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Submarinos alemães põem Netanyahu na mira da Justiça

por RTP
Andrew Kelly, Reuters

O procurador-geral israelita acaba de ordenar a abertura de uma investigação ao caso que envolve o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, numa compra de três submarinos alemães. O caso arrasta-se há uma semana nos media, com a suspeita de que o advogado de Netanyahu teria servido de pivot na compra dos submarinos classe Dolphin-2. Nova informação recebida da polícia levou esta quarta-feira Avichai Mendelblit a dar luz verde ao inquérito.

A compra dos submarinos alemães mereceu num primeiro momento a oposição quer dos militares (IDF – Israel Defense Forces) quer do antigo ministro da Defesa, Moshe Ya’alon, que conseguiu dissuadir Benjamin Netanyahu. Mas Ya’alon sairia do governo em oposição aberta com o primeiro-ministro, o que abriu novas possibilidades ao negócio.

A compra destes três submarinos dotará a Marinha israelita de esquadrilha de nove vasos.O que ficou sob suspeita após uma investigação da cadeia de televisão Channel 10 foi um cenário em que o advogado pessoal de Netanyahu, David Shimron, também ao serviço dos alemães ThyssenKrupp, se teria servido dessa posição privilegiada para fazer de pivot no negócio de três submarinos da classe Dolphin-2, que custarão a Israel quase 1.500 milhões de euros. Miki Ganor seria o representante e a ligação ao fabricante alemão.

O anúncio do inquérito foi feito esta quarta-feira, uma semana depois de rebentar o escândalo, pelo próprio ministro da Justiça: “Na sequência de novas informações recebidas hoje da polícia e tendo em conta outros desenvolvimentos na matéria … o procurador-geral ordenou uma investigação a ser levada a cabo pela polícia”.

As informações em causa poderão ter a ver com um email revelado esta terça-feira pelo Channel 10. A mensagem saída do gabinete do ministro da Defesa levanta novamente suspeitas contra Shimron, aqui com o seu envolvimento num negócio de contratorpedeiros, também para a marinha.

No email, datado de 22 de julho de 2014, pode ler-se: “O advogado David Shimron, que representa a empresa alemã, falou comigo e queria saber se nós vamos travar a abertura de concurso [dos contratorpedeiros] de forma a poder negociar directamente com o seu cliente, conforme nos foi solicitado pelo primeiro-ministro”.O advogado pessoal de Netanyahu terá servido de canal de comunicação entre o gabinete do primeiro-ministro e os responsáveis da empresa alemã.

Em sua defesa, Shimron garantiu ao Channel 10 nada ter dito “ao [director-geral do Ministério da Defesa] Ben-Ari relativamente ao primeiro-ministro".

"Também não sabia nada sobre um pedido do primeiro-ministro, de que apenas agora tive conhecimento, através dos media. A única interpretação possível relativamente a este email, se a sua citação está correta, é que Ben-Ari sabia do pedido do primeiro-ministro, sobre o qual eu não tinha a mais vaga noção. Também não tinha a mais vaga noção sobre o envolvimento do primeiro-ministro na questão dos estaleiros. Qualquer outra interpretação não tem nenhuma ligação com a verdade”.
Netanyahu nega tudo
Netanyahu

"O princípio que me guia é claro: dar a Israel a Israel a capacidade para se defender de qualquer inimigo em qualquer situação".
No início da semana, o primeiro-ministro havia já tentado descartar qualquer envolvimento no caso, explicando que as suas decisões são tomadas tendo em consideração, antes de tudo, a segurança do Estado de Israel. “Como primeiro-ministro, dedico a maior parte do meu tempo à segurança de Israel. O princípio que me guia é claro: dar a Israel a capacidade para se defender de qualquer inimigo em qualquer situação”.

Prosseguindo nesta lógica, Benjamin Netanyahu declarou que a renovação da frota de submarinos era fundamental para a segurança israelita, já que “este é armamento estratégico que garante o futuro de Israel e a própria existência de Israel durante dezenas de anos”.

A decisão de avançar com o negócio, ancorada na política securitária do Estado, mereceu também o apoioi do ministro da Defesa. Esta quarta-feira, durante a conferência anual do Jerusalem Post, Avigdor Liberman declarou que esta foi a decisão correcta, “[e nisto temos o apoio de] um largo consenso no que respeita à nossa política de segurança”.
Os três Dolphin-2
O negócio dos Dolphin-2 – destinados a renovar a frota israelita – tem conhecido avanços e recuos. Assim, numa primeira fase o primeiro-ministro decidiu avançar com a aquisição, para aparecerem vozes discordantes. Moshe Ya’alon terá conseguido travar uma compra que não lhe fora comunicada, situação em que estava o negócio aquando da sua demissão em Maio passado após um confronto aberto com Netanyahu.

De acordo com o Channel 10, a saída de Ya’alon acabaria por dar novo fôlego ao primeiro-ministro, que acertou pouco depois o negócio com os alemães. Há três semanas, no Knesset (Parlamento israelita), Benjamin Netanyahu abordou o assunto pela primeira vez, anunciando que Israel iria adquirir os três submarinos à Alemanha.

Quanto ao esquema denunciado pelo Channel 10, um porta-voz do primeiro-ministro rejeitou na altura todas as acusações: “Netanyahu não conhece [Miki] Ganor como não conhece também qualquer ligação entre ele e [David] Shimron, que nunca discutiu os assuntos dos seus clientes com o primeiro-ministro. A única motivação por detrás do negócio com os alemães é puramente estratégica e económica”.
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