Tensão israelo-palestiniana faz crescer receios de nova Intifada

por RTP
Ibraheem Abu Mustafa, Reuters

As forças israelitas mataram cinco palestinianos na fronteira da Faixa de Gaza. Os soldados abriram fogo em represália contra o lançamento de pedras, um protesto levado a cabo por um grupo de jovens contra as recentes tomadas de posição do gabinete do primeiro-ministro israelita. Benjamin Netanyahu reforçou as medidas militares e condicionou o acesso à mesquita de al-Aqsa, na cidade de Jerusalém, uma medida contra a onda de ataques palestinianos que fizeram quatro vítimas mortais entre os israelitas. O cenário de escalada acende as memórias das duas Intifadas palestinianas.

Esta sexta-feira, um grupo de jovens palestinianos da Faixa de Gaza aproximou-se da fronteira com Israel lançando pedras e pneus em chamas contra as patrulhas israelitas. De acordo com a Reuters, tratou-se de uma acção de apoio aos protestos levados a cabo em Jerusalém, nos territórios ocupados da Cisjordânia.

Face à proximidade dos manifestantes – as forças israelitas falam de 200 jovens - os militares abriram fogo “contra os líderes numa tentativa de pôr fim ao protesto”. Cinco palestinianos morreram (três jovens de 20 anos, um de 19 e outro de 15) e outros trinta tiveram de ser conduzidos ao hospital, de acordo com fontes médicas palestinianas.

Uma porta-voz militar israelita confirmou inicialmente que o Tsahal tinha conhecimento de quatro mortos: “Os soldados no local responderam a tiro contra os principais instigadores para evitar que progredissem”.

Testemunhas acusaram entretanto Israel de ter abatido os jovens através da acção de snipers que foram colocados atrás das patrulhas israelitas.
Terceira Intifada?
Os correspondentes na região assinalam tempos de tensão que não se viam há muitos anos. Em dez dias, quatro israelitas foram mortos a tiro ou a golpes de faca, em Jerusalém e nos territórios ocupados. A série de ataques desencadeou sentimentos de vingança entre a população israelita, que encetou por seu lado uma autêntica caçada aos palestinianos residentes próximo dos colonatos.

São vários os vídeos online que registam execuções sumárias das forças de segurança de Israel. Videos que surgem nas redes sociais colocados pelos próprios israelitas, o que sugere um incitamento à violência.

Ainda esta sexta-feira, na cidade de Dimona, sul de Israel, um jovem israelita esfaqueou quatro palestinianos, tendo sido detido pelas forças de segurança. A mesma medida de violência esteve já presente do outro lado, quando, há dez dias, um casal israelita foi morto a tiro quando viajava de carro com os seus quatro filhos.

No seguimento de uma semana particularmente violenta na região, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, incitou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia a porem na rua uma nova Intifada: “É sexta-feira, é o dia da raiva. É o dia que marca o início de uma nova Intifada em toda a Palestina”.

Haniyeh dirigiu-se aos palestinianos após as orações de sexta-feira: “Nós daremos o sangue e a alma por Jerusalém, Jerusalém e Aqsa são parte da religião”, afirmou, para considerar “heróis” todos os palestinianos que levaram a cabo os ataques contra israelitas.

“Gaza está preparada para a batalha em Jerusalém”, avisou o chefe do Hamas, que governa a Faixa de Gaza.
Mesquita de al-Aqsa
A esta posição radical contrapõe-se a posição do presidente palestiniano, Mahmud Abbas, que pede aos palestinianos para se limitarem a “uma resistência pacífica”.

Netanyahu, por seu lado, assegurou que não quer alterar o status quo de al-Aqsa, mas decretou entretanto que a Esplanada das Mesquitas apenas estará acessível às mulheres e a homens com mais de 45 anos, o que desencadeou novo sentimento de frustração entre os fiéis palestinianos, que olham para al-Aqsa como o mais sagrado dos seus locais de culto, o terceiro do Islão.

“Estamos no meio de uma onda de terror. As acções não vão produzir resultados imediatos, como uma varinha mágica, mas com determinação vamos provar que o terror não nos vencerá”, sublinhava ontem o primeiro-ministro numa conferência de imprensa em que se fez acompanhar de responsáveis da segurança israelita.

Para temperar as águas, ambas as administrações decidiram que a polícia palestiniana continuará a coordenar esforços com o exército israelita para tentar diluir a tensão que se vive actualmente nos territórios.
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