Se uma notícia vos dissesse que “uma exposição sobre a Materialidade e Metamorfose levou centenas de pessoas a sair de casa para fazer fila à entrada de Serralves”… achavam natural?

Este domingo, a notícia da RTP começava assim: "Foi uma enchente em Serralves... Centenas de pessoas aproveitarem a entrada gratuita para ver a exposição de Miró. A RTP encontrou lá o neto do artista catalão... que estava surpreendido com algumas obras".

E a peça revelou a multidão, que decididamente não se cumpria só com uma “elitista gente da cultura”, de catálogo ou estirpe selecionada, com admiradores de Miró desde pequeninos, com frequentadores diários de Serralves.

Sinceramente, a notícia fez-me viajar imediatamente dos méritos da Cultura para o da Comunicação.

Para mim, este caso fez prova provadinha que a Comunicação Social, por mais que se boicote diariamente, ainda consegue ser relevante para as pessoas. E deve aprender consigo, nestes momentos, para escolher mesmo o seu “para onde vamos”.

Foi uma novela mediática, esta dos Mirós. Em que os guionistas escreveram capítulos temáticos: o tema foi tratado - esmiuçado, quase estafado, em conjunto e à vez - na media pelas editorias de Política, Economia, Crime, Cultura. Indiferenciadamente no jornal popularucho, elitista, intermédio. Na TV pública e privada, rádio igualmente.

E o nome Miró andou diariamente nas bocas do nosso mundo, dos debates ao café da esquina, onde o povo, todos os dias, define em debates informais o que, efetivamente, considera ser notícia do dia.

Se juntarmos a tudo isso o espírito, bem semeado e regado, do sentimento de posse de “tudo o que é portuense merece tudo de cada portuense”, chegamos a uma exposição sobre Materialidade e Metamorfose… e desfrutamos - cada vez mais todos – daquela genialidade com que Miró sempre me obrigava a estacar nas visitas ao Reina Sofia. E lá terei fila, espero, mal possa ir a Serralves.

Não é que não goste de ir a Madrid. Mas gosto MUITO mais – destino, amor e orçamento convergem no meu gosto, como no tratamento editorial deste fenómeno - de ir ao Porto.

Seria crime não ir.

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