Tecnologia portuguesa em Marte com a ExoMars

A ExoMars - missão da Agência Espacial Europeia (ESA) – tem por objetivo procurar vestígios de vida em Marte foi construída com ajuda de vários países europeus e também com uma parceria russa. Entre os vários colaboradores tecnológicos, Portugal faz-se representar com algumas empresas ligadas à área de engenharia aeroespacial.

Tudo começou quando decorria o mês de dezembro de 2005, quando o conselho interministerial dos vários países participantes na ESA aprovou um plano de financiamento avaliado em 650 milhões de euros, para uma missão espacial europeia no âmbito do programa Aurora.

A ideia inicial tinha como missão a implantação uma pequena sonda estacionária e um “rover” em Marte.
A sonda fixa inicialmente projetada pala ESA tinha um peso previsto aproximado de 180 quilos, tendo a Schiaparelli atualmente quase 600 quilos.
O conceito de missão era na sua essência, semelhante ao projeto da NASA Mars Exploration Rovers, mas o foco do robot científico da ESA seria muito diferente do estipulado pela missão da NASA, que não foi concebida para procurar bioassinaturas no planeta vermelho.

Em junho de 2007 a ESA aproximou-se pela primeira vez aos serviços espaciais russos, oferecendo-lhes ajuda para a missão Phobos-Grunt, na lua marciana de Phobos.

Em troca, a Rússia forneceria boleia num foguete Proton para o lançamento da ExoMars, muito embora este negócio não se tenha vindo a verificar.

No final de 2007, a missão ExoMars já tinha o orçamento avaliado em mais de mil milhões de euros e, dado o aumento de carga, surgia a necessidade de um lançador mais poderoso. A missão é revista e opta-se então por dividir em duas fases a missão.

Em julho de 2009, a NASA e a ESA assinaram um protocolo conjunto de exploração, em que os dois engenhos científicos seriam transportados até à orbita terrestre através dos foguetões Atlas V.


Ficou ainda estabelecido que a missão da Exomars, em 2016 seria liderada pela ESA, enquanto a missão de 2018 com “rover” seria conduzida pela NASA.

Tecnologia portuguesa na missão ExoMars
Active Space Technologies

É preciso muita paciência, dinheiro, muito engenho e arte para construir sondas espaciais que têm por missão explorar sozinhas um "espaço desconhecido".

Por essa razão, a Agência Espacial Europeia não recusa a ajuda preciosa dos vários parceiros nesta epopeia espacial.

Entre eles está Portugal, com a participação na construção de alguns equipamentos que fazem parte dos sistemas de exploração orbital e da superfície marciana das sondas espaciais.

Ricardo Patrício, CEO na empresa Active Space Technologies (AST), explica que esta empresa nacional participou com um estudo sobre a composição térmica da superfície de Marte, que visa dar uma melhor informação sobre os melhores locais para a sonda Schiaparelli aterrar.

Um mapa térmico construído pela empresa AST faz agora parte do sistema de navegação da sonda Schiaparelli e será decisivo para escolher o melhor local para ficar o resto da vida.

Mas engana-se quem julga que as temperaturas em Marte são mais suaves que aqui na Terra.

Apesar de o planeta estar mais longe do Sol, as temperaturas variam entre os 60º graus centigrados negativos, nos polos, e as altas temperaturas no equador, que podem alcançar os 150º centigrados - uma responsabilidade que o CEO da Active Space Technologies, Ricardo Patrício, diz reconhecer.

A primeira parte da missão europeia Exomars está agora em plena atividade mas os vários engenheiros que trabalham nas tecnologias deste programa estão já a construir os modelos para a fase dois do projeto e a Active Space Technologies não é execção, diz Ricardo Patrício.

Trata-se de algoritmos matemáticos pré-programados made in Portugal, que custam, só para a missão ExoMars 2018-2020, cerca de dois milhões de euros, e que a AST quer ver multiplicados em futuros pedidos para a navegação espacial.

HPS

Mas, um pouco antes de a sonda Schiaparelli tocar no solo de Marte, uma outra empresa com capital luso deu "proteção térmica" ao escudo que faz a entrada na atmosfera rarefeita do Planeta Vermelho.

A empresa chama-se HPS, é luso-alemã, com sede no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC).

Esta empresa explica num comunicado ter sido responsável pelo desenvolvimento da parte térmica do Schiaparelli, módulo que aterra hoje na superfície do planeta Marte.



A HPS entrou neste projeto europeu em 2012 e esteve desde então "em todas as fases do projeto, desde o desenho preliminar passando pelos testes de qualificação até à integração do hardware no satélite".

"Por se tratar de uma missão que chega ao solo de outro planeta foram necessárias precauções extremas para não haver contaminação biológica da Terra em Marte".



Por esse motivo, todas as proteções térmicas foram produzidas na sala limpa da HPS, localizada no UPTEC, "em níveis elevadíssimos de limpeza e sujeitas a esterilização", esclarece a chief operating officer da HPS, Celeste Pereira.

Celeste Pereira refere ainda que foram necessárias várias horas de desenvolvimento e testes para assegurar os exigentes ambientes da missão", nomeadamente garantir "que os vários equipamentos estavam protegidos das temperaturas muito baixas durante a viagem Terra-Marte, bem como das muito altas durante as manobras de entrada e aterragem no planeta Marte".


Critical Software

Mas, para a sonda Schiaparelli chegar a Marte, outra sonda foi responsável pelo seu transporte e ai falamos da sonda orbital ExoMars TGO (Trace Gas Orbiter), que também teve de ser programada.

É precisamente aqui que entra Bruno Carvallho, responsável pela área de espaço da empresa Critical Software.

Este português foi um dos responsáveis pela criação dos sistemas críticos, e muito importantes, da sonda ExoMars TGO, que permitiu efetuar toda a navegação espacial entre o planeta Terra e Marte.

A sonda ExoMars TGO que transportou a cápsula que continha a sonda de construção italiana Schiaparelli teve de percorrer no seu trajeto até Marte mais de 500 milhões de quilómetros, largar a sonda que transportava três dias antes de chegar e colocar-se numa órbita elíptica ao planeta.

Funções criticas e de extrema exatidão que eram realizadas pela nave dependiam sempre do software criado por esta empresa portuguesa.

Bruno Carvalho trabalha na área de desenvolvimento de software espacial vai para 15 anos e diz que Portugal tem já uma grande capacidade tecnológica que permite rivalizar com outros países que procuram trabalhar nesta área.

Trata-se de uma área competitiva e que gera muitos interesses económicos mas em que o português diz que o nosso país merece ser escolhido.



Missão primordial: encontrar vestígios da existência de vida em Marte
Esta missão da Agência Espacial Europeia (ESA) vai procurar responder a algo que os cientistas há muito procuram em Marte: houve vida neste árido e vermelho planeta do sistema solar?

Uma das respostas para esta pergunta é a garantia da existência de gás metano no planeta - um gás que é naturalmente produzido por seres vivos.O peso molecular do gás metano é mais pesado do que o oxigénio o que faz com que este seja obrigando a ficar retido junto ao solo planetário.

Apesar de a atmosfera marciana ser muito rarefeita em comparação com a terrestre, espera-se encontrar a presença deste gás, concentrado nos primeiros metros rente ao chão marciano, para além de já se ter confirmado a existência de metano na atmosfera de Marte, por parte de algumas sondas que visitaram o planeta nos últimos anos.


Esse metano permitirá garantir que Marte já acolheu vida extraterrena. Portugal faz já parte desta missão que ficara na história da exploração espacial terrestre.