Vaga de fogos postos com motivação racista na Alemanha

por RTP
Confrontos em Heidenau, em 22 de Agosto Axel Schmidt , Reuters

Quase todas as noites tem ocorrido em alguma localidade alemã um crime de fogo posto, em instalações destinadas a acolher refugiados. As medidas tomadas para enfrentar a vaga de atentados mostram-se insuficientes.

As localidades de Freital e Heidenau só se tornaram conhecidas recentemente. Em Heidenau, especialmente, houve prolongados confrontos entre manifestantes racistas e a polícia, que depois suscitaram uma romaria de políticos, incluindo a própria chanceler, Angela Merkel, para repudiar o discurso abertamente xenófobo e a apologia da violência que aí se estava tornando moeda corrente.

Entre os políticos que foram a Heidenau demarcar-se da violência racista, conta-se o líder do SPD Sigmar Gabriel, que quis destacar-se pela utilização de uma linguagem forte e classificou como "corja" "Pack") os manifestantes que tinham protagonizado a arruaça. Gabriel dirigiu-se além disso aos desordeiros dizendo: "Onde quer que vos apanhemos, vamos castigar-vos e pôr-vos atrás das grades".

Logo no dia seguinte, terça feira, a resposta a essa linguagem foi uma ameaça de bomba na sede social-democrata, em Berlim, comunicada às 3h da tarde, e que obrigou a evacuar o edifício de vários pisos. Uma outra ameaça de bomba obrigava entretanto a evacuar em Berlim o Serviço Regional de Saúde e Assistência Social.

As localidades de Escheburg, Tröglitz, Meißen, Reichertshofen, Remchingen, Weissach, com o seu carácter provinciano, dizem pouco à maioria. Nelas arderam instalações destinadas aos refugiados. Mas a localidade de Nauen fica a escassas dezenas de quilómetros de Berlim e também aí sucedeu o mesmo.

Segundo um relatório do Ministério Federal do Interior, citado em Der Spiegel, registaram-se no primeiro semestre de 2015 cerca de 200 ataques contra instalações destinadas a refugiados - aproximadamente o mesmo número dos ataques de todo o ano anterior.

O presidente do sindicato da polícia, Rainer Wendt, vem reclamando desde as violências ocorridas em Dresden, em Julho, a criação de um perímetro de segurança em torno dos alojamentos dos refugiados, dizendo: "As pessoas que fogem de perseguições têm o direito a não precisarem de olhar nos olhos aqueles que as apedrejam". Mas uma complicada discussão jurídica, com invocação do direito de livre reunião e manifestação, veio complicar a aplicação destas recomendações.

Só em casos de excepcional violência, como tem sido Heidenau, se encara a adopção de tais medidas de emergência. Por outro lado, a polícia tem-se queixado de falta de efectivos para pôr em prática regras de segurança de tal envergadura - o que não a isenta das críticas por ter tomado insuficientes medidas preemptivas diante de convocatórias que, tudo indicaca, iriam degenerar em violência.

Em 71 atentados ocorridos no primeiro trimestre do ano, só foram identificados suspeitos em 16 casos. A polícia de Heidenau, por exemplo, apenas realizou uma detenção durante os graves incidentes que aí ocorreram. E não fez uso da oferta de reforços que lhe fora comunicada pelo poder central.


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