Um pouco de batom, por favor!

As mulheres estão a confiar mais nelas próprias, e isto não é novidade; parecem também confiar mais nas mulheres que emprestam a vida à política. Dizer isto não representa leviandade ou sequer um comentário machista, é apenas o relato de conversas, desabafos e promessas que ouvi de eleitoras durante as voltas das duas últimas campanhas eleitorais.

Os resultados dos sufrágios confirmaram estes episódios em cenários como escolas, feiras ou nas ruas das nossas cidades.

O Bloco de Esquerda cresceu como nunca nas legislativas. Marisa Matias, apoiada pelo partido, foi a terceira mais votada nas presidenciais, com uma percentagem que surpreendeu a própria.

Mas quem seguia os passos da campanha, suspeitava, como eu, que as mulheres simpatizam com Catarina Martins e Marisa Matias. O apelo direto ao eleitorado feminino deu frutos.

Eis alguns exemplos, que registei na memória e no meu caderno de notas: Elvira, 44 anos mãe de dois filhos, separada. Alimenta veste e educa os filhos com pouco mais de quinhentos euros mensais. Conheci-a na feira de Espinho.

Arminda é professora, solteira e boa rapariga, diz ela, sob vigilância atenta dos alunos do secundário a quem ensina inglês. Farta de andar com a casa às costas, tem constantemente de adiar o sonho de casar e ter filhos, quer estabilidade na carreira e um pouso fixo.

Susana estuda psicologia em Aveiro, é natural de Vinhais, se a vida avançar como previsto, e não lhe pregar partidas, será a primeira da família a concluir o ensino superior.

O que têm em comum? Prometeram votar em Catarina Martins e Marisa Matias. Porquê? Ouvi eu, porque são mulheres, mas apesar de não saberem identificar a raiz ideológica que alimenta o Bloco de Esquerda, entendem a força que Catarina e Marisa conseguem transmitir a mulheres como elas.

Precisam de respeito, querem mudança. Sofreram nas mãos de companheiros, maridos e namorados. Catarina e Marisa perceberam que há mulheres assim para quem elas representam um sinal de esperança.

Falta provar se nos palcos da democracia, dentro e fora de portas, Catarina e Marisa não desiludem quem põe um pouco de batom para disfarçar mágoas, e enfrentar o futuro com mais confiança.

Resta-me a dúvida; será que Elvira, Arminda e Susana descortinam o futuro que procuram no Orçamento do Estado que aí está?

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