Turquia ergue tendas dentro da Síria para refugiados de Aleppo

por Graça Andrade Ramos - RTP
Trabalhadores de agências humanitárias turcas atravessaram a fronteira de Oncupinar para auxiliar milhares de sírios a quem Ancara recusa entrada na Turquia Osman Orsal - Reuters

Em vez de deixar entrar milhares de pessoas no seu território, Ancara prefere erguer um novo campo de refugiados junto à fronteira, do lado sírio, abastecendo-o de víveres e dando apoio médico.

A ofensiva governamental síria para cortar as rotas de abastecimento dos rebeldes em Aleppo, vindas da Turquia, está a provocar a fuga de milhares de pessoas das aldeias e localidades em todo o norte da província de Aleppo, na direção da fronteira turca.

O posto fronteiriço de Oncupinar, contudo, mantém-se encerrado para eles. Ancara, que já recebeu 2,5 milhões de refugiados, parou-os do lado sírio, apesar dos apelos da União Europeia para que os deixe entrar.

A multidão ascende já a cerca de 35 mil pessoas e inclui, além de crianças, muitos feridos nos bombardeamentos, alguns gravemente. O frio intenso que se faz sentir na região é outro problema.

Para a Turquia é complicado o equilíbrio entre acolher os sírios em fuga e impedir que sigam viagem até à Europa. Perante o impasse político avançaram as agências de apoio humanitário.
Novo campo do lado sírio
Na manhã desta segunda-feira, uma caravana de camiões e ambulâncias das agências humanitárias turcas atravessou a fronteira e várias equipas começaram a erguer tendas, enquanto outras distribuíam alimentos, para consternação dos sírios, que pretendem atravessar a fronteira e ficar em segurança.

"Estamos a levar os nossos esforços para dentro da Síria, para providenciar abrigo, comida e assistência médica às pessoas", justificou uma fonte não identificada da Fundação Turca de Auxílio Humanitário à agência Reuters. A agência encontrou uma mistura de tendas novas e velhas no campo de refugiados de Bab-al-Salama, em território sírio do outro lado de Oncupinar.

"Já estamos a erguer outro campo. Neste momento todos os nossos esforços centram-se em garantir que estas pessoas ficam confortáveis do lado sírio da fronteira", acrescentou.

Um refugiado reagiu desesperado. "Viemos para os campos com crianças, incluindo de um mês de idade. Estamos a virar-nos para a Turquia onde há segurança e não há bombardeamentos," disse à Reuters.

"No início, Recep Tayyip Erdogan - o Presidente turco - disse aos sírios que era o seu irmão. Não devia abandoná-los, devia abrir as portas, devia voltar a ajudá-los. Agora estas pessoas não têm para onde ir. Para onde irão? Não podem voltar para as suas casas".
Visita de Merkel
O Presidente turco disse no sábado que os sírios poderiam entrar na Turquia, caso fosse necessário. O vice-primeiro-ministro turco Numan Kurtulmus afimou, por outro lado, que a "Turquia atingiu o seu limite de capacidade de absorção de refugiados, mas ainda assim vamos deixá-los entrar."

Na conferência de doadores para a Síria, em Londres na semana passada, Ancara comprometeu-se a encontrar trabalho para os adultos e abrir as escolas às crianças, mediante algum auxílio financeiro de outros Estados para sustentar o esforço económico das medidas.

Esta segunda-feira a chanceler alemã deverá visitar Ancara para perceber exatamente quais os planos da Turquia, que aceitou em novembro passado receber 3.000 milhões de euros da União Europeia para acolher os refugiados e incrementar as operações de vigilância nas costas, mas que pouco parece estar a fazer.
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