Terceiro maior partido moçambicano qualifica de contrassenso negar existência de vala comum

por Lusa

Maputo, 31 mai (Lusa) - O MDM, terceiro maior partido moçambicano, considerou hoje um contrassenso alegações de inexistência de valas comuns no centro do país, condenando ainda a falta de autópsia por um médico legista de cadáveres descobertos na região.

"Negar que não há vala comum é um contrassenso, pois, onde houver mais que dois corpos é vala comum ou se trata de massacre", indica uma nota de imprensa enviada à Lusa pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que cita o presidente do terceiro maior partido, Daviz Simango.

Numa reação a pronunciamentos de várias entidades estatais e governamentais que rejeitam denúncias de existência de uma vala comum no centro do país, o MDM considera que as autoridades estão a pôr em causa a liberdade de imprensa por alegadamente ameaçarem jornalistas que relataram a existência de corpos abandonados no centro do país.

"Uma outra mentira monumental foi terem dito que os corpos foram enterrados. Testemunhas oculares desmentem esta versão e dizem que deitaram por cima dos corpos um bocado de areia, deixando várias partes dos corpos descobertos e ao alcance de abutres e de outros animais", lê-se na nota de imprensa.

Nenhuma autoridade religiosa ou mesmo tradicional, prossegue o comunicado, presenciou os supostos enterros que a que as entidades oficiais fazem menção.

"Reafirmamos que não houve nenhum enterro digno nem condigno dos corpos. Isso permite concluir que as autoridades moçambicanas nem aos mortos respeitam", afirmou Daviz Simango, que é igualmente edil da Beira, segunda maior cidade do país.

A cadeia de televisão internacional Al-Jazira deslocou-se há uma semana ao local onde foram localizados cadáveres abandonados no centro de Moçambique e, quase um mês após terem sido descobertos, ainda havia restos humanos à superfície.

As imagens da reportagem da Al-Jazira mostravam vestígios dos cadáveres visíveis, incluindo uma caveira e larvas sobre restos humanos, no local onde há mês uma equipa de jornalistas, entre os quais da Lusa, testemunharam e documentaram corpos abandonados no mato, sob uma ponte entre os distritos de Gorongosa e Macossa, junto da principal estrada do país.

A zona onde foram descobertos estes corpos, mais tarde também testemunhados por canais televisivos privados moçambicanos e admitidos depois de negados pelas autoridades locais, é a mesma onde camponeses locais alegaram à Lusa terem visto uma vala comum com mais de cem cadáveres.

Esta informação também foi desmentida por autoridades locais e judiciais, numa região sob forte vigilância militar, sobretudo desde as recentes denúncias de violações de direitos humanos.

A governadora da província de Sofala, onde se situa o distrito de Gorongosa, voltou a desmentir, na segunda-feira, a existência da vala com mais de cem corpos apontada pelos camponeses em Canda, distrito de Gorongosa.

"Estas informações são infundadas, uma pura mentira, mas têm objetivos inconfessáveis e de que nós nos distanciamos completamente", disse Helena Taipo à Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade da Assembleia da República, que se encontrava na Beira, capital de Sofala para uma investigação ao caso.

A Procuradoria-Geral da República de Moçambique disse, por sua vez, na semana passada que não encontrou a vala comum denunciada por camponeses no final de abril à Lusa, assegurando que vai continuar a investigar.

Vários jornalistas tentaram alcançar o local, mas sem sucesso devido a uma forte presença militar, tendo apesar disso localizado 15 corpos nas imediações.

Quer a Comissão Nacional de Direitos Humanos, vinculada ao Estado, como a ONU e organizações não-governamentais não se pronunciaram entretanto sobre se tentaram ou conseguiram ter acesso ao local.

A região da Gorongosa, onde se presume encontrar-se o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Afonso Dhlakama, tem sido marcada por confrontos entre o seu braço armado e as forças governamentais.

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