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Bandeiras independentistas: provocação ou liberdade de expressão?

“É proibido proibir! ”. A frase andou de boca em boca no maio de 68, vagueou pelos ideais de milhares de jovens que, conduzidos por Daniel Cohn-Bendit, exigiam mudanças, o direito a ser ouvidos, a expressar-se, a pedir o impossível. Quase 50 anos depois, neste maio de 2016, ainda há quem acredite que pode proibir a liberdade de expressão, o direito a pensar de forma diferente, a revelar-se como o coração pede e a imaginação, sem limites, exige. “Parem o mundo, quero descer”, os sonhadores daquele Maio quente francês não serviram apenas para as mulheres poderem usar mini-saia e os amantes se beijarem nas ruas!

Nem uma bandeira independentista na final da “Copa del Rey”. A 4 dias do Barcelona – Sevilha, no Estádio Vicente Calderón, em Madrid, um Governo em funções, o de Mariano Rajoy, anunciou que não vai permitir, no recinto desportivo, qualquer bandeira “estelada”, assim é designada a bandeira, não oficial, dos independentistas catalães. Nem bandeiras, nem qualquer outro símbolo que não respeite a constituição espanhola, assegura.

A decisão de “proibir o que deveria ser proibido proibir”, dizem agora os catalães, foi tomada numa reunião que sentou à mesma mesa, Governo, Polícia Nacional e Municipal, Casa Real, a Federação Espanhola de Futebol e do Barça. Não se sabe se houve unanimidade, o Executivo justifica-se com a Lei do Desporto: “todos os símbolos que, pelo conteúdo ou pelas circunstâncias em que são exibidos, fomentem ou potenciem comportamentos violentos ou terroristas, ou constituam um ato de manifesto desprezo pelos participantes no espetáculo desportivo” devem ser proibidos.

Tendo em conta que a final da Taça do Rei, o Sevilha-Barcelona, é de alto risco e que Espanha mantem, há quase um ano, o segundo nível mais alto de alerta terrorista, a decisão pode, acima de outros objetivos, reacender rastilhos, acicatar rivalidades, estimular provocações que, até agora, poderiam estar adormecidas, abafadas pelo vício inebriante de assistir e vibrar com um bom jogo de futebol. Os adeptos vão ter de chegar mais cedo e passar por duas barreiras de segurança, principalmente os apoiantes do Barcelona… e é logo aqui que podem começar os problemas. As mais de 50 mil pessoas, que deverão esgotar o Vicente Calderón, vão ser suspeitos de incitamento à violência,

potenciais ameaças, por levarem bandeiras independentistas ou entoarem cânticos a favor de uma República Catalã. Só não sabemos, de que forma 2500 polícias, seguranças contratados pela Federação de Futebol, bombeiros, médicos e elementos da proteção civil vão travar gargantas, gritos efusivos, apupos e coros ordenados a exigirem a Independência.

O FC Barcelona já repudiou a decisão. Em comunicado considera que “é um atentado à liberdade de expressão, um direito fundamental de todos os indivíduos a expressarem ideias e opiniões de forma livre e sem censura”. O clube catalão assegura que “os sócios e apoiantes sempre revelaram um alto nível de civismo e respeito” e acusa o Governo de não contribuir para um bom ambiente numa celebração como a Taça do Rei.

O Presidente do Governo Regional da Catalunha já disse que não vai assistir ao jogo. Carles Puigdemont fala “num atentado grave” à liberdade de expressão. Nas redes sociais somam-se dezenas, centenas de comentários, confrontos de opiniões, discussões acesas, insultuosas, desde que o Governo de Espanha fez o anúncio pela “paz desportiva”. No ano passado, O Barcelona teve de pagar uma multa de 30 mil euros à UEFA pela presença massiva de bandeiras e cânticos, a favor da independência, na final da Taça dos Campeões, em Berlim, frente à Juventus. Este ano, com o que muitos já designam como uma provocação sem precedentes, a multa poderá ter outros custos, humanos, bem mais elevados.

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