Turquia não vai tolerar novas violações aéreas da Rússia

por Graça Andrade Ramos - RTP
Caças russos SU-25 a levantar da base aérea de Latakia, Síria, no dia 4 de outubro de 2015 EPA/Ministério da Defesa da Rússia

O primeiro-ministro turco, Ahmed Davutoglu, afirmou esta quarta-feira não estar interessado em ver a guerra síria transformar-se num conflito entre a Rússia e a NATO ou entre a Rússia e Turquia.

Davutoglu acrescentou contudo que a Turquia não irá "fazer concessões" quanto à violação do seu espaço aéreo, nem comprometer a segurança das suas fronteiras.

As violações do espaço aéreo turco por aviões russos ocorreram durante o fim de semana e na segunda-feira, no quadro das operações militares contra os inimigos do Governo do Presidente Bashar al-Assad, há precisamente uma semana.

Davutoglu acusou a Rússia de praticamente não atacar alvos do grupo islamita Estado Islâmico, principal motivo invocado internacionalmente por Moscovo para dar apoio aéreo às tropas no terreno do Governo do Presidente Bashar al-Assad.

"Só dois dos 57 ataques da Rússia visaram o Daech",afirmou o primeiro ministro, usando a sigla árabe para o grupo Estado Islâmico.

Os outros atingiram a oposição moderada na Síria, apoiada pela Turquia e pelos Estados Unidos, acrescentou Davutoglu em comentários à imprensa.
 
Os números são sustentados por informações militares turcas garantiu o primeiro-ministro, sublinhando que "se a oposição síria for enfraquecida será o Daech quem sairá reforçado."

Em declarações este sábado à televisão iraniana Khabar TV, o Presidente sírio Bashar al-Assad, afirmou que, pelo contrário, o sucesso da campanha militar da Síria e dos seus aliados, Rússia, Irão e guerrilha libanesa do Hezbollah, é vital para salvar da destruição o Médio Oriente.

Bashar al-Assad, Presidente da Síria, em entrevista à televisão iraniana Khabar TV, sábado dia 03 de outubro de 2015  Foto: Reuters/Sana

Esta quarta-feira, as forças russas e sírias lançaram o que parece ser o seu primeiro grande ataque aéreo coordenado, por terra e por ar, contra posições rebeldes na província de Hama e áreas vizinhas da província de Idlib.
Rússia aceita "coordenar" ataques
A coligação internacional contra o Estado Islâmico, liderada pelos Estados Unidos e na qual participa a Turquia, tem alertado Moscovo para os riscos das suas operações reforçaram o extremismo na Síria.

"Se há uma luta contra o Daech, façamo-la juntos", propôs ainda Davutoglu em declarações transmitidas pela estação estatal de televisão durante a inauguração de uma escola em Istambul.

A Rússia afirmou esta quarta-feira estar disposta a "coordenar" os seus ataque com os da coligação.

"O Ministério da Defesa russo respondeu aos pedidos do Pentágono e está a examinar em profundidade as propostas norte-americanas para as operações de coordenação" contra o grupo Estado Islâmico na Síria, disse Igor Konashenkov, citado pela agência oficial russa.

"No geral, estas propostas podem ser implementadas", acrescentou.

Ana Rita Freitas, Carlos Valente - RTP

Moscovo tem-se mostrado contudo indiferente aos avisos provocados pelas suas repetidas violações do espaço aéreo turco, durante o fim de semana e na segunda-feira, através de caças russos a operar na Síria em apoio ao Governo de Bashar al-Assad.

A Rússia culpou o mau tempo pelos primeiros incidentes mas na segunda-feira um MIG-29 fez pontaria a aviões de caça turcos.

A Turquia é um membro da NATO e a organização afirma não considerar acidentais estas ingerências no espaço aéreo da Turquia. O seu secretario-geral não quer contudo especular quanto aos motivos das violações do espaço aéreo.

"Que incidentes, acidentes, podem criar situações perigoasas e por isso é muito importante garantir que isto não volta a suceder. É essa a razão de enviarmos este sinal muito claro", contra a repatição dos casos, afirmou Jens Stoltenberg.

O Presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, subiu o tom e lembrou o muito que a Rússia "tem a perder se perder um amigo como a Turquia".
Ataques e violações
Terça-feira, Ancara chamou pela terceira vez o embaixador russo sobre o caso. O embaixador russo havia sido chamado sábado e segunda-feira.

Em comunicado, o Ministério turco dos Negócios Estrangeiros afirmou que Ancara está disposta a reunir com responsáveis militares russos para debater medidas de evitem a repetição das violações.
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