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Menos emoções e mais soluções

O PSD era chefe no governo mas passou a subchefe na oposição. É ao CDS que cabe agora a iniciativa política e o discurso mais suave e moderado, mas firme, na luta política contra o governo.

Os social-democratas ficaram enredados em sentimentos negativos e não conseguiram dar um passo em frente, a fazerem lembrar as relações que acabam em divórcio com uma das partes a ficar ressentida para sempre. Ao dizer no Parlamento que se pretende "dar um aspecto de normalidade a uma situação que nada tem de normal", Paula Teixeira da Cruz deu vários passos atrás depois de o partido ter tentado dar vários passos em frente, voltou ao discurso da falta de legitimidade de um governo em plenitude de funções e ficou isolada na palavra e na forma de combater as políticas deste executivo. O Presidente da República quer apaziguamento e lembra que são necessários pactos e entendimentos em torno das grandes questões que o país enfrenta. Desafios enormes que exigem diálogo e consenso e que, no entender do Presidente, "não impedem o estimulante pluralismo político" mas não devem bloquear os necessários e desejáveis "consensos sectoriais de regime". Ou seja, discordem mas entendam-se e sobretudo não se agridam publicamente de forma verbal.

O PSD devia ouvir Marcelo quando o Presidente diz que "o tempo não muda convicções mas pode alterar ou condicionar soluções" e lembra que é sempre possível conciliar uma oposição mais moderada com uma contestação firme nas questões onde o partido de Pedro Passos Coelho entender que não há margem para cedências. Mas ceder não é um pedido para desistir. Poderá ser negociar de forma dura, mas não pode ser ameaçar de forma inconsequente e despeitada. Ao alinhar por um discurso onde há expressões que acusam a esquerda de ter práticas com "odor ao salazarismo mais bafiento", o PSD entra numa radicalização que lhe é pouco habitual e até estranha ao seu eleitorado mais centrista e coloca-se precisamente na bitola discursiva quezilenta e às vezes até ofensiva que PCP e Bloco de Esquerda tinham antes de entrarem para a solução governativa e que foram abandonando aos poucos em nome de um desígnio de poder. Com estas palavras o PSD não se afasta apenas do executivo e do Presidente da República, afasta-se também dos portugueses, os tais que sufragaram a legitimidade reforçada que o Presidente tem e que fez questão de lembrar, com um mandato "mais longo e mais sufragado do que os mandatos partidários". O Presidente que tem um discurso em português suave e que não quer guerras no quintal da política portuguesa.

O que os portugueses esperam, questões partidárias à parte, é que todas as forças políticas sejam capazes de se entender em questões cruciais para a vida de todos nós, como são os casos da reforma da Segurança Social, da Justiça e do Serviço Nacional de Saúde, que sejam capazes de encontrar soluções para a estabilidade do sistema financeiro, nuvem negra que ameaça tudo e todos e que pode deitar anos e anos de sacrifícios para o lixo, e que saibam garantir a vitalização do sistema político para que as pessoas se sintam mais próximas dos que elegem. Mas o discurso de Marcelo encerra também recados fortes ao governo e aos parceiros do acordo de governação. Ou sabem encontrar o caminho da estabilidade política que garanta estabilidade económica e social, ou o povo - "que é a verdadeira origem do poder" - poderá zangar-se, e Marcelo já deu mostras suficientes de que seguirá a vontade que for maioritária, mesmo que tenha de ir contra todos os partidos. E se as pessoas se zangarem com o governo Marcelo vai zangar-se também. E tudo poderá acontecer.

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