Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Vacina contra o ébola obtém resultados "notáveis"

por Andreia Martins - RTP
99 por cento dos casos de ébola em 2014 foram registados na África Ocidental, mas o surto chegou também a propagar-se em países como os Estados Unidos e Espanha. Susana Vera/Reuters

Uma vacina foi testada em quatro mil pessoas, na Guiné Conacri, e mostrou-se 100 por cento eficaz no combate ao vírus. Os resultados são ainda preliminares, mas deixam antever uma “mudança importante” no combate a futuros surtos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Até à data, nenhuma vacina ou prescrição médica se tinha revelado eficaz no combate a um vírus que foi identificado há 40 anos e que conheceu o maior surto durante 2014. 

Os resultados foram publicados na revista “The Lancet”, uma publicação médico-científica na Grã-Bretanha, onde os resultados obtidos são descritos como “notáveis”.
Conclusões preliminares

A vacina VSV-EBOV foi desenvolvida pela Agência de Saúde Pública canadiana em cooperação com a farmacêutica Merck. Tal como foi equacionado durante o pico do vírus, no verão de 2014, a supressão do vírus foi conseguida em laboratório pela combinação entre fragmentos do ébola e de outros vírus, que levam o sistema imunitário a conseguir criar defesas contra o ébola.

Os investigadores e oficiais da Organização Mundial de Saúde (OMS) referem em comunicado que os dados continuam a ser analisados e que ainda não há certezas quanto à total eficácia da vacinação, mas a OMS acredita que a vacina poderá ter uma taxa de sucesso no tratamento entre os 75 e os 100 por cento.

As farmacêuticas GSK e a Johnson & Johnson também se comprometeram a desenvolver vacinas, mas não têm conseguido obter resultados positivos para a erradicação da doença.

Na experimentação desenvolvida, foram acompanhados 100 casos entre abril e julho deste ano. Posteriormente, foram vacinadas 4 mil pessoas da Guiné-Conacri, próximas desses pacientes. Entre as que foram vacinadas três semanas após o diagnóstico, foi possível detetar 16 casos de propagação. Paralelamente, outros pacientes foram vacinados no imediato, onde não foi possível detetar qualquer impacto do vírus, explica o artigo publicado esta quinta-feira.


As Nações Unidas esperam conseguir eliminar o vírus do Ébola ainda este ano. O número de casos tem vindo a diminuir consideravelmente nos países com maiores focos de contágio, situados na África Ocidental. Foto: Denis Balibouse/Reuters
“Imunidade coletiva”

Não obstante a relativa incerteza quanto a este resultado inicial, familiares e amigos de pacientes que morreram ou que sofreram de ébola vão começar a ser vacinados no imediato, pelo menos na Guiné, o país onde começou o surto que matou mais de 11 mil pessoas entre dezembro de 2013 e maio de 2015.

“Com tal eficácia, todos os países afetados devem começar a vacinar e a multiplicar vacinas imediatamente, de forma a quebrar correntes de transmissão”, refere Bertrand Draguez, o médico porta-voz da investigação.

O comunicado divulgado esta quinta-feira pelas Nações Unidas esclarece que a obtenção de resultados absolutos dependerá da aplicação abrangente do tratamento, a fim de proteger populações pela “imunidade coletiva”. Nesse sentido, as entidades de saúde guineenses já aprovaram o alargamento das experiências.

A vacina não deixou quaisquer sinais de efeitos adversos nos pacientes, por isso poderá também ser facultada a crianças a partir dos seis anos.

Os Médicos Sem Fronteiras, também envolvidos nos desenvolvimentos alcançados, fazem parte de um estudo paralelo de vacinas a aplicar aos profissionais de saúde, expostos ao vírus.

Em comunicado, a OMS refere que este avanço é “extremamente promissor”. Margaret Chan, diretora-geral da organização integrada nas Nações Unidas, descreve a vacina como uma ferramenta “muito importante” para os surtos atuais e futuros.

A epidemia de ébola registada desde abril de 2013 afetou sobretudo os países da África Ocidental nomeadamente a Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria, onde o surto provocou 11.279 mortes em quase 28 mil casos de propagação.
Tópicos
pub