apoio ao Governo do Presidente Bashar al-Assad.

Os ataques das tropas sírias e das milícias do Hezbollah, suas aliadas, atingiram pelo menos quatro posições rebeldes perto da principal auto-estrada que liga o sul ao norte da Síria e que une diversos dos maiores centros urbanos do país.
Síria ataca em Hama, Idlib e Homs
Estão a registar-se fortes combates, de acordo com Rami Abdul al-Rahman, líder do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, OSDH, uma organização baseada em Londres que acompanha o que se passa na Síria.

As tropas de Damasco estão a utilizar bombardeamentos pesados com mísseis terra-terra Grad, contra pelo menos quatro alvos rebeldes na área norte de Hama.

A televisão estatal síria afirmou que as tropas governamentais atacaram o campo de gás de Sha'ar e a aldeia de Qaryatain na província de Homs, assim como Ashtan, uma cidade a leste da base aérea da Rússia na província de Hama.



Esta quarta-feira os bombardeamento aéreos russos atingiram as cidades de Kafr Zita, Kafr Nabudah, al-Sayyad e a aldeia de Latamneh na província de Hama. Em Idlib sofreram ataque as cidades de Shaykhun e de Alhbit.

"Não há ainda informações sobre avanços no terreno, mas os bombardeamentos aéreos atingiram veículos e bases rebeldes" afirmou Abdul al-Rahman. Não há informação de tropas russas no terreno, acrescentou.

Esta é a primeira grande ofensiva combinada do Governo sírio em mais de quatro anos de conflito.
Mísseis-cruzeiro contra o Estado Islâmico
A semana passada a agência Reuters revelou que Damasco estava a planear uma grande operação militar, juntamente com os seus aliados, incluindo os iranianos. O objetivo da ofensiva é recuperar terreno perdido nos últimos meses pelas forças sírias leais a Assad, face as forças rebeldes.

A Rússia iniciou a 30 de setembro a sua participação na guerra síria, em apoio a Bashar al-Assad, afirmando que o seu objetivo era a luta "contra o terrorismo", incluindo o grupo Estado Islâmico, que domina a parte leste da Síria.

A maioria dos seus ataques tem tido como alvo grupos rebeldes, apoiados pelo Ocidente e que combatem eles mesmos tanto o Estado Islâmico, como as milícias leais à al Qaeda, da Frente al-Nusra, e o exército governamental.

Num encontro transmitido pela televisão estatal russa, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, informou o Presidente Vladimir Putin que quatro navios russos no Mar Cáspio lançaram 26 ataques com mísseis cruzeiro contra 11 alvos do Estado Islâmico na Síria. Todos os alvos foram destruídos, afirmou.

Presidente russo Vladimir Putin e o ministro da Defesa Sergei Shougu, reunidos a 7 de outubro de 2015 Foto: Reuters

O Presidente anunciou por seu lado que "as próximas operações russas serão sincronizadas com as operações terrestres do exército sírio e as forças aéreas irão apoiar de maneira eficaz a ofensiva do exército sírio".

A operação russa na Síria poderá durar de várias semanas a alguns meses, referiram fontes do ministério da Defesa russo na semana passada.

Putin afirmou que é ainda demasiado cedo para falar dos resultados das operações russas na Síria e ordenou a Shoigu para prosseguir na sua cooperação com os Estados Unidos, a Turquia, a Arábia Saudita, o Irão e o Iraque, na guerra que divide a Síria.
Rússia acusa EUA de não combater o terror
Moscovo admitiu esta quarta-feira coordenar os seus ataques com as forças da coligação internacional contra o Estado Islâmico liderada pelos Estados Unidos.

Estes já vieram recusar a possibilidade. O secretário norte-americano da Defesa, Ash Carter, explicou que "não estamos preparados para cooperar numa estratégia que como nós dissemos é errada, tragicamente defeituosa por parte da Rússia".

Os Estados Unidos afirmam que a estratégia russa vai reforçar os islamitas e provocar uma escalada no conflito sírio.

Por seu lado, o major-General Igor Konashenkov, porta-voz do ministério da Defesa, apontou o dedo ao que considera a falta de vontade dos Estados Unidos em combater o terrorismo.

"Os nossos aliados de outros países, que vêem no Estado Islâmico um inimigo real que tem de ser destruído, ajudam-nos ativamente com dados sobre as bases, os armazéns, postos de comando e campos de treino de terror", afirmou, citado pela Agência russa RIA Novosti.

"Mas aqueles que parecem ter uma opinião diferente sobre esta organização, estão constantemente à procura de razões para nos negar a cooperação na luta contra o terrorismo", acrescentou.

Vários incidentes de violação do espaço aéreo turco durante o fim de semana e segunda-feira, por parte de caças russos, põem em questão a boa fé de Moscovo e podem ser vistos como uma provocação à NATO, de que a Turquia é membro.

O primeiro-ministro turco afirmou esta quarta-feira que, dos 57 ataques realizados na Síria pela força aérea russa, na última semana, apenas dois se dirigiram a alvos do estado Islâmico. O restante atingiu as forças rebeldes que se opõe a Bashar al-Assad e que dominavam já praticamente toda a província de Idlib.

No seu encontro com o ministro russo da Defesa, Putin afirmou que, desde 30 de setembro, a Rússia atingiu 112 alvos, sublinhando a "dificuldade das operações" anti-terroristas.
Pedido iraquiano à Rússia
Em Bagdade, o Governo iraquiano afirmou já que poderá igualmente pedir a intervenção aérea russa contra alvos do Estado Islâmico e pretende que Moscovo tenha um papel importante na luta contra o grupo.

"Podemos ser forçados a pedir à Rússia que inicie em breve ataques aéreos no Iraque. Penso que nos próximos dias ou semanas o Iraque vai ser forçado a pedir à Rússia para lançar ataques aéreos e isso depende do seu sucesso na Síria", disse Hakim al-Zamili, líder do comité de Defesa e Segurança do Parlamento iraquiano.

Bagdade e os seus aliados iranianos, que abastecem e apoiam milícias xiitas iraquianas no terreno, têm questionado a vontade real dos Estados Unidos em combater o Estado Islâmico e queixam-se da ineficácia dos bombardeamentos aéreos americanos.

O Governo russo já se mostrou disponível para ajudar Bagdade.
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