Vice-ministro da Bolívia sequestrado e assassinado por mineiros

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Fotografia de Rodolfo Illanes cedida pela Presidência da Bolívia à Reuters

A informação foi avançada pelo Governo boliviano. O ministro do Interior da Bolívia revelou que todas as indicações apontam para que Rodolfo Illanes foi “assassinado cobarde e brutalmente” por mineiros, depois de ter sido sequestrado.

Carlos Romero, ministro do Interior, estava visivelmente consternado numa declaração aos jornalistas, no Palácio do Governo. “Nesta altura, todas as indicações apontam no sentido de que o nosso vice-ministro Rodolfo Illanes foi assassinado cobarde e brutalmente. (…) Estamos a levar todas as diligências necessárias para que nos entreguem o corpo de dr. Illanes”.

O ministro revelou que Illanes se tinha deslocado até Panduro, a zona a 160 quilómetros da capital La Paz, onde os mineiros em protesto tinham bloqueado uma autoestrada há três dias. O vice-ministro pretendia mediar o conflito.

Terá sido intercetado e sequestrado na manhã de quinta-feira. Enquanto estava detido, Illanes disse a uma rádio da Bolívia que a condição para ser libertado era que o Governo negociasse com os mineiros sobre nova legislação, aquela que era a reivindicação por trás dos protestos.

De acordo com o diário espanhol El Pais, Illanes terá sido espancado pelos mineiros até à morte, no seguimento de graves confrontos entre manifestantes e a polícia, em que morreu um mineiro de 26 anos, Rubén Aparaya, aparentemente vítima de um disparo. Ao mesmo tempo, outro “cooperativista” morreu também em Cochabamba, também num confronto com a polícia. O Governo diz que 17 polícias ficaram feridos.

O assistente de Illanes conseguiu escapar. Freddy Bobarín conseguiu chegar junto à polícia, apesar de estar muito golpeado. Informou que a situação durante o sequestro tinha sido tensa, mas não violenta, até que os mineiros souberam da morte do seu companheiro Aparaya e, furiosos, rodearam os funcionários detidos. Alguém terá lançado uma pedra e terá começado o linchamento, descreve El Pais.

Os mineiros dizem que não são ouvidos e que está na hora de pôr o Governo "na ordem". As autoridades condenam o ato que classificam de criminoso, cobarde e sem precedentes.
“Crime não ficará impune”
O ministro da Defesa, Reymi Ferreira, declarou na televisão que o vice-ministro tinha sido alegadamente espancado e torturado até à morte. “Este crime não ficará impune. As autoridades estão a investigar e cerca de uma centena de pessoas já foi detida”, realçou o governante, citado pela Reuters.

O sequestro não é inédito nas lutas sindicais bolivianas. No entanto, é a primeira vez desde os anos 40 que um ato assim resulta na morte da autoridade sequestrada.



Os protestos dos mineiros ganharam contornos mais violentos esta semana, depois de a autoestrada ter sido bloqueada desde terça-feira. Em causa a luta contra legislação sobre o setor mineiro.

A Federação Nacional das Cooperativas Mineiras da Bolívia encetaram o que chamaram de protesto por tempo indeterminado, depois de as negociações terem falhado.



Os manifestantes estão contra a lei recentemente aprovada que limita o funcionamento das “cooperativas”, a forma como os trabalhadores estão organizados na Bolívia.

Exigem ainda mais concessões mineiras, o direito de trabalhar para companhias privadas e maior representação sindical, refere a Reuters.
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